11. PRECISO MESMO?

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Kara zorel

Ainda estou admirando meu reflexo no espelho retrovisor quando ouço o toque do meu celular e acabo pulando de susto.

Tento abrir o zíper da bolsa, mas minhas unhas estão molhadas e tenho que decidir entre mantê- las ou atender quem quer que seja.

— Deixa que eu faço isso, paguei uma fortuna para você parecer apresentável. - E assim, com a delicadeza de um elefante, lena pega o celular em minha bolsa e desliza o dedo pela tela, o aproximando do meu ouvido.

— Onde você está, Kara ? — A voz estridente, e claramente em pânico da minha mãe, se faz audível no carro.

— Hã... -

— Diz alguma coisa — lena sibila de um jeito impaciente.

— Estou na biblioteca, fazendo aquele trabalho com minha  colega. Eu te falei antes de sair, mãe. -

— Já são duas da tarde, Kara . Você saiu de casa as nove da manhã e sequer me deu notícias. Pensei que tivesse acontecido alguma coisa. - Engulo em seco, completamente nervosa. Minha mãe é bem inteligente para saber que um trabalho não demora tanto assim e eu não posso dizer a ela que me vendi ao capitalismo e agora estou ficando gata para fraudar um concurso.

— Desculpa, mamãe. Eu me encontrei com algumas amigas também e como faz tempo que não saio para me divertir, resolvi aproveitar. Acho até que irei direto para a faculdade hoje. Sinto muito por ter ficado preocupada.

— Tudo bem, kara . Eu fico muito feliz de ver que você está retomando sua vida. Qualquer coisa me ligue, querida.-
Encerro a ligação me sentindo bem culpada por mentir. Será que em algum momento serei sufocada por minha teia de mentiras?

— Qual é o próximo passo? — pergunto a lena enquanto continuo encarando a tela desligada do meu celular.

— Quero que reative suas redes sociais. - Devagar olho para ela, sentindo como se meu sangue congelasse nas veias.

— Eu não vou fazer isso — digo tão baixo que penso que ela não é capaz de ouvir.

— Assinamos um contrato, kara . Você tem que voltar para a internet para isso dar certo. -

— Posso criar novos perfis e... -

— Você é famosa. Precisamos dos seus seguidores também.

— Eles me odeiam. -  lena arregala os olhos e passa a mão nos cabelos, parecendo prestes a explodir. Posso dizer isso pela maneira como suas bochechas estão coradas e ela está crispando os lábios.

— Como é que é? — A pergunta é feita em um tom de voz baixo e ácido.

— Eu acabei com a minha carreira — digo entredentes.

Lena respira fundo e então estica os braços, me segurando pelos ombros.

— O que você está dizendo, sua maluca? - Sabe aquela sensação de estar sempre vivendo no limite, como se o copo já estivesse cheio e apenas uma gota fosse o suficiente para tudo transbordar?

É dessa forma que me sinto com o olhar de lena  em mim e suas palavras pairando no espaço pequeno do carro.

Eu sou maluca? Na maior parte do tempo fico pensando que sim, na outra parte que resta, fico temendo que logo eu me torne.

Agora se eu somar todas as questões que ficam diariamente pipocando em minha cabeça com as outras que me levaram ao limite, sinto como se fosse uma fraude completa.

Ignorando lena, afasto seus braços de meus ombros e pego meu celular na bolsa, ignorando as unhas recém-pintadas e desbloqueando a tela e achando o contato da minha melhor amiga.

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