Soraya. - I

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–SORAYA, ACORDA!– A voz alta, seguido de diversos tapas em meu braço me fez abrir os olhos com dificuldade e obter uma visão turva do lugar onde eu estava.
– Hãn? O que houve? – Levei a destra até minha testa em uma tentativa falha de fazer o ambiente parar de rodar.
–Álcool, amiga, álcool!!– Disse minha amiga, enquanto puxava meu braço para longe do balcão onde estávamos deitadas.
– Para de gritar, Déborah, minha cabeça dói.– Cambaleei para fora do pub e finalmente consegui respirar fundo.
– Consequência das suas péssimas escolhas.– Cruzou seu braço com o meu para que conseguíssemos equilibrar uma a outra.
–Minhas? Foi você que falou "Vamos, amiga, para de ser chata! As aulas voltam amanhã, só temos hoje para aproveitar e..."– O álcool deu espaço para a consciência voltar e me fez perceber o que eu tinha acabado de falar. – AS AULAS RETORNAM HOJE!– Gritei e passei a acelerar meus passos diretamente para o nosso apartamento, arrastando a outra comigo, esta que não parava de rir do meu leve surto.

Adentramos nosso quarto e enquanto Déborah se jogava em sua cama macia, fiz questão de correr para o banho, a fim de estar apresentável para o primeiro dia de volta às aulas. Embora minha amiga fizesse existir em mim uma Soraya jovem, tinha consciência da minha idade e das minhas responsabilidades e objetivos de vida, a faculdade ainda era minha prioridade, depois de muito estudar consegui entrar na faculdade que eu queria, no curso que sempre sonhei e ainda dividir essa vida com os meus melhores amigos de infância, tudo pelo meu próprio esforço, não podia desmerecer isso.

– Por favor, vai tomar um banho, não quer reencontrar as pessoas desse jeito, né? – Disse jogando um travesseiro certeiro na cara dela que levantou assustada.
– Acho que ainda estou bêbada. – Reclamou manhosa, abrindo os braços na cama como quem não estava disposta a levantar.
– VOCÊ ME PROMETEU! Disse que se eu saísse com você, ia se dedicar mais nos estudos comigo e isso inclui não faltar no primeiro dia. – Praticamente gritei, enquanto jogava algumas roupas do armário em cima da cama, buscando por algo adequado para vestir.
– Ok, mãe! Já estou levantando.– Ela disse juntamente com um revirar de olhos, seguiu até o banheiro e só voltou tempo depois, já vestida e cheirosa, nem parecia que estava com uma ressaca infernal.
– Eu espero que tenha muito homem bonito andando por esse corredor hoje ou eu sou capaz de te matar. – Ela ajeitou o óculos escuro no rosto e apanhou os materiais que estavam jogados na mesa da pequena cozinha que tínhamos ali, depois saiu murmurando na minha frente. Acabei rindo de seu comportamento.
– Você não tem jeito, D. – Levei a mão até a maçaneta da porta e choquei meu corpo com um outro que estava ali parado.
–Realmente, ela não tem jeito.– Disse César, meu namorado e o terceiro participante do nosso trio.
– Ah, Carlos César, meu querido! Que saudade de você. – Déborah apertou as bochechas dele com força e deixou um selinho demorado em sua boca, depois virou de costas para ele e de frente para mim, fazendo sinal de vômito com o indicador, pouco antes de sair andando pelo corredor a frente. Eu adorava o misto de amor e ódio que existia ali. Por sorte o apartamento ficava em um prédio de frente para a universidade, facilitou para evitar atrasos.
–Qualquer dia vou perder meu namorado para você, tenho quase certeza.– Retirei os materiais de seu braço antes que ela deixasse cair e nos atrasasse ainda mais.
– Qual é, não entendo nem como você ainda namora ele, sendo sincera. Além de que selinho eu daria no meu cachorro, se eu tivesse um.– Sussurrou pertinho do meu ouvido e deu de ombros, abaixou um pouco o óculos no nariz para observar melhor as pessoas que iam passando por nós no imenso corredor assim que chegamos.

Me fez parar e olhar ao redor também, muitas pessoas eu já conhecia, outras eu nunca tinha visto o rosto antes, não sabia dizer se estudavam ali e eu nunca reparei ou se realmente eram alunos novos de outros cursos que se iniciavam naquele dia. Era bom poder observar bem toda aquela correria outra vez, não só porque era estudante de direito e o que mais fazemos é ter atenção, mas também porque voltar a rotina me fazia muito bem. Assim que chegamos em frente a nossa sala, poucos passos de distância estava Janja, a professora que ia ministrar nossa aula naquele horário e ao lado dela uma mulher que nunca tinha visto antes. Só não pude deixar de reparar como aquela mulher era absurdamente bonita, tinha belos cabelos escuros na altura dos ombros, vestia uma saia tubinho preta e uma camisa branca, nos pés um salto que definia ainda mais sua panturrilha bem desenhada.

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