Assimilar

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Helen

    Fome, sede, medo e dor, dor nos pés e dor na cabeça, é tudo que que sinto nesse momento, estou andando para rumo nenhum só tentado sobreviver, sinto que posso ser morta a qualquer momento e para isso há três possibilidades, ou morrerei na mão de quem estou sendo perseguida, ou por algum animal que sair da mata e me encontrar na beira de estrada ou por um psicopata que me achar aqui sozinha á essa hora, aliás hora essa que eu se quer tenho noção de qual seja? Estou cansada de mais si quer para raciocínio

     Ando mais alguns minutos, já faz algum tempo que não passa um carro por aqui, aliás não tenho noção de onde estou, faz 4 dias que estou rodando o país, indo o mais longe possível de São Paulo, nesses 4 dias tive sorte de achar 3 caronas, o primeiro com um casal legal, viajamos por quase dois dias, o segundo com uma professora que acredita no amor, gostei muito da Marta, a terceira com uma senhorinha muito louca e desbocada? ao contrário do seu Neto, silêncio e com cara de psicopata, que após insistir em ficar comigo, quase a força, me pós para fora do seu carro quando eu neguei, isso enquanto sua vó saiu do carro para comprar comida, ele era nojento, quando ela voltou ele mentiu e disse que eu o tinha roubado e ela claro acreditou nele, mas eu preferi isso a beijar aquele homem imbecil, escroto e nojento.

    Olho para o céu e peço a Deus um milagre, sei que nunca fui temente, nem se quer sua melhor criação, mas espero que ele tenha piedade de mim, afinal já estou no inferno, até mesmo o milagre de uma chuva aplacaria minha sede agora, estou exausta tenho que parar e descansar muito cansada, muito sono, já esfreguei os olhos milhares de vezes, agora o fecho mais uma vez? respiro fundo, será que em algum momento esse caus que é a minha vida irá melhora, por que se não for já posso ir para o céu, meus pecados todos já foram pagos, ainda de olhos fechados há uma percepção de claridade e assim que abro os olhos o clarão está mais intenso e eu não tenho forças para reagir, espero que seja Deus que veio me buscar pessoalmente, Droga! esse som da morte, escuto os pneus cantar no chão e uma tentativa de freio, mas foi tarde de mais, sinto minhas pernas sendo atingidas e eu caiu, essa é a última sensação que tenho.

     Antes de encerrar vida aqui seja melhor eu contar minha história nada privilegiada e talvez só um pouco feliz. Nasci e fui criança em uma comunidade chamada Brasilândia na zona norte de São Paulo, eu vi de tudo por lá e pouco pude fazer, mas vamos começar do começo, um pleonasmo. Meu nome é Helen, minha mãe Mariele concebeu eu e meu irmão gêmeo Heitor em Brasilândia, nunca conhecemos o nosso pai, seu nome nunca esteve em nossa certidão de nascimento, assim como do nosso avô, talvez tradição de família, já que a crianção de minha mãe não foi diferente, se eu disser que nunca fez falta uma figura paterna eu mentiria? por isso cada idiota que namorou minha mãe na minha infância eu chamava de pai, mas nenhum nunca teve futuro e eu desisti.

     Eu fui uma criança imaginativa e feliz, não posso reclamar dessa fase da minha vida, nunca notava a maldade, a descriminalização, a miséria e as mortes que o local trazia, conforme eu crescia eu perdi amigos? um grupo que eram de 12 crianças só restar três quando atingi meus 15 anos, o crime e o preconceito levaram meus amigos, sobrevivemos eu, meu irmão Heitor e Lorena minha melhor amiga.

     Minha mãe morreu quando eu tinha 24 anos de covid-19 há alguns atrás e isso meio que me desestruturou, passei a assumir seu papéis de mãe com meu irmão, eu já estava formada em enfermagem, estava em busca de um emprego para tirar meu irmão e minha mãe da favela, mas a pandemia acabou com meus planos e para piorar, além de perder minha mãe, meu namorado foi embora sem olhar para trás um mês depois e eu tive que ser forte mais uma vez, tudo que tinha me restado era Heitor e Lorena, eles eram um casal desde a nossa adolescência, muito lindo a forma que compartilhavam tudo, éramos os três mosqueteiros, sempre juntos, pensar neles doem muito, preciso sobreviver ou talvez não, não tenho mais nada nem ninguém em minha vida, se eu desaparecer hoje mesmo não farei falta a ninguém, além de morrer como uma indigente, uma vez que só trago comigo uma garrafa velha de água vazia.

      Contada parcialmente minha história, voltamos ao que me trouxe até essa beira de estrada é puramente por que estou sendo procurada e não é pela polícia, é muito pior aliás, quem me persegue é o maior traficante de São Paulo, digamos que eu não consegui impedir meu irmão com seu plano burro de roubar um traficante e pior colocou tudo em uma conta em meu nome, em uma conta bancária, não faço ideia o que ele e Lorena roubaram e quanto tem nessa conta, mas acho que é muito dinheiro, já que minha cabeça está valendo 10 mil nesse momento, esse anúncio foi feito em toda São Paulo, nas favelas, não tive como planejar uma fuga, foi muito rápido ele matou meu irmão e Lorena e mesmo escondida vendo e escutando ele por um preço em minha cabeça, tive que sair do estado de choque e correr o mais longe possível, sem nada além da roupa do corpo, sem poder me defender ou confiar em alguém, final dinheiro compra pessoas e infelizmente aprendi isso muito cedo.

     Há uma fato que ainda me deixa eu me sentindo estranha? eu ainda não consegui sentir o luto, não consegui chorar, só penso em qual seria o próximo passo, a próxima carona, a próxima refeição, eu estou sendo uma idiota egoísta do caralho, eu os amava e não consigo chorar, isso tem me incomodado muito, talvez eu devesse estar morta também, a morte deve ser até melhor ou pelo menos mais fácil, o que me leva a de volta a esse momento, deitada no asfalto, com uma consciência relembrando todos esses fatos como se fosse meu ultimo suspiro antes de enfim descansar, talvez esse carro tire minha vida e eu possa os encontrá-los.

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