33. É assim que a banda toca

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A música sempre esteve inserida diretamente na minha vida.

Por mais que eu negasse a existência dela, eu havia nascido em uma família de músicos – meu pai, um compositor fracassado, e minha mãe, uma admiradora do seu trabalho –, e como consequência, acabei crescendo rodeado pela música.

Após ser expulso da banda, Namkyung permaneceu compondo por um bom tempo, então ele tinha uma boa coleção de violões, uma guitarra velha e baquetas de bateria guardadas no seu estúdio improvisado, no quartinho dos fundos de casa, onde jogamos as tralhas e só quem lembra da existência desse cômodo eram as nossas sombras do passado.

Quando tudo de bom no mundo de Namkyung se desmoronou, a minha mãe, por estar extremamente apaixonada por ele, acabou deixando o seu mundo decair também. Byeol, a mulher que escutava música todo dia, e recebia serenatas e declarações amorosas por meio de composições de meia-noite, sucumbiu para a vida adulta e enterrou toda a sua juventude dentro da sua coleção particular de discos de rock, onde os guardou no quartinho dos fundos também, carregando silenciosamente toda uma dor no coração e o peso de um filho pequeno para criar.

Esse filho, que foi brutalmente iludido com a possibilidade frágil de realizar um sonho através da música que seus pais tanto ansiavam um dia viver para sempre.

Eles eram os principais apoiadores do meu talento natural. A primeira vez que eu segurei em um violão, eu nem sabia que estava vivo, tendo apenas um ano de vida, brincando com as cordas alinhadas e babando em cima do instrumento atirado no chão da sala.

Eu estava aprendendo a engatinhar e me deparei com o objeto que mudaria a minha vida, sem que eu pedisse por aquilo, simplesmente porque era o meu destino.

Eu nunca poderia escapar de viver pela música.

Meus pais ficaram loucos quando me viram brincar com o violão, e logo eles assumiram que esse era o meu objetivo no mundo. Namkyung me ensinou a tocar o instrumento, mesmo a contragosto, e minha mãe voltou a cantarolar com mais frequência.

Byeol tem uma voz linda, e eu sempre quis saber se ela já se candidatou para vocalista principal na ex-banda de Namkyung – uma curiosidade que eu achava romântica, no fundo, porque imagine estar cantando para milhares de pessoas uma canção que foi inspirada em você!

Para os meus pais, eu era a prova de que a música jamais iria desaparecer de suas vidas, e isso tomou sérias consequências, porque assim como a música tinha o seu lado positivo, ela também carregava o seu lado negativo.

A surra que eu levei do meu pai no natal foi a maior e mais triste consequência de todas.

Mesmo assim, minha mãe nunca desistiu de me ver um dia voltar ao meu objetivo de vida, que era cantar e tocar canções maravilhosas para inspirar outras pessoas ao redor do mundo. Ela diz que eu sempre tive a aparência de um astro do rock, um cantor que encantaria e mudaria o mundo, somente utilizando a minha voz atraente e a minha pose elegante. E eu apreciei os seus elogios o suficiente para concordar que, sim, eu tinha jeito para a coisa, mas no fundo, nunca levei a sério o bastante para carregar dentro de mim a possibilidade de trabalhar com música um dia.

Agora, eu me sentia um pouco arrependido por não ter escutado muito a minha mãe quando ela me elogiava.

Ao me despedir dela, segurando uma mochila como bagagem em uma mão e o celular na outra, mandando uma mensagem antes de sair para Soobin, avisando que logo mais eu chegaria na sua casa para irmos viajar para Seoul, minha mãe segurou nos meus ombros, me obrigando a olhá-la diretamente nos olhos parecidos com os meus, e neles, eu enxerguei todas as frases que ela já tinha me dito quando criança, quando eu segurava o violão do meu pai e cantarolava uma cantiga de ninar conhecida para eles.

É Assim Que a Banda TocaWhere stories live. Discover now