21. É assim que se derruba um muro

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Eu me lembro muito bem da primeira vez que levei uma surra.

Precisei usar gesso durante um mês, porque quase havia perdido o meu braço esquerdo, de tão torcido que o osso do cotovelo ficou. Levei um ponto no topo da cabeça medindo cinco centímetros. E também, quase tive o risco de perder um dente.

No ano em que isso aconteceu, eu era só um rapazinho de treze anos, invocado, que achava que sabia de tudo e escutava somente as próprias vozes da sua cabeça. Não queria obedecer ninguém, literalmente fingia que não tinha um pai paraplégico dentro de casa – o que magoava a sua mãe –, e zoava com os alunos mais novos do Fundamental porque se sentia desesperado por não saber como lidar com os seus próprios problemas pessoais.

Nesse garoto, a voz está mudando, questionamentos sobre a sua sexualidade estão surgindo, o seu pai está teimando contra o início de um possível tratamento, e ainda há uma ferida extremamente aberta acerca de uma antiga amizade. Se envolver em uma briga seria apenas mais uma experiência dentro das várias confusões que a sua vida estava lidando, o que era uma probabilidade extremamente alta de acontecer, de acordo com o seu comportamento esperado para a época.

O que tornava tudo absurdo, era o motivo daquela briga ter acontecido.

Eu fiz tudo por amor.

Yang Jeongin era um garoto extremamente adorável, de olhos tão pequeninhos que mal dava para enxergar as orbes, mas que encantadoramente contrastavam com o seu sorriso de aparelho dental transparente e as suas covinhas charmosas.

Ele gostava de dias ensolarados e de segurar na minha mão. Gostava de me elogiar no pé do ouvido e conversar sobre Star Wars. Desde criança, eu sempre fui uma pessoa muito falante, mas eu me prestava a calar a boca só para poder escutar Jeongin falar sobre as aventuras de Han Solo e como o personagem o inspirou a querer ser um astronauta quando crescesse, para viajar pela galáxia inteira e proteger o planeta Terra, assim como o seu herói favorito.

Naquela época, para mim, Jeongin havia se tornado o centro do meu universo inteiro.

Tudo ao meu redor girava em torno dele. Mesmo sendo um acontecimento ruim, tudo acabava melhorando assim que eu me recordava dele, e corria na direção dos seus braços, o pedindo por aconchego. E ele retribuía com tanta vontade que me fazia cair de amores mais ainda, transformando a minha mente em uma máquina de memórias boas e sonhos românticos, esses que eu planejava viver com ele pelo resto da minha vida.

Sendo o garoto gentil e bonito que ele era, lógico que eu só me destacava como um privilegiado perante a sua existência. Ao redor do globo, Jeongin não me tinha como um único pretendente, e nem como uma boa companhia.

Nós nos conhecemos na escola, sendo de turmas separadas, mas nos encontrávamos no recreio e na saída, pois ele pegava o mesmo ônibus que Taehyun e eu usávamos para ir para casa. Ele era como um companheiro a mais na nossa dupla dinâmica, sempre observando e comentando algo, apreciando o favor de termos o "adotado" como nosso companheiro de viagem, apesar da sua estadia temporária.

Jeongin havia se mudado para Tongyeong por causa do emprego de fotógrafos que os seus pais tinham, e somente ficaria na cidade por aproximadamente dois anos, quando os seus pais finalmente terminassem uma coleção de fotos para a sua próxima exposição em Busan. Jeongin tinha prazo de validade para permanecer ao nosso lado, e mesmo assim, nós decidimos acolher ele, sem nos importar se ele acabaria deixando uma saudade imensa mais tarde quando fosse embora.

Não sei como posso categorizar o tipo de amizade que existiu entre Taehyun e Jeongin, mas eu sei que, comigo, foi questão de segundos para ficarmos próximos um do outro.

Jeongin e eu tínhamos uma química natural, baseada em um jogo de trocas justas: eu deixava ele segurar a minha mão na hora que ele quisesse, enquanto ele me dava um pedaço do bolo que a sua mãe fazia para as terças-do-lanche da escola. A mãe dele fazia os melhores bolos que eu já comi, e era impossível negar um pedaço e não querer ficar pedindo mais.

É Assim Que a Banda TocaWhere stories live. Discover now