6. É assim que se aceita um erro

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Eu nunca fui muito bom em lidar com as consequências.

Desde os momentos mais constrangedores aos mais emocionantes da minha vida, eu sempre soube lidar muito bem com a situação, caminhando de acordo como meus passos mandavam. A adaptação sempre foi o meu forte, principalmente quando a situação exigia uma reação imediata, e através de escolhas rápidas eu podia decidir onde eu me veria mais facilmente, e como transformar aquilo num cenário menos complicado de se viver.

Mas o que ninguém te conta quando você deixa o barco te guiar, é que as ondas são imprevisíveis, e essa imprevisibilidade é o que as torna tão perigosas.

Por isso eu sempre acabava me dando mal, em oitenta por cento das vezes. Tudo acontecia da forma como tinha que acontecer, e lidar com essas responsabilidades não exige a mesma indisciplina que uma decisão tomada de imediato. Aceitar uma responsabilidade é considerar que isso faz parte de você agora, e para mim, que vivia evitando assuntos ruins ou pesados demais, não havia armazenamento o suficiente para experiências desse tipo.

Foi assim que as pessoas começaram a me ver como um garoto imaturo – e eu pouco dava caso, porque eu gosto de ser visto como um refugiado da seriedade. Todos os adultos sempre me repetiam o dobro do que foi avisado, os meus colegas precisavam me tratar com cordialidade o suficiente para reforçar o distanciamento íntimo entre nós, e os que me conheciam profundamente, como Taehyun e Kai, nunca esconderam o seu desapontamento por alguma atitude minha, porque só assim eu percebia que acabei cometendo algum erro.

Passar tanto tempo ignorando as responsabilidades me fez ver o mundo como uma jogatina onde eu era o coringa espertalhão. Mas a partir do Ensino Alto... não, acho que a partir daquele dia, foi que eu perdi todas as minhas cartas, e precisei revirar meu estômago milhares e milhares de vezes só para cair a ficha de que tudo tinha ido por água abaixo.

Aquele dia, qual me refiro, é quando Soobin chegou perto de mim, com uma caderneta na mão, me olhando de cara feia, e perguntou carregado de desgosto qual era o número do meu celular. Meus ouvidos estalaram, e a sua voz suave parecia um tambor contra a minha audição. Estava tudo tão distante, a maresia da praia de repente me atingia feito um soco, e todos os olhares da sala – Suyun, Soojin, Taehyun e a equipe do jornal – pareciam com peixinhos curiosos me encarando dentro do aquário.

Taehyun, principalmente, parecia um peixe baiacu, de tão abertos que seus olhos estavam, não desgrudando um segundo de cada ação que eu cometia – levantar, dizer o meu telefone, ir me entrevistar com os jornalistas. E Soobin ali, parecendo tão paciente, mas ao mesmo tempo sem disfarçar todo o seu ódio iminente por mim.

Já Soojin, ela observava tudo como se fosse uma peça de teatro capenga, tão grande era sua expressão de indiferença conosco. Eu tinha me sentido vitorioso sentado naquela cadeira apresentando minha canção, mas estar perto da plateia, me fazia sentir tão insignificante, e tudo só piorava porque eu estava lidando de forma automática, onde meu cérebro sequer conseguia processar que o momento precisava de uma reação, e não de uma atitude.

Eu tinha realmente ganhado alguma coisa com isso? Ou minhas mãos tremendo enquanto eu fazia a entrevista para o jornal foram apenas uma queda baixa de pressão?

Foi tudo tão rápido que eu nem pude calcular direito as minhas respostas. A única coisa que eu me lembro, é de Taehyun ajeitando a câmera atrás do jornalista que me entrevistava, e eu conseguindo ver, através de sua leitura labial muito bem elaborada, que "nós precisamos conversar".

Imediatamente assim que a entrevista terminou, não deu nem tempo de eu ajeitar o violão nas costas direito, pois saí correndo da sala mais rápido que o próprio Usain Bolt. Pude escutar alguém gritar o meu nome em vão, o meu ombro doendo porque me bati contra a porta da saída do colégio sem querer, e sentido meu rosto pingar de suor pelo esforço desnecessário da corrida, mas tudo estava desligado ao meu redor.

É Assim Que a Banda TocaWhere stories live. Discover now