Stupid Wife - Barbarena

Egoísmo

Sabe quando sentimos nosso coração aquecido de alguma forma? É assim que estou me sentindo agora observando meus pais. Eles parecem estar se divertindo enquanto preparam o jantar. Fico muito feliz ao constatar que entre eles nada mudou mesmo com o passar de tantos anos, seu amor mútuo ainda parece o mesmo. O relacionamento deles sempre foi minha inspiração, desde pequena eu desejava ter um casamento tão feliz quanto os dos meus pais.

Será que meu casamento com Macarena é assim ou ao menos chega perto disso?

Eu não acredito que estou pensando sobre isso, mas estou curiosa. Duvido muito que teria me casado com essa mulher e passado tanto tempo ao seu lado por comodismo ou apenas por causa da criança que temos. Nosso casamento tem que ter sido no mínimo feliz.

Surpreende-me que eu tenha passado tanto tempo com ela sem pedir divórcio.

Volto à realidade e saio de meus pensamentos quando sinto um puxão em minha blusa, seguido de uma voz adorável ao fundo. Meus olhos encontram aquele pequeno garoto, lindo com seus olhos verdes e enorme sorriso. Eu acho incrível como ele tem traços meus e dela, chega a ser assustador. E eu não faço ideia de como isso é possível.

– Oi, pequeno.

Sorrio para ele, nem me importando com seu peso ao trazê-lo para meu colo. Theo parece adorar isso, agarrando meu pescoço com um forte abraço aconchegante.

– Sente, mommy. Estou muito cheiroso.

Ele diz ao se afastar, inclinando sua cabeça de lado para que eu possa inalar o cheiro em seu pescoço. Quando eu inalo aquele aroma, é como se eu estivesse vivendo algum tipo de déjà vu. Lembro-me bem desse cheiro, parece bastante com o perfume que eu costumava usar quando mais nova. Sempre foi meu favorito.

– Mmmmm... Está cheiroso mesmo.

– Estou usando seu perfume favorito, mamãe o comprou e me deu de presente.

Eu sabia que conhecia esse cheiro.

Levanto as sobrancelhas surpresa que Macarena sabia disso, mas era de se esperar. Afinal, estamos juntas há muito tempo, a convivência faz com que conheçamos as pessoas, certo? Eu acredito que ela saiba e se lembre de muita coisa. Eu invejo sua memória, gostaria de ter a minha também. É triste.

– Sua mãe fez uma ótima escolha.

Digo para ele. O sorriso não saiu do meu rosto. Sinto como se alguém estivesse me encarando e olho em volta, deparando-me com Macarena de pé com o ombro encostado na parede e nos observando. Seus cabelos estão úmidos e penteados para trás, jogados de qualquer forma. Um cheiro de banho recém-tomado toma conta do ambiente e tem um enorme sorriso em seus lábios. Ela parece bem feliz ao me ver interagindo com nosso filho.

É estranho demais pensar que sou casada e tenho um filho. Eu ainda me sinto como se

ainda estivesse com dezesseis anos. Tudo isso é surreal. Vai demorar para eu me acostumar.

Desvio meu olhar dela e volto a dar atenção para Theo. Ele está animado e não para de falar sobre seu dia na escola. Disse também que estava muito animado para o natal. Presto atenção em tudo o que ele diz, com meu coração disparado. Essa sensação de amá-lo é muito boa, não mudou mesmo com a falta de memória. Irei seguir o conselho do Dr. Charlie e tentar viver minha vida da forma mais normal possível.

Quem sabe assim minha memória resolve voltar?

Macarena resolveu se juntar a meus pais e ajudá- los com o jantar. Quando passou por nós, deu um beijo na testa do pequeno e depois saiu. Eu continuei ali com Theo. O resto da noite passou de forma tão natural, nada parecia fora do lugar e perceber isso foi tão estranho quanto acordar nua ao lado da estúpida manhã. Quem olhasse de fora nossas interações, confirmaria que somos uma grande e feliz família.