O bingo dos formandos acabou com o meu meu maravilhoso premio fechando com chave de choro.
E pra completar nossa mesa não tinha ganhado nem um fardinho de cerveja.
O churrascão do domingo ficou com Deus!
- Tete - Luciana, que era a palmitinha da minha dupla de classe, chamou minha atenção - Você tem a obrigação de conseguir um autografo do Calleri pra mim.
Pra que ela foi dizer aquilo?
Um coro de "também quero" deu inicio a uma grande confusão, era um falando por cima do outro e eu só queria morrer.
- Se eu der a sorte de encontrar com ele arranco as pernas dele fora, isso sim. Como ele ousa? Parece que baixa a skin do CR7 quando tá jogando contra o meu time
- Você ainda não entendeu Tessinha? É só tocar... - Joel falou com deboche e não contive o impulso de revirar os olhos
Aquele assunto ainda rendeu.
Enquanto isso eu só matutava tentando entender porque os Deuses do Futebol me amaldiçoaram dessa forma.
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Já passava das onze da noite quando cruzei a porta de casa.
Como de costume já tava todo mundo dormindo, ou eu pensava que sim, mas vi uma baixa luz vinda da cozinha seguida de pequenos múrmuros, o que fez com que eu mudasse o trajeto que faria até meu quarto pra dar uma espiada no cômodo ao lado.
Os cochichos iam ganhando forma a medida que ia me aproximando da divisória dos cômodos, e ao chegar no balcão consigo flagrar a minha versão em miniatura vasculhar a geladeira tanta vezes, como se em algum momento fosse simplesmente brotar algo novo lá dentro.
Ela tinha uma headfone rosa enorme da cabeça - fone esse que as orelhinhas de gato conflitavam bastante com o blusão de uns caras mascarados medonhos e a calça de moletom que era duas vezes o seu tamanho.
- Mamãe já não te proibiu de usar essa camisa com símbolo satânico? - a garota tomou um susto tão grande ao ouvir minha voz que bateu a cabeça com tudo em uma das prateleiras da geladeira.
Foi fone voando pra um lado, ovos quebrando do outro.
E se a genética da família não tivesse nos presenteado com o sono da morte com certeza estaria um amontoado de gente ali na cozinha naquele exato momento tamanho barulho.
- Olha o que você me fez fazer garota? - a voz da pirralha saiu mais esganiçada que o normal ainda por efeito do susto recente - Nem me olha assim que por sua causa esse caos aconteceu, então você vai me ajudar com isso daqui
- Eu? Eu só vim ver o que tava acontecendo, você que tava a meia hora encarando a geladeira como se um bolo fosse magicamente aparecer com sua força do pensamento
- Quero nem saber, já pode ir guardando suas coisinha e trate de voltar aqui pra me ajudar - deu as ordens como se tivesse alguma autoridade comigo, me contentei em dar os ombros e virar as costas. Deixando claro que ela que resolvesse os próprios BO's - Ou você me ajuda, ou amanhã conto pro papai que terça passada você saiu pra dormir na casa do Marcos
Mas olha que diabinha!
Virei pra encarar a moleca que tinha a no rosto a mesma expressão desafiante que eu fazia pra afrontar nossos pais. Se não fosse pela altura daria pra nos passarmos como gêmeas.
- Tem certeza que quer mesmo que eu entre nesse joguinho? Não acho que nossos pais ficariam muito felizes em saber que seu namorado Marcelo, na verdade tem vagina e cabelos loiros - ela tentou se manter firme, mas uma micro expressão a entregou. Mas só percebi pelo fato dela ser literalmente minha cópia mais nova, com cabelos mais curtos e piercing no septo - Não adianta tentar negar, que vi uma mensagem dela uma vez quando você me pediu um pix e eu tive que mexer no seu celular pra copiar uma chave aleatória. Falando nisso você deveria pensar melhor sobre o lance de usar uma chave pix normal, facilitaria muito a vida de todos nós
- Você fala isso porque não sabe o risco que é o vazamento de dados - repetiu a mesma ladainha pela milésima vez - E desde quando você sabe isso?
- Ah, sei lá. Uns 3 meses - dei de ombros e dessa vez ela nem tentou disfarçar a cara de choque
- E porque não me disse nada?
- Porque não era da minha conta - voltei a balançar os ombros, estava começando a ficar repetitivo - Nem era pra eu ter ficado sabendo, então apenas me fingi de cega. E esperei você vir falar sobre isso comigo se quisesse - ela parecia realmente surpresa, mas lembro que aquela informação na época me pegou zero desprevenida.
Longe de mim julgar pela aparência, mas minha irmã era um nível subterrâneo de feminilidade.
Desde muito nova preferia se juntar aos meninos no futebol ou peteca, a ter que brincar de casinha com as vizinhas.
E mesmo quando era forçada, se recusava a ter que fazer comidinha, cuidar de filho e afins.
Então de duas uma: ou ela seria do vale, ou um ícone feminista.
E acabou que no final tinha se tornado um misto dos dois.
- Pensei que se você descobrisse ia me dar maior lição de moral - ela murmurou baixinho
- Ai Yuna! - exclamei segurando firme na alça da minha mochila. Como irmã mais velha sabia que uma hora aquela conversa iria acontecer, só não contava que fosse num momento em que eu estivesse alcoolizada e com sono - Pera ai, vou deixar minhas coisas no quarto e volto pra ajudar, dai a gente conversa, ok? - a piveta me olhou desconfiada - Eu volto criatura, vai começando aí que esse ovo tá começando a feder
Apenas meu irmão mais velho e eu tínhamos o privilégio de ter quarto individual, enquanto os 3 mais novos tinham que sofrer dividindo o dormitório que ficava ao lado do quarto dos nossos pais.
Joguei a mochila de qualquer jeito em cima da cama e voltei pra ajudar a pirralha.
Yuna pareceu bem surpresa ao me ver voltando e eu passei direto pra buscar outro pano de chão.
O chão da cozinha estava o próprio cemitério de pintinhos.
- Já pensou na desculpa que vai dar pra mamãe amanhã por ter acabado com a cartela inteira de ovos? - perguntei ironizando enquanto começava a limpeza no lado contrario ao que ela estava
- Não vou precisar. Porque você vai me acordar cedinho e me fazer um pix pra eu ir no Seu Ribas bem linda compra outra cartela. Dona Iara nem vai sonhar que isso aconteceu - não a via, mas sabia que ela tinha balançado os ombros. Era minha cópia, não tinha jeito.
- Ah claro, porque você com certeza vai conseguir acordar antes do meio dia - ironizei
- Tem uma coisa chamada despertador sabia? - devolveu a ironia - Você deveria usar, diminuiria a algazarra que você faz logo cedo por está sempre atrasada
- Experimenta trabalhar e estudar gatinha, todo dia de manhã é um tormento. Ainda inventei de me inscrever naquele concurso, mal tenho conseguido 5 horas de sono ultimamente
- Eu queria trabalhar, mas a mamãe não deixa - como agora estávamos de frente uma pra outra consegui ver ela fazendo beicinho
- Você mal tem conseguido manter a média sem ter nada pra fazer além de estudar, imagina se começar a trabalhar
- Mas mano eu não me sinto mais confortável pedindo dinheiro pro papai. Principalmente quando é pra sair com a Marcela - engoliu seco - Eu não gosto de mentir pra eles, e piora quando eles perguntam se meu namorado não se oferece pra pagar pra mim
E aí estava aquele assunto novamente.
Não cheguei mencionando isso em especifico quando voltei porque queria que ela se sentisse confortável pra inicia-lo.
A partir dali fiz questão de mostrar que estava atenta e disposta a ouvir minha irmã.
Nossa conversa foi além do tempo que levamos limpando o chão da cozinha e tenho certeza que sentiria o peso do sono perdido no decorrer do dia seguinte. Por sorte aos sábados eu tinha a liberdade de chegar um pouco mais tarde, além de ficar apenas meio período.
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Sorte • Diego Costa
FanfictionTeçá se considerava a mais azarada de todas, e quando acaba ganhando um passeio pelo CT do time rival isso apenas se confirma. Jogadores esnobes vão se tornar seu pior pesadelo, mas talvez a sorte comece a aparecer pra ela. *Enemies to Lovers*
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