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Estou quase arrancando um pedaço do meu dedo. Não consegui comer e estou me corroendo em ansiedade e medo da reação do PH. Estamos sem nos falar a muito tempo, e agora isso! Não acho que ele vá ficar feliz em saber o que aconteceu. Tento me apegar nas palavras da Vic, ele vai ajudar.

Mesmo que não fiquemos juntos, ele vai me ajudar.

PH senta na minha frente e me dá um pequeno sorriso e um boa tarde simples. Eu retribuo, mordo mais um pedaço do cantinho do meu dedo e arranco sangue dessa vez. Olho em volta pensando em como começar esse assunto.

_Então... - ele começa.

_Me desculpa, eu estou com medo. - dou um sorriso sem graça - Eu não sei como dizer. Me desculpa!

_Tudo bem, pode só dizer. - PH conta e seu sorriso leve mexe comigo.

_Estava com saudades do seu sorriso. - deixo escapar fazendo o sorriso dele se espandir. Pensando bem a Vic já deve ter contado a ele.

_Estava com saudade de você. - meu rosto enrubesse. Pedro se aproxima mais e eu me preparo para o beijo que virá a seguir.

_Me diz o que você quer Ceci. - ele sopra bem pertinho de mim.

Estou de olhos fechados esperando que ele me beije mas o beijo não vem e volto a ficar inquieta.

_Pensei que fosse me beijar. - digo a ele que ainda está perto demais de mim.

_É o que você quer? - aceno um sim com a cabeça e Henrique me beija.

Alguma coisa, ou melhor, alguém pula dentro de mim e essa é a primeira vez que sinto o bebê, separo nossos lábios e olho dentro dos olhos de Henrique, me sinto corajosa.

_Eu estou grávida...

O rosto tranquilo do Henrique muda completamente. Ele está cheio de raiva e desprezo e isso leva de mim toda a coragem que tenho.

_O pai deve estar feliz. - ele diz e se aproxima de novo. - E eu achando que você queria reatar o que nós tínhamos! Era isso que você tinha para me dizer?

_Henrique... - tento.

_O que? Vai dizer que essa criança é minha? - ele diz de uma forma que me dói.

_E de quem seria, eu só...

_Eu já cai nesse conto uma vez Cecília, não vou cair outra vez. Arrume outro otario porque esse aqui - ele aponta para si mesmo - já deixou de ser babaca faz um tempo.

_ Pedro, espera! - tento segura-lo mas não consigo. Henrique puxa seu braço com força. - Você não me ouviu, por favor, me deixa falar, vamos conversar. - peço já entre lágrimas.

_Você estava pensando o que Cecília? Que chegaria aqui e me diria que está grávida e eu acreditaria? A última vez que coloquei a mão em você faz uns quatro meses. Acha que eu acreditaria e sou o pai? É assim? Você acha que eu sou idiota!? - ele fala alto chamando a atenção das pessoas.

_Pedro, as pessoas estão olhando. - tento fazer com ele fale baixo, ao invés disso ele fala mais alto.

_ Que bom! Quem sabe você não consegue um pai para essa criança! Você sabe quem é pelo menos? Ou vai insistir que sou eu? Não, espera, você ficou grávida quando te beijei mais cedo!

Não consigo continuar essa conversa, passo por PH chorando alto, corro pelo shopping indo para longe dele. Se eu tinha esperança que ele me ajudaria agora tenho certeza que não.

...

Tem três dias que contei ao Pedro e ele não acreditou em mim, Vic também não apareceu, nem mensagens ela mandou. Tem três dias que eu não como nada, a comida parece crescer dentro da minha boca e não passa pela minha garganta.

Ao contrário do que um dia imaginei eu não penso no aborto, se tiver que morrer que sejamos nós dois, e é por isso que passei as minhas aulas procurando uma forma menos dolorosa de acabar com tudo isso. Vou contar aos meus pais o que aconteceu e se eles agirem como eu espero acabo com tudo hoje mesmo.

Caminho devagar e sem qualquer ânimo pelo pátio da escola, todos praticamente já saíram e eu estou aqui.

_Ceci! Ei, Ceci. - Paro olhando para a garota de casaco colorido - me empresta seu celular? É rápido, o meu acabou a bateria e minha mãe está esperando eu ligar... - estendo meu celular destravado a ela que liga para a mãe, outra vez tenho vontade de ir ao banheiro, não sei se estava assim antes, mas agora que descobri sobre o bebê eu percebi estar indo toda hora no banheiro.

_Vou no banheiro enquanto você liga. - digo a garota que acena em resposta.

Ainda consigo ouvir ela falando com a mãe. Quando volto Viviane tem os olhos escuros em cima de mim, ela parece querer dizer alguma coisa e exita antes de me devolver o celular.

_Minha mãe tem uma casa de apoio para adolescentes grávidas. - olho para Viviane dentro dos olhos, como ela sabe?  - Desculpa, sei que não tinha direito, eu estava tentando pesquisar a distância de onde minha está para saber que hora ela iria me buscar... Vi suas pesquisas e deduzi.

_ Não estava escondendo, aliás daqui a pouco não terei como esconder. - sorrio triste.

_ Cecília, estou falando sério. Não precisa ser assim, se você acabar com a sua vida o bebê também morre. - meus olhos enchem da água. - eu não tenho ideia do que você está passando, imagino que para chegar a pensar em uma saída dessas você esteja sofrendo muito e não saiba como sair, mas você pode pedir ajuda. - meu olhos outra estão sobre ela.

_Aos meu país por exemplo? - dou um sorriso cheio de deboche.

_Não, pelo modo como falou, eles não são uma opção. - ela olha para o lado para chão e depois pra mim. - suicídio também não é. Como eu disse minha mãe tem um projeto que ajuda meninas grávidas. Ela esteve nessa situação um dia... Quando ficou grávida de mim, meus avós a colocaram para fora de casa, ela dormiu na rua algumas noites e passou fome, não vai ser assim com você.

_ Não sei se posso acreditar... - eu quero acreditar nela, nessa pessoa que nunca foi uma amiga.

_Pode acreditar, vou te mostrar o projeto me dá seu celular.

Entrego meu celular outra vez para a garota que pesquisa por Bebês do futuro mães do presente em uma rede social, ela mostra várias fotos de garotas grávidas, quartos com beliche, oficinas, cursos profissionalizantes, o lugar parece bonitinho.

_Não vai ser fácil mas você consegue, chegou até aqui. Não pode desistir.

_Eu ia contar a eles hoje, aos meus pais. Eu tenho certeza que eles vão me castigar muito por isso, aponto para minha barriga que mexe.

_Anota meu telefone. - eu anoto e salvo no celular o número da Vivian. Você ainda pode contar a eles e se não tiver apoio conte comigo. - ela sorri.

_Tudo bem... - uma lágrima escorre pelo meu rosto e ela me abraça.

_ Vai ficar tudo bem Cecília... - sorrio para ela querendo ganhar outro abraço, mas agradeço baixinho e caminho para fora da escola.

Foi sem querer, que me apaixonei por vocêWhere stories live. Discover now