18. As pazes

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Tem uma semana que a Cecília está me evitando, ela não quer conversar, não quer me deixar explicar, o clima entre nós está pesado e toda vez tento me explicar acabo criando uma situação muito tensa. Eu queria contar a Ceci sobre o Thiago tem algum tempo, mas parece que não encontrei um momento legal para fazer isso e eu sei que ela se sente traída.

O meu filho corre pelo quintal e pula na piscina de bolinhas que comprei para que ele brincasse. Tento ligar outra vez para a garota que tem me enlouquecido nos últimos dias, nada, ela desliga.

Estou no carro com meus pais, estamos voltando do almoço na casa da sua irmã. Quando chegar, te retorno. - pela primeira vez em dias ela me responde.

Visualizo a mensagem e não respondo nada, meus olhos voltam para o garotinho de cabelos pretos, sei que minha irmã tem alguma a ver com a Cecília estar finalmente me respondendo.

_Pai, eu desenhei dileito. - Thiago me mostra um desenho feito com rabiscos de lápis verde escuro. Seus olhinhos verdes buscam os meus e sorrio.

_Está lindo! Você é um ótimo desenhista.

_Por que você está tliste? - ele senta ao meu lado e passa sua mãozinha pela minha perna, sei que quer me consolar. - Mamãe disse que sua namorada não gosta de mim...

_Sua mãe só fala besteira! O papai que fez coisa errada, não tem nada a ver com você.

Tem tudo a ver com ele, e mesmo assim, em momentos como esse eu sei que teria feito outra vez. Mesmo sabendo que Thiago não é meu de verdade eu amo como se fosse. Não é por causa dele que a Cecília quer meu pescoço, é porque eu omiti sua existência, tenho certeza disso.

_Ela gosta de mim porque sou da cor igual? - olho para os olhos do meu filho tentando entender onde ele quer chegar com isso de cor.

_A gente não gosta das pessoas pela cor... De onde você tirou isso!?

_Foi a mamãe que disse...

_Puta que pariu, o que a sua mãe tem cabeça!? Ela ficou louca agora?

Meu sangue ferve na veia só de imaginar as coisas que ela anda dizendo ao garoto. Quando Raíssa chegar vou ter uma conversa séria com ela...

_Oi. - atendo ao celular ainda cheio de raiva.

_Pedro... - e lá está a voz que eu mais queria ouvir em todo o mundo.

_ Cecília... - ensaiei tantas vezes essa conversa e agora não sei o que dizer.

_ Acho que precisamos conversar. - ela suspira. - Você... Eu não estou com raiva por causa do garoto, só por não ter contado, eu sei que não sou sua namorada de verdade, você não me prometeu compromisso ou coisas do tipo, mas...

_Eu queria ter dito princesa, eu estava procurando um jeito de dizer. Não sabia como te contar o que aconteceu, como você diz a garota por quem está apaixonado que tem um filho?

_Você podia ter começado contando como foi que aconteceu...

_Eu namorei a Raíssa por dois anos, entre idas e vindas, ela começou a namorar um outro rapaz, mais velho, eu acho. Uns dois meses depois ela voltou dizendo que estava grávida e eu acreditei nela, falei com meus pais e ela foi morar na nossa casa. Comecei a trabalhar muito, muito mesmo! Eu seria pai e me preocupava com o futuro do bebê. Consegui pagar sozinho o pré natal, o parto, mas meus nos deram a maioria das coisas do bebê. Eu amava tanto aquela criança, fui eu quem escolheu o nome... - sorrio.

_Pedro... - Ceci tem voz de choro e eu me vejo chorando também.

_ Eu vi ele nascer, tão branquinho, de olhos azuis. Eu simplesmente soube que  não era meu, ela mentiu. - essa foi a primeira decepção real, da minha vida.

_Eu sinto muito...

_Eu amava tanto aquela criança, tanto! Quando ouvi que Raissa daria o bebê eu fui atrás dela, disse que ajudaria com a criança, com tudo. Registrei o bebê e passei a ser o pai dessa criança.

_ E o outro cara, o pai?

_Eu não sei onde está o pai biológico, se quer sei quem ele é, mas não me importo com isso o pai dele sou eu, quem ama, quem cuida, quem provê suas necessidades... Eu sou o pai de verdade.

_Eu sei, você tem razão. Me desculpa por agir de uma forma tão infantil. Eu...

_ Só quero que fiquemos bem... - digo a ela. - Estou sentindo sua falta loirinha..

_Pedro... - a voz doce, suave dela me aquece o coração. - Vem me buscar?

_Buscar?

_Buscar. Vou te esperar na porta, todos vão estar dormindo e eu vou para sua casa. Matar saudade.

_Ceci... Puts. Você me deixa louco garota. Muito louco! Alguem pode te pegar...

Ela dá pequenas gargalhadas tentando se conter.

_Eu te amo. - silêncio, tudo que existe é silêncio.

_ Não vou te responder porque isso é algo que eu quero dizer olhando nos seus olhos loirinha.

_Eu vou esperar ansiosa. Preciso ir Pedro.

_Até.

Desligo o telefone me sentindo o idiota mais feliz do mundo, me lembro que preciso urgentemente agradecer a minha irmã pela força, o telefone toca algumas vezes e ela atende.

_Eu te devo uma Vic, pode pedir o que você quiser. Qualquer coisa.

_Você está sempre me devendo alguma coisa Henrique, mas me diz o que foi dessa vez... - ela parece bem humorada.

_Obrigado por ter falado com a Cecília.

_Hã, quanto a isso você não me deve. Quem falou com ela foi meu marido, os dois conversaram bastante!

_Diz para seu marido que vou dar a ele um carro novo.

_Não quero carro novo, quero que cuide da minha irmã seu babaca, porque se você a magoar vou quebrar sua cara.

_Eu não vou magoar.

_Assim espero! - ele grita

_Obrigado. - respondo.

Foi sem querer, que me apaixonei por vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora