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_Aquele garoto não é de todo ruim. - meu pai diz a minha mãe enquanto enchemos o carrinho de compras. - Assumir uma criança que não é sua... Fiquei sabendo por alto que é ele quem sustenta a criança, sabe alguma coisa sobre isso? - os olhos do meu pai estão sobre mim e eu aceno um não. - Eu nem sabia que ele trabalhava! Mas parece que ele faz alguma coisa de computador, sei lá...

Suspiro me sentindo outra vez muito estranha, eu acabei não tomando a pílula e nem fazendo teste algum. É aniversário do meu irmão e eu provavelmente vou dar a ele a oportunidade de ser tio. Por que não estou surtando? Porque minha mãe me faz tomar todos os dias o ansiolítico que o médico receitou.

_Ele deve ganhar bem... - minha mãe se interessa. - Aquela garota, a ex, disse que ele se esconde atrás do pai, é o pai quem administra todo o dinheiro dele.

_Thomas disse algo assim. Parece que ele começou a ganhar dinheiro cedo ele pediu ao pai ajuda e com o tempo ele tinha uma quantia boa em dinheiro. - Nem eu sabia que PH tinha dinheiro! Principalmente dele. - Mesmo assim, até onde vemos não tem nada de muito seguro no futuro desse garoto, principalmente com uma criança.

Respiro fundo pensando em quanto meus pais são chatos. Será que são só os meu, ou todos os pais são assim, um porre.

_Ceci, minha filha, promete se alimentar bem e tomar seus remédios? - aparentemente eu passei a ter 10 anos.

_ Não é melhor me deixar ir com vocês? - respondo de mal humor.

_O médico disse que você precisa descansar, e nós percebemos o quanto gosta daquele lugar. Achamos que vai ser bom você ficar lá. Quer alguma coisa? Absorventes? Algum creme? Shampoo? - aceno um sim e vou atrás das coisas que preciso. Se vou ficar mais quinze dias nesse lugar, acho melhor pegar os absorventes, e um sabonete.

_Só isso querida!? - minha mãe pergunta insatisfeita, então, segue comigo até a fileira dos produtos de higiene. Ela pega creme de hidratação para o cabelo, shampoo, pasta de dente, enxaguante...

_ Mãe, por que está comprando tudo isso, são quinze dias não quinze meses! Eu ainda tenho tudo isso!

_Melhor sobrar que faltar... - respiro fundo outra vez tentando ter paciência, no carrinho um shampoo que eu não uso e produtos que eu não compraria. Outra respiração pesada, estou com um humor péssimo.

Dois carrinhos de compras e eu estou aqui sem entender qual o motivo para tanto. Quando chegamos na fazenda com as compras os pais de PH agradecem, mas repetem muitas e muitas vezes que era preciso tanta coisa e etc, etc...

Sento na rede com um copo cheio de sorvete enquanto vejo Pedro brincando com o Thiago.

_Ele é um bom garoto, mas não tem futuro nenhum, não tem estudo, cuida de uma criança... - faço uma expressão de completo desentendimento - O Henrique, Cecília, eu vi que você ficou mais próxima dele, entendo que tenha ficado admirada pela atitude, eu também fiquei. O problema é que esse rapaz não estuda, ele ganha algum dinheiro hoje? Sim. Mas sem estudo ele pode estar passando aperto amanhã.

Respiro fundo acenando em positivo com a cabeça e Pedro querendo assumir um relacionamento, ele é maluco se acha que meus pais vão permitir, e eu decididamente não acho que valha a pena.

_Cecilia? - olho para o meu pai. - Tudo bem você ficar aqui com seu irmão e a família da esposa dele?

_Sendo sincera, eu gostaria de voltar para minha vida, voltar para o curso de inglês, as aulas para o preparatório do vestibular começam amanhã e eu já começo faltando. - faço careta - eu tinha começado um curso de espanhol online também, tem aulas de natação, e o curso de informática que eu já perdi quatro aulas. - reclamo.

_ Você não poderá voltar para todas essas atividades, vai ter que escolher o que é mais importante. Aproveita esses dias, acorde tarde, caminhe um pouco por aí, leia um livro qualquer. Brinque na piscina com o Thiaguinho, o garotinho parece gostar muito de você.

Abro um sorriso para o meu pai.

_ Ele diz que somos parecidos, por causa da cor pele, acho que a mãe destrava ele por ser branco, tadinho. - resmungo.

_ Ainda bem que ele tem o Pedro Henrique para contar. - meu pai sorri

Abro um pequeno sorriso.

_É.

_Tudo bem então? - ele pergunta.

Dou de ombros e acabo respondendo que tudo bem, mesmo não estando tudo bem.

Meu pai dá dois tapinhas no meu ombro e sai. Volto meus olhos para PH, agora que ele terminou o ensino médio poderia pelo menos fazer uma faculdade, ele não precisa de muito mais que isso. Pode continuar fazendo o que gosta enquanto estuda.

Respiro fundo outra vez com desânimo. Não sei porquê estou preocupada com os estudos do PH, esse relacionamento torto que nós temos não vai dar em nada! Não vamos terminar nossa vida juntos, olhando os netos brincando sentados juntos em uma cadeira de balanço.

Ele nem é o tipo de rapaz com eu namoraria! Prefiro os que levam a vida e os estudos a sério. Que se esforçam em construir algum futuro, ter uma vida confortável. Eu não pretendo ser como algumas mulheres por aí que vivem sofrendo pelo cara errado, não mesmo!

Eu sei que PH é o cara errado, ele é totalmente errado, não damos certo, não andamos na mesma sintonia. Enquanto eu tenho meu olhos focados no futuro, ele vive sendo levado pela maré. Não leva nada realmente a sério e essas coisas cansam.

Também não vou viver em um relacionamento onde terei que carregar a outra pessoa, ou ficar brigando para que a outra parte tome iniciativa, estude cresça, e se torne alguém. Isso é o que a mãe dele deveria fazer, não eu.

Foi sem querer, que me apaixonei por vocêOù les histoires vivent. Découvrez maintenant