Capítulo 18 - Feridas abertas.

Start from the beginning
                                    

Balancei os pés no ar e ri mais uma vez, nessa minha forma de fada eu não tinha sapatos, eram apenas fitas brancas e azuis passando pelo meu dedão, se enrolando em meus tornozelos e subindo até meus joelhos, eu tinha fitas iguais nas mãos, elas passavam por meus dedos, se enrolavam em meus pulsos e subia em caracóis até meu cotovelo. Até esses pequenos detalhes me encantavam, eu não tinha notado nada disso da primeira vez.

Voei até o lago que ia até os limites dos muros do castelo, passei por cima dos guardas que por pouco não me viram e pousei as margens da água e encarei a superfície escura, eu precisava urgentemente aprender como usar meu elemento uma vez que não tinha nenhuma arma mágica como os outros. Ainda observava a água quando escutei um barulho vindo de perto do muro e fiquei alerta, haviam passos e mesmo que não fossem altos estavam se aproximando.

- Parado aí, intruso! – uma voz gritou vinda das sombras e eu me assustei agitando os braços como que para me proteger e, quando todos nós entendemos o que estava acontecendo, vi três dos cinco guardas meio congelados.

Eu havia feito aquilo.

- Desculpa – murmurei e só então notei Gladyr ali. O comandante e todos os outros – inclusive os congelados – pareciam não dar a mínima para o gelo, eles apenas me encaravam como se eu fosse um fantasma.

- Senhorita Miranda? – o comandante perguntou com cuidado como se eu fosse explodir a qualquer momento e sua surpresa me fez sorrir.

- Sou eu, me desculpa mesmo a confusão, só quis aproveitar que estava sem sono para vir até o lago treinar.

- No meio da madrugada? Certo, isso não importa. Essa sua forma...? As asas? – ele olhava de mim para minhas asas, os outros só encaravam as asas mesmo.

- É minha forma mágica, legal né? Ninguém tinha me visto assim ainda, além dos meus amigos é claro, por que não conseguia me transformar. Mas finalmente deu certo.

- Mas seu elemento é a água, certo? – o comandante questiona como se tentasse juntar as peças de um quebra-cabeça que não faz sentido, e começo a ficar preocupada.

- É sim, por quê? Algum problema?

- Não, nada – ele decide por fim e me olha com uma expressão curiosa e quase sorri. – Combina com você, mas, por favor, não voe pelo perímetro do castelo sem me avisar. Algum desavisado pode achar que você é uma ameaça como aconteceu agora. E se puder – ela indica os guardas que estão começando a ficar com os lábios azuis.

- Claro, me desculpa mesmo! – peço mais uma vez e vou até os guardas congelados, e que Deus me ajude por que não sei nem como fiz isso muito menos como desfazer.

No fim eu consigo desfazer o gelo tocando nele e basicamente desejando que derreta e liberto os guardas, eles me olham mais um pouco e depois que recuso a escolta eles se vão. Depois de toda a confusão decido voltar ao meu quarto e assim que pouso na varanda outra vez volto a ser só eu de camisola. Sento-me em uma das cadeiras confortáveis que há ali, abraço minhas pernas numa tentativa de me esquentar quando o vento começa a ficar frio e penso nas palavras e expressões de Gladyr, o que há de tão estranho em eu ser uma fada em um mondo onde há monstros, poderes mágicos e duas luas?

Depois do que parecem horas, mas devem ter sido apenas alguns minutos pensando sobre isso e em tudo mais que está acontecendo sou vencida pelo cansaço e decido voltar para a cama antes de dormir na varanda e conseguir além de várias dores musculares, um resfriado.

Durmo até Odilee vir me chamar para o café, me sento na cama me sentindo só mais ou menos descansada depois da noite de ontem, mas fico feliz que ao menos não tive mais nenhum pesadelo. Minha ajudante como sempre fala um monte e converso com ela, nós nos demos muito bem, é divertido ter alguém que tem quase a minha idade para perguntar as coisas quando não tenho ideia do que está acontecendo. Odilee me ajuda a tomar banho e me vestir e depois de mais de duas semanas já me acostumei a tê-la por perto todo o tempo, principalmente quando estou no quarto.

Esferas ElementaresWhere stories live. Discover now