XXXVII - Primeiro Passo

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Era a nona vez que o telefone de Miranda tocava em cima da mesa. As vibrações do aparelho no vidro estavam enervando a editora, mas assim que o nome de Andrea iluminava a tela seu coração apertava de saudades.

Já estava no quarto dia sem contato com a morena. Infelizmente não havia nada a fazer, precisava aguardar.

Ela respirou fundo, pela centésima vez no dia. Estava difícil se concentrar nas obrigações do escritório por mais que tentasse. Passou as mãos pelos cabelos e pousou os óculos de leitura na ponta do nariz. Com menos de 30 segundos de leitura iniciada ouviu Emilly dar ordens para a segunda secretária antes de aparecer na porta.

"Miranda, Patti Miller está aqui."

"Ótimo." Disse levantando o rosto.

Uma jovem se colocou em seu campo de visão, ao lado de sua assistente e assim que elas entraram no escritório a ruiva prontamente fechou a porta.

"Muito prazer em conhecê-la, Miranda."

"Igualmente, senhorita Miller."

A mais nova fez uma careta. "Me chame de PM ou Noturna, a Emilly é a única que me chama de Patti Miller e a minha mãe é a única que me chama de Patricia."

Emilly rolou os olhos antes de olhar para Miranda, que estava apavorada com a possibilidade de ter que usar uma abreviação ou um apelido.

"Miranda vai te chamar de Patricia, agora nós temos coisas mais importantes para tratar."

"Certo, certo." Patti abriu a mochila e retirou um computador com mais alguns apetrechos. "Emilly me contou muito superficialmente a situação. Eu gostaria de utilizar um dos meus contratos de confidencialidade agora para fazer uma primeira avaliação dos seus celulares e computadores, e dependendo do parecer começamos daí."

"Você tem um contrato de confidencialidade?" Miranda perguntou intrigada.

"Tenho, por um motivo simples. Eu não faço o possível no meu trabalho, faço o necessário. Isso pode ou não conflitar com algumas leis." Disse enquanto puxava duas folhas de uma pasta. Entregou uma a Emilly e uma a Miranda.

Emilly assinou de imediato, Miranda começou a ler atentamente.

"Aqui diz que você cobra um valor de avaliação inicial e que pode, dependendo do que encontrar, não dar continuidade ao trabalho."

"Bem, eu escolho casos interessantes para trabalhar, com certa complexidade. Não tenho interesse em hackear porque alguém desconfia de traição ou coisa do tipo, assim como não tenho interesse em ajudar criminosos. Essa cláusula é justamente para afastar situações desconfortáveis."

"As pessoas realmente te pagam cem mil dólares por uma mera avaliação?"

"Miranda, você ainda não entendeu," Patti sorriu petulante "Absolutamente ninguém faz o que eu faço. Simples assim. Eu sou melhor detetive especialista em segurança de dados. Eu não tenho nem como ser modéstia porque simplesmente é verdade."

"Hm." Miranda arqueou a sobrancelha e olhou para Emilly, que deu de ombros. A editora chefe assinou o contrato.

"Perfeito. Por favor me entreguem seus celulares." Assim que pegou os aparelhos ela os conectou em um aparelho pequeno que lembrava visualmente uma fita VHS. "Emilly me disse que tem algumas fotos e um DVD, posso ver?"

Miranda abriu a gaveta e pegou o envelope. Ao entregar o pacote percebeu que Patricia usava luvas quase imperceptíveis. "Sim, eu me preocupo em não deixar digitais para trás."

Antes que Miranda pudesse dizer algo, um dos celulares fez um 'bip' e a detetive sorriu. "Parece que estamos oficialmente no jogo." Ela sorriu, dessa vez com um brilho diferente no olhar.

"O que quer dizer?"

"Seu celular foi grampeado. O da Emilly também."

"Mas eu nunca desgrudo do meu telefone." Emilly interviu, pálida.

"Você pode receber malwares por SMS, email, não é culpa sua que o telefone tenha sido grampeado. Pode relaxar, ruiva."

"Existe a possibilidade de descobrir quem fez isso?" Perguntou Miranda.

"Apesar do trabalho ter sido bem feito, sim." Digitando algumas coisas em seu computador ela continuou. "Bem, tenho notícias boas e ruins. Qual vocês querem?"

"As boas." Disse Emilly.

"Boas. Eu aceito o caso, e em relativamente pouco tempo tudo estará resolvido."

"E as ruins?" Foi a vez de Miranda perguntar.

"Ruins... O caso é com certeza mais grave do que vocês imaginaram. Provavelmente vamos descobrir muito mais do que o esperado inicialmente. O malware, apesar de detectável é não eliminável."

"E isso quer dizer...?"

"Que os aparelhos tem que ser trocados imediatamente."

Miranda arregalou os olhos.

"Nós precisamos formular um plano de ação urgente."

"Como foi o CEO da empresa quem te entregou o envelope, eu gostaria de ter acesso a intranet da empresa por alguns dias." Ela pensou por alguns segundos e começou a guardar seus materiais. "Tem a possibilidade de eu ser contratada como um terceira assistente por uma ou duas semanas? Acho que seria um primeiro passo interessante, não levantaria suspeitas e eu conseguiria ver o que mais foi feito aqui antes de investigar a sua casa."

"Soa como uma boa ideia. Emilly vai te levar ao RH para resolver isso." Ela se levantou e estendeu a mão quando a mais nova terminou de arrumar suas coisas. O aperto de mão firme. "Emilly, também acerte com ela a questão do pagamento e todo o resto que ela solicitar. Patricia, foi um prazer e até amanhã."

"Até amanhã, Miranda."

Quando as duas saíram do escritório Miranda ficou pensativa, olhando o horizonte através de sua janela.

Estava definido o primeiro passo, e pelo frio na barriga ela já tinha certeza que não seria um caminho fácil.

Dois Cafés (Mirandy)Where stories live. Discover now