Dois Cafés (Mirandy)

XII - Semanas

Miranda estava nervosa.

Não nervosa do jeito que seus subordinados estavam acostumados. Dessa vez não era o falar baixo que estava dando medo, agora o terror imperava em não falar. Se algo não lhe agradava, ela não mais cortava a alma da criatura tola com sua língua afiada, ela simplesmente ficava muda. Nigel estava lidando com essa parte agora.

A editora estava distraída, distante, a ponto de se abster de reuniões simplesmente para passar horas e mais horas olhando para fora de sua janela.

Ela começou a piorar depois de sua viagem com Andrea. A morena que agora lhe tirava o sono, e que a cada dia lhe fazia afundar um pouquinho mais em culpa. A dona dos olhos bondosos que ela não conseguiria ver nas próximas cinco semanas.

Desde que se separou do pai das gêmeas, Miranda fez um acordo com ele. No mês anterior ao período da semana da moda de Paris, as meninas passariam todos os dias com ela, em contraponto, o pai das meninas ganhava o direito a quinze dias com elas, uma semana por conta da viagem e uma semana para Miranda poder descansar, se readaptar aos seus horários e se livrar do estresse da sua semana mais ocupada no ano.

Era uma troca não muito justa, na verdade. Ela tinha suas meninas de forma contínua, mas voltava para uma casa vazia. Para as gêmeas, era um mês onde as duas sabiam que não poderiam dormir na casa de suas amigas ou em qualquer outro lugar que não fosse a casa delas. Era um mês de ficar impossivelmente próximas de sua mãe, um mês onde Miranda voltava para casa mais cedo, com trabalho por terminar, só para dividir seu próprio escritório com suas crias.

Desta vez, no entanto, algo lhe fazia falta. Alguém, na realidade.

Entre mensagens de texto e ligações diárias, Miranda explicou para a jovem o motivo de demorar tanto até elas poderem se ver de novo. Ela não tinha tempo, e junto de todo o furacão, a sua popularidade crescia desordenadamente com proximidade do evento central de seu reino. Miranda respirou fundo.

Destrancando a gaveta de sua mesa retirou o envelope pardo. Por duas vezes já havia sido fotografada com Andrea, felizmente sua publicista conseguira comprar as fotos antes que fossem vendidas. Era indispensável contar a ela quem era de verdade, necessitava dizer a verdade, precisava da jovem para si, como nunca havia precisado de alguém antes.

Como já havia virado ritual desde a volta da viagem que fizeram juntas, todos os dias elas se falavam por telefone. Ainda faltavam duas semanas até Paris e Miranda estava a ponto de derreter de saudades.

"Miriam... Você ainda está aí?" Ela ouviu uma Andy sonolenta murmurar ao telefone.

"Sim, querida."

"Sinto falta de estar com você." Miranda respirou fundo.

"Eu também." Seus olhos correram no relógio. Uma e meia da manhã. "Eu gostaria de pelo menos poder tomar um café com você, mas não posso deixar minhas meninas sozinhas." Miranda respirou fundo novamente. Ela tirou os óculos de leitura com uma das mãos, os abandonando na mesinha de cabeceira e massageando a ponte ente seus olhos.

"Um café... Hm... Já te ligo." Andrea soou estranhamente animada e desligou rápido, antes que pudesse responder.

Então ela se lembrou que no café tinha entregador, e que provavelmente Andrea estava fazendo o pedido de seu café favorito agora.  Ela sorriu, depois rolou os olhos por se achar tola, em seguida sorriu novamente e foi calmante se arrumar para receber sua recompensa.