Dois Cafés (Mirandy)

XXXII - Confiança

Para Andy, estar na presença de Miranda parecia um sonho.

Para Miranda, estar com Andrea era ser levada para uma nova realidade.

O impacto de uma na vida da outra era algo sem precedentes de ambas as partes.

O sonho, para Andy, era se permitir viver coisas novas, se permitir amar e estar feliz como nunca, aceitando a vida de peito aberto. A realidade, para Miranda, era poder amar e confiar sem ter que dar nada além disso para receber o mesmo de volta.

A chave de tudo, a confiança.

Andy, por ter se fechado tanto para o mundo nos meses antes de conhecer Miranda, achou que seria mais difícil se abrir e confiar de novo. Mesmo com Miranda tendo mentido o próprio nome, confiança não era um problema. Em sua mente Andy entendera claramente os motivos e as ressalvas da outra mulher, e sabia que se estivesse na pele dela, provavelmente teria feito o mesmo para se proteger e proteger as gêmeas.

Miranda, por ter saído de seus últimos relacionamentos por conta de traições de seus parceiros, achou que seria mais difícil confiar. Estranhamente, confiar em Andrea desde o primeiro momento foi uma das coisas mais fáceis que já fez na vida. Confiou segredos, suas filhas, seu coração, e lhe confiaria a própria vida se fosse necessário sem nem titubear.

Pela primeira vez na vida Miranda não sentia a ameaça iminente de traição, pelo simples jeito que Andrea a olhava. As maiores - e piores - lembranças dela eram dos olhares de seus companheiros para outras mulheres, em sua frente, sem disfarçar a caça por uma carne nova, por uma conquista nova.

Com Andrea, pelo jeito de olhar ela já sabia que não havia possibilidade de traição. Todas as vezes que percebia os olhos de Andrea focados em si, existia uma completa devoção que algumas vezes chegava a doer, porque ela sabia que um dia provavelmente decepcionaria a morena, já que ela fatalmente decepcionava todo mundo sempre, e a expectativa desse momento lhe sufocava.

Mesmo com toda a confiança, Miranda estava agindo de forma petulante hoje e Andrea já havia notado. A mais velha estava quase envergonhada do próprio comportamento mas não conseguia evitar.

Andy não se lembrava de ter feito algo, mas sabia que precisava descobrir o que estava acontecendo antes que escalasse para algo fora de controle.

Repassando mentalmente, Andrea se lembrava de ter acordado ao lado de sua amada, quando estava tudo bem, os beijos trocados confirmavam isso; depois ela tomou uma ducha no quarto de hóspedes enquanto Miranda se arrumava. Elas de despediram de manhã com a promessa de um jantar e do dia seguinte dedicado às gêmeas para terminar de organizar a lista de presentes de aniversário das duas.

Pela correria do dia, a promessa de se encontrarem as oito da noite foi atrasada em uma hora por parte de Andrea.

Miranda estava sentada no estúdio perto da cozinha, um olhar perdido, uma dose generosa de whisky no copo.

"Ei, o que aconteceu?" Andrea questionou preocupada, ajoelhando-de aos pés da mulher. "As meninas estão bem? Você está bem?"

A voz preocupada, olhar aflito, a sinceridade... Os olhos de Miranda se encheram de lágrimas.

"As meninas estão bem, eu estou bem..."  Ela colocou o copo na mesinha e abraçou a mulher em sua frente, cheirando seus cabelos, agarrando-a, puxando-a para perto. As lágrimas transbordando em seus olhos.

"Quer me contar o que aconteceu?" A morena perguntou segurando o rosto de Miranda com as duas mãos.

"Não é importante agora." A resposta com a voz embargada dizia a Andy que não era a hora de tentar saber mais sobre o que estava acontecendo na cabeça da mulher em seus braços.
Por hora, seria um tópico esquecido, mas Andy esperava tornar em algo resolvido em breve.