XI - Devaneios

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Elas dançavam na sala de estar. Se permitiam embalar pela melodia e pelas luzes de velas no início da noite. A proximidade e as conversas ao pé do ouvido deixaram Andrea e 'Miriam' praticamente embriagadas de desejo.

"Quer saber um segredo?" Andrea murmurou. "Desde quando bati os olhos em você, eu me senti atraída pela sua beleza."

Miranda levantou a cabeça um pouco, o suficiente para que seu azul encontrasse o castanho de Andrea. 

"Eu sei como estou agora, Andrea, não precisa mentir."

"Eu não tenho o costume de mentir." A morena colou seus corpos de maneira mais firme, ainda que continuassem a seguir o embalo da música. A mais velha engoliu em seco.

"Eu tenho." Ela sussurrou fechando os olhos ao sentir a ponta do nariz da morena tocar a lateral do seu pescoço.

"Tem, é?" A mais nova indagou com a voz grave, num tom extremamente provocativo. "Me diga uma mentira, Miriam." Ordenou.

"E-eu não... ah..." Um gemido leve escapou ao sentir Andrea roçar os dentes de leve em sua pele. "Eu não gosto de dançar com você."  

"Outra mentira." desta vez Miranda sentiu o corpo tremer quando lábios carnudos e molhados beijaram seu maxilar de forma tentadora.

"N-não sinto nada quando você me toca." Andrea soltou um riso rouco em seu ouvido."

"Última mentira." Dedos firmes se emaranharam nos fios curtos, em um puxão de leve.

"Ah..." Miranda sentiu seus joelhos enfraquecerem "Eu não quero você agora."

Andrea puxou-a para mais perto de forma quase bruta.

Miranda se sentou bruscamente na cama. A testa suada, a roupa colando no corpo.

Pela quantidade de luz entrando pela janela ela sabia que ainda estava de dia, e então foi se lembrando vagamente. 

Depois do café da manhã reforçado, Andrea a convenceu de andar na praia. Elas fizeram uma caminhada leve, mesmo no frio. Era impressionante como a jovem conseguia convencê-la de coisas que outrora ela consideraria loucura somente com um sorriso de canto e um olhar pidão.

Miranda achava a situação perigosa. No ponto em que estava, Andrea poderia pedir qualquer coisa e ela daria simplesmente pelo prazer de ver o sorriso largo, os olhos alegres. Definitivamente estava perdida.

Agora ainda tinha o quase beijo e este sonho... Céus. Precisava de um plano, precisava se afastar.

O planejamento morreu antes mesmo de existir, quando Andrea entrou no quarto carregando uma bandeja com duas canecas. O olhar carinhoso, abertamente contente ao vê-la desarmou a editora. Ela nem queria pensar agora em complicações, em possibilidades, em nada.

"Você dormiu com o livro no colo." Andy comentou passando uma das canecas para a outra mulher. "Fiz para nós, porque esfriou um pouco mais e eu ainda não quero ligar o aquecedor." Miranda meramente concordou e respirou fundo, deixando o cheiro do conteúdo invadir seus sentidos. Ao contrário do café que ela esperava, tinha um chocolate quente que fez sua boca aguar. Ela experimentou e quase não conteve o gemido em sua garganta.

Elas degustaram o líquido, aconchegadas na cama como estava se tornando costume, as duas em silêncio.

"Como você sempre sabe o que eu preciso?" Miranda perguntou.

"Eu apenas sei." Foi a resposta que recebeu, e de verdade, era a única resposta possível.

Dois Cafés (Mirandy)Onde histórias criam vida. Descubra agora