Capítulo 02 - A punição e a recompensa da síndrome do coração bom

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Camila Cabello  |  Point of View




Acordei com um liquido quente espalhando-se por meu rosto, nem me virei para saber que alguém estava urinando em mim. Acertei um soco em sua perna, mas não ouvi gritos, era tarde, se nos pegassem iríamos para a solitária.

— Cabello, sempre se metendo no meu caminho.

— Que porra você tem na cabeça, sua doente. Eu nunca te fiz nada.

— Sei muito bem que a novata está sendo fodida por Nancy e a culpa é sua.

— Não me enche, Violet. Eu não dou a mínima para essa disputa babaca de vocês. – Limpei meu rosto e enxuguei ele. Virei meu colchão, ela analisava meus movimentos.

— Por que você não briga? Não reage a nada?

— Eu vou sair, babaca! Acha que eu vou brigar com alguém e correr o risco de ficar aqui por mais tempo?

— Nunca vão te perdoar, Cabello. Todos vão virar as costas e vão ser pior que eu. Aqui você é respeitada e lá fora a sociedade vai te comer viva.

— Não. Aqui eu sou temida, não me importa de qualquer forma. Eu tenho duas pessoas que se importam comigo e tudo vai ficar bem.

— Acho que é a primeira vez que conversamos mais de duas palavras.

— Só me esquece, Violet. Ainda bem que não olhei para cima, imagino que ver essa floresta que você tem entre as pernas me deixaria sem dormir por vários dias.

— Vai se foder, Cabello. Foi um aviso, não se mete mais nos meus esquemas.

Ela saiu da minha ala e eu não dormi mais, estava com esse cheiro horrível e não me deixariam usar o chuveiro tão tarde.


×××


Quando o sinal soou, procurei Lenir por todos os cantos e quando a encontrei pedi para ela me escoltar no banho. Por ser diferente sempre é muito complicado fazer isso.

Depois do banho, peguei meus lençóis e deixei o colchão contra a parede. Eu mereço isso. A novata não tinha voltado ainda e fui até a ala de Nancy, ficava na passada para lavanderia.

— E a novata?

— Voltou para a sua ala. Na madrugada mesmo. – Arqueei uma sobrancelha.

— Droga! Violet. – Ela arregalou os olhos. — Procure por Lenir, ela estava na ala 23. – Ela saiu correndo e eu fui correndo pelo caminho para o quiosque que usavam para namorar. Ninguém fazia ronda ali.

Ela estava no chão, a virei e senti seu pulso, que estava fraco, mas ela estava viva, muito machucada e nua.

— Droga! Que inferno.

A peguei no colo e Nancy estava correndo com a Lenir, a agente me pediu para eu continuar correndo até a enfermaria e eu sabia o motivo, não haviam macas e a ala médica era precária.

— Precisam levar ela para um hospital.

— O que aconteceu? – Bom... eu podia ir embora semana que vem e não me intrometer em mais nada, mas eu não iria conseguir dormir na minha nova cama quentinha da liberdade com isso me atormentando.

— Violet. Ela urinou na minha cara, eu a segui e vi ela discutindo com a novata. – Menti, mas eu sabia que era ela. — Não achei que fosse acabar assim.

A enfermeira fez os procedimentos padrões, Lenir segurou meu braço e o de Nancy, nos tirando do lugar.

— Se foi você... – Lenir me falou.

— Não fui eu, foi aquela imbecil.

Ela nos deixou na minha ala e foi chamar mais três agentes que passaram apressados por nós.

— Não foi você? – Perguntei a Nancy e ela negou.

— Não. Eu gosto da novata, Violet se aproveitou, a culpa é minha por deixa-la sozinha no corredor. – Ela me encarou. — Você falou aquilo, mas não viu nada...

— Não, mas ela urinou mesmo em mim. Por causa de vocês e é só juntar os pontinhos.

— Sim, mas agora você está ferrada, eu posso até tentar ajudar você, mas nem a solitária não para a Violet. As amigas dela vão acabar com você.

— Eu dou meu jeito.

Caminhei até minha ala e após arrumar meu colchão, sentei na cama e fiquei pensando no que fazer. Quando ergui meu olhar, as seguidoras de Violet estavam me encarando, todas espalhadas por minha ala.

Estou fodida, não tem mesmo o que fazer, elas vão me matar. Droga! Faltava tão pouco, eu tinha que agir na impulsividade. Imbecil.

— Circulando! O que fazem aqui? – Lenir chegou e eu me levantei, me escorando na pequena parede que separava os dormitórios. Elas saíram, ela me encarou e negou.

— Elas já devem saber.

— Com certeza. Eu estou morta.

— Você tem problema com lugares fechados, sem muita ventilação e ficar sem banho por uma semana?

— O quê?

— Acha que suportaria?

— Bom... claro. Já passei por tanta coisa.

— COMO É? ACHA QUE É QUEM?

— Mas... – Ela me segurou pelo braço e me arrastou.

— O que houve?

— Solitária por uma semana, vai aprender a me respeitar.

— Isso mesmo, agente. Essas só aprendem assim, ainda mais essa sem coração. – Fiquei encarando a jovem que caminhava entre nós, ela nunca me direcionou uma palavra, mas me pareceu bem convicta em sua análise sobre mim.

— Vai ser pesado, mas fora do meu turno não vou poder ajudar você e bem... você sabe que as outras agentes odeiam você.

— Eu entendo, muito obrigada mesmo, nem sei o que pensar.

— No primeiro dia você não ganhará comida, mas amanhã eles passam algo pelo buraco ali. – Ela apontou e eu sentei no elevado de concreto. — Não tem colchão.

— Sobreviver essa última semana compensa qualquer noite ruim. Nem sei como agradecer.

— Vou lá antes que eles preencham uma ficha de solitária, isso atrapalharia sua liberdade. Vou colocar para eles como uma piadinha interna e que só fiz por raiva de você. Eles vão entender.

Ela sorriu e saiu dali, a porta enorme de metal se fechou por completo e ouvi os trincos da porta sendo cadeados.

Fiquei meditando sobre tudo que aconteceu nos últimos anos e como eu estaria na manhã da minha liberdade. O que devo esperar do lado de fora? Eu sei que Alisha e Robbie estarão ali por mim.

NÃO ESQUEÇAM!

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