Xeque-Mate - Sheibi

Capítulo XXVI - O Troco.

Sheilla Castro Point of view.

Respirei fundo, enquanto meus pensamentos vagavam pela imagem de Gabriela ao lado de Sara. Sentia-me traída, mas não pela delegada, e sim, por mim mesma. Durante tantos anos tive total controle de meus sentimentos, de meus atos, para no fim, uma mulher chegar e mostrar que eu não poderia administrar tudo ao meu redor. Aquilo me consumia, célula a célula; era como perder o controle de meu próprio ser. Maldita delegada.

- Você está bem, querida?

Ouvi a voz grave de meu marido ao fundo, enquanto fitava o movimento de pessoas que caminhavam pela calçada, com seus enormes guarda-chuvas, e outras com suas capas. O céu cinzento derramava sobre Nova Iorque uma garoa fina, que não tardaria a se intensificar, transformando-se em um temporal. Encarei os olhos claros de Bruno assim que senti o toque suave de sua mão sobre a minha. Ele estava bem agasalhado, fitando-me com um semblante curioso.

- Está sim, meu amor. Só estava um pouco pensativa com tudo isso.

- Não se preocupe. Tudo vai se resolver. – murmurou ao entrelaçar os dedos aos meus.

Soltei um sorriso fraco, recebendo outro em troca. Ele parecia melhor do que nunca; talvez todos os medicamentos tenham surtido efeito rápido demais. Apesar do dia cheio, carregado de acontecimentos, ele parecia tranquilo.

- Eu espero que sim.

- Não tenha dúvidas, Sheilla.

Não demorou muito, e os enormes portões de ferro da mansão Muller foram abertos para nossa entrada. O veículo estava estacionado na parte frontal da casa, quando um dos funcionários se aproximou, abrindo a porta para que saíssemos. Corremos para o interior da casa, evitando nos molhar tanto com a chuva. Bruno e eu nos reservamos ao nosso quarto, ele de um lado com seu computador, e eu do outro com um livro qualquer. Ficamos algumas horas assim, sem trocar uma mísera palavra. Meus pensamentos estavam longe demais para entrar no papel de uma boa esposa, meus pensamentos rondavam a mulher de olhos castanho que não tardaria a chegar. Por alguns instantes julguei ter sido um erro ordenar que Gabriela comparecesse essa noite em minha casa, não era um momento adequado. Tanto pela sua expulsão do caso, quanto pelo meu estado emocional visivelmente abalado pela mesma. Atuar para Bruno havia se tornado algo natural, era como ser um personagem criado por mim mesma, para completar uma história que não tinha fim. Mas com Gabriela não era assim, não mais. Eu me perdi. Me perdi nos meus sentimentos, nos meus atos, nos meus planos. Tudo em mim era sincero para com ela, e eu simplesmente não conseguia agir diferente. Era enlouquecedor não ter controle sobre mim quando se tratava de Gabriela Guimarães.

- Você fez tudo errado, Sheilla. – sussurrei.

- Disse alguma coisa? – indagou o homem.

Ergui a cabeça e encarei seu rosto. Bruno deixou seu computador de lado, enquanto me fitava tranquilamente.

- Pensei alto, querido. Você quer que eu mande servir seu jantar aqui?

- Não, podemos comer lá embaixo mesmo.

- Tem razão. – disse ao me levantar, e me aproximar dele. – acho que depois de todo esse estresse, devemos ficar um pouco juntos.

Sentei ao seu lado, recebendo um sorriso.

- Acho a ideia maravilhosa. Estou com saudade de você.

- Está?

- Não faz idéia do quanto. – murmurou ao repousar sua mão sobre minha coxa.

Olhei para sua mão que desliza suavemente pela minha pele, e em seguida encarei seu olhar cortês. Eu já não lembrava há quanto tempo Bruno e eu tivemos a ultima noite de sexo. Desde que passei a me envolver com Gabriela, recusei suas investidas, o dopei e fiz acreditar que tivemos noites e noites de uma foda que nunca existiu, não depois de me entregar a Gabriela. Era como se ela pudesse me dar tudo que eu precisava, tornando assim a presença de meu marido totalmente desnecessária. Mas aquilo não poderia continuar, não depois de hoje. Se Gabriela era tão desprendida, por que eu não seria? Logo eu, que sempre vou me esforçar para estar um passo à frente, por cima. Sempre.