Capítulo XXI - Cuidados.

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Sheilla Castro point of view.

Senti os braços de Gabriela me envolvendo com cuidado, enquanto a chuva caía sobre nossas cabeças. O carro com os capangas havia acabado de se perder em meio à escuridão daquele campo deserto. Senti meu corpo ser erguido, fazendo com que eu me sentasse.

- Sheilla? Olhe pra mim. – abri os olhos e encarei aquele par de olhos castanhos tão preocupados.

Mesmo com a escuridão que nos acomodava, eu encarei seu rosto parcialmente iluminado pelos faróis acesos de seu carro, vendo as gotas de chuva escorrerem por sua pele alva. Mesmo sabendo que nada daquilo foi real, e que nunca corri perigo de vida, sentia-me incrivelmente segura nos braços daquela mulher, como se ela pudesse emergir daquele lamaçal de mentiras e rancor.

- Está tudo bem, eles foram embora.

- Me desculpa. – soltei quase em automático, sem perceber.

Gabriela franziu o cenho, unindo suas sobrancelhas no centro de sua testa. Ela me encarou com uma expressão confusa, mas logo tratou de negar com a cabeça. Senti minha respiração falhar em puro medo.

- Pelo que, Sheilla?

- Por te fazer passar por isso, eu... – acomodei meu rosto na curva de seu pescoço, interrompendo minhas palavras.

- Não tem que se desculpar, Shei. Eu vou tirar você daqui, ok? Está tudo bem agora.

Ela se ajoelhou no chão sujo, e com força me levantou, acomodando meu braço sobre seus ombros, enquanto rodeava minha cintura com um de seus braços. Caminhei com ela em direção ao seu carro parado no meio da estrada de areia. Estávamos completamente molhadas e sujas. Gabriela abriu a porta do veículo, e me acomodou no banco do passageiro, para logo em seguida correr em direção ao lado oposto. Gemi de dor pela ardência nos cortes em minha boca e sobrancelha, ao contrário de todo resto, aqueles eram reais. Gabriela se acomodou em seu banco de forma afoita, respingando água pelo interior do carro enquanto retirava o seu de tecido impermeável.

- Eu vou te levar direto para o hospital, e de lá chamo todos.

Suas mãos vieram de encontro ao meu rosto, deslizando seu polegar delicadamente em minha pele. Agora eu tinha uma visão melhor do rosto de Gabriela, graças à luz que iluminava o interior do veículo. Ela realmente parecia preocupada, o que só aumentava minha carga de culpa. Fechei os olhos, sentindo seus carinhos suaves me reconfortarem.

- Você vai ficar comigo? – perguntei.

- Vou fazer o possível pra isso, Shei.

De forma cuidadosa ela esticou seu corpo, pegando uma espécie de casaco que estava no banco de trás, no qual estendeu em minha direção.

- Vista isso, está frio e não faz nada bem você ficar molhada desse jeito.

- Mas e você?

- Não se preocupe, Sheilla. Eu estou bem, ok?

Eu assenti lentamente, ainda encarando seu par de olhos castanhos. Gabriela tinha uma expressão nervosa, e um tanto cansada. Eu abaixei as alças de meu vestido vermelho até a cintura, ficando apenas de sutiã na parte superior. Recebi seus olhos sobre mim, mas diferente do costume, eles não demonstravam desejo, apenas preocupação. O casaco fazia parte do uniforme da mulher na delegacia, suas mangas longas e o tecido grosso me esquentaram juntamente do aquecedor ligado por ela.

- Como está Bruno?

- Está ótimo. – disse ela sem nem sequer me fitar.

O carro foi ligado, dando partida para bem longe daquele imenso campo vazio. O lugar escolhido para o resgate era um pouco distante do centro da cidade, ainda tínhamos bons minutos sozinhos antes de começar o alvoroço entre polícia e hospital. Gabriela estava séria, um pouco tensa, permaneceu calada por um longo tempo, até que me acomodei mais próximo de seu corpo, juntamos minha cabeça ao seu ombro. A roupa molhada me dava calafrios, e eu só queria tê-la mais perto para me aquecer.

Xeque-Mate - SheibiWhere stories live. Discover now