Migalhas de Pão

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Johnny baixou os olhos e suspirou.

- O mérito não é meu. Acredito que o destino me deu uma mãozinha pra descobrir tudo. Quando te encontrei no estacionamento do hospital eu estava com a cabeça tão cheia que não processei muito bem tudo o que conversamos. A única coisa que guardei foi o projeto social do qual você falou. "The walk", estava escrito na bolsa. Lembro-me de ter-me questionado por que um projeto de educação teria esse nome; mas no final, encontrei sozinho uma explicação: educação nos dá um caminho. Devia ser isso. Somos bom em nos convencermos de algo quando queremos, não é? Pois bem... Isso nunca mais me incomodaria... até que...

- Nossa conversa no carro... - Interrompeu Ed, sem querer, não se dando conta que falara em voz alta o suficiente para que Johnny se calasse.

- Exatamente, Ed. Nossa conversa no carro. Nossa conversa despretensiosa e casual. O fato gente, é que Ed conhecia o projeto e me explicou do que realmente se tratava. Próteses associadas com alta tecnologia. "Por que o Charles mentiria?", me questionei. Achei que Charles talvez estivesse desenvolvendo uma prótese para si próprio e, pego de surpresa, ficou com vergonha de me contar.

Pensei em deixar pra lá, afinal, não fazia diferença a motivação do projeto, o importante era que qualquer uma das opções era boa. O problema pessoal, é que o mosquitinho da dúvida ficou caminhando nos meus pensamentos, me incomodando. E minha intuição não costuma falhar. Então fui até o hospital onde havia encontrado Charles, tentar descobrir alguma informação sobre ele.

- Isso é um absurdo! Você invadiu a minha privacidade! - Esbravejou Charles.

- Eu achei que você estava com problemas, Charles. Nunca me passou pela cabeça descobrir o que descobri.

Charles voltou a calar-se, mas sua respiração era ofegante e suor corria pelo seu rosto.

- Procurei o chefe da ortopedia e expliquei que eu era um amigo seu, e que estava preocupado com você. Ele conhecia o seu caso, mas não quis compartilhar informações.... foi muito profissional. Saibam que naquele hospital eles realmente respeitam o sigilo médico-paciente.

- Então você não descobriu nada, Johnny? Não estou entendendo onde você quer chegar com essa história toda! - Falou Wanda, visivelmente nervosa.

- Calma Wanda, logo vocês entenderão. O médico não quis dizer nada, mas quando eu estava saindo do prédio alguém me chamou.


"- Oi senhor! - Disse a voz.

Me virei e vi uma moça, que devia ter no máximo vinte anos, com cabelos longos, loiros e cacheados, sentada numa cadeira de rodas. Quando a olhei, ela sorriu.

- Olá, tudo bem? - Respondi.

- Comigo tudo ótimo. - Seus olhos negros brilhavam por detrás das grossas lentes dos óculos de armação vermelha. - Você é amigo do Charles? Desculpa, mas escutei sem querer a sua conversa com o médico.

- Sou sim. Prazer - estiquei a mão para cumprimentá-la - me chamo Johnny.

Ela correspondeu ao cumprimento.

- Prazer, Manoela, mas pode me chamar de Manu.

- Olá, Manu. Você conhece o Charles?

- Sim, fazemos nossas sessões de fisioterapia no mesmo horário, há meses. Conversamos muito pra passar o tempo. Ele é um cara muito legal. Ele está com algum problema?

- Ãh, não... não que eu saiba. É isso que estou tentando descobrir. Tenho achado ele meio estranho, mas ele não admite nada. Estou com receio de que precise de alguma ajuda e não queira falar.

- Nossa... sério? Ele parece tão bem nas sessões. Se recuperou tão rápido da cirurgia.

- Cirurgia? Ele fez alguma cirurgia recentemente?

- Recentemente não, estou falando da cirurgia das pernas. Sei que já faz um tempo, mas tomar aquela decisão não deve ter sido fácil.

- Que decisão?

- Oras, de amputar as pernas.

Vi a feição da garota mudar, de suave para preocupada. Certamente ela estava se perguntando se eu era realmente amigo do Charles. Como poderia ser amigo dele e não saber algo tão sério?

- Não, acho que você está enganada. Ele não fez uma cirurgia para amputar as pernas, ele sofreu um ataque no trabalho e... foi um ataque violento... no ataque ele... ele... - Percebi que eu ainda tinha dificuldades pra falar daquilo.

- Quê? Não! Quando ele sofreu o ataque ela já havia feito a cirurgia. As pernas já estavam comprometidas por causa daquele négocio... como se chama... que vai subindo pela perna...

- Gangrena?

- Acho que é isso aí. Ele me falou o nome, mas não sou muito boa de memória.

Fiquei tão chocado que perdi as palavras.

- Bem, preciso ir agora, mas espero que, se o Charles estiver com problemas, logo tudo se resolva. - Ela disse, voltando à feição suave.

- Eu espero também. - Respondi, ainda meio incrédulo. - Eu também. "


- Maldita Manoela!!! Aquela linguaruda! - Vociferou Charles.

- A partir daí foi só seguir as migalhas de pão que você deixou ao longo do caminho, Charles. Procurei o Ed e juntos fomos até o setor onde o projeto era desenvolvido. E foi lá que conheci o Dom.

Diego e Wanda se entreolharam, e Diego sussurrou:

- Quem raios é Dom???


Meu Namorado Bilionário - VOLUME 2Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora