Debate

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Já haviam se passado 6 horas desde que Johnny havia discutido com Allan e nenhuma notícia nova havia surgido.

Johnny estava deitado na cama, olhando o teto. Se tinha dormido meia hora durante a noite toda, era muito. Não conseguia ficar parado e muito menos descansando enquanto seu amigo poderia sofrer coisas horríveis.

- Nós vamos achá-lo.

A voz de Alice o fez despertar de seus pensamentos sombrios; ele se virou para ela e esboçou um pequeno sorriso.

- Que bom que você está comigo. Tudo isso é um grande pesadelo e eu não sei o que faria se estivesse aqui sozinho.

- Temos que ter fé. Eu sei que aquele detetive é meio difícil...

- Meio difícil? Ele é um completo cretino!

Alice suspirou. Não queria inflar ainda mais a raiva de Johnny, mas também não poderia discordar dele; o detetive era uma mala sem alça.

- Sim, ele é um pé no saco, mas tem o restante da equipe da polícia trabalhando no caso. Tem muita gente boa, trabalhando sério. E o Diego é inteligente, é esperto, tenho certeza que ele vai fazer tudo que estiver ao seu alcance para escapar.

- Mas ele está em desvantagem num quesito muito importante Alice: ele não é violento, nós não somos violentos, mas esse bandido que nos persegue é. O que me intriga é que não entendo a real motivação dele. Quando ele atacou a Valentina eu acreditei que era por preconceito por ela ser homossexual. Mas daí veio ataque ao Charlie...

- Você sabe se ele também é?

- Não falamos exatamente sobre isso, mas eu acredito que não. Ele me contou histórias de ex-namoradas, sobre a falecida esposa dele. Sei lá... pode ser que seja um segredo dele, mas não tenho como ter certeza sem perguntar. Mas, mesmo que seja por isso, porque os ataques são somente com funcionários da Dollar?

- Voltamos a teoria que é alguém dentro da equipe.

- E por que alguém atacaria os membros da própria equipe?

- Amor, não tem como saber o que passa na cabeça das pessoas. Cada pessoa é seu próprio universo. Talvez ele vivia num mundo preconceituoso dele, e quando se viu convivendo com pessoas de verdade, surtou.

- É, parece o mais provável. Bem... - Johnny deu um salto da cama, e se dirigiu ao closet para se vestir – eu não posso trabalhar com a polícia, mas eu posso fazer uma investigação dentro da minha própria empresa. Se o criminoso está trabalhando pra mim, eu posso descobrir.

Alice se levantou e foi até Johnny.

- O que você está pensando em fazer?

- Havia mais duas pessoas que trabalharam na equipe Optimus. Lembra? Alexia e Eddie. Acho que já passou da hora de conhecê-los.

XXXXX

Diego estava sentado na cama, esperando o sequestrador aparecer. Torcia para que ele não tivesse mudado de ideia. Torcia também para que a proposta do maluco não fosse da boca pra fora, do tipo "eu até concordo com você, mas você ia morrer de qualquer jeito".

Olhou o tablet; na tela piscava "bateria fraca". Acreditava que logo o sequestrador abriria a portinhola e jogaria um carregador, para que ele pudesse recarregar a energia do aparelho. Porém, quando a portinhola abriu, outra coisa foi lançada: uma escada de corda.

- Suba, aberração.

Diego respirou fundo, se segurou na corda e subiu.

Ficou surpreso com o ambiente que encontrou.

Era um tipo de sala de estar, com uma sofá de veludo azul-marinho de 03 lugares, com duas almofadas marrons apoiadas no encosto direito. De frente para o sofá uma cadeira de madeira, parecida com cadeiras utilizadas em varandas de casas de praia. Entre o sofá e a cadeira, uma mesa também de madeira, coberta por livros e revistas.

Todas as paredes do ambiente era da cor azul-marinho, o que deixava o local bem escuro, e a única fonte de luz era da lâmpada de led do teto. Na parede à sua direita, havia uma grande moldura de uma fotografia preto-e-branco de uma canoa solitária no meio do oceano.

O sequestrador estava em pé atrás do sofá; ao contrário do que Diego imaginava, ele era de estatura baixa, tinha no máximo 1,65m de altura. Estava todo vestido de preto, e com a cabeça coberta por uma máscara que só tinha abertura para os olhos e para a boca.

- Sente-se. - falou, apontando para a cadeira.

Diego estava muito intrigado. O lugar era sofisticado; podia-se até dizer que a decoração era de bom gosto, apesar de sombria. Enquanto se sentava, deu uma repassada de olhos nos livros em cima da mesa: "Guerra e Paz" de Liev Tolstói, "Divina Comédia" de Alighieri, "O Príncipe" de Maquiavel, "Suma Teológica" de Tomás de Aquino, além da Bíblia e do Alcorão.

"Meu Deus, o que será que se passa na cabeça desse cara?"

Diego sabia que todos aqueles livros eram importantes, mas todos juntos não o ajudavam a traçar um perfil do sequestrador.

"Burro ele não é...", foi tudo o que conseguiu concluir. Não estava falando com alguém simplesmente manipulado; era alguém culto, inteligente, o que não descartava a chance de ser um completo maluco.

- Qual é o seu argumento? - disse o sequestrador, sem se mover de trás do sofá.

- Você não vai sentar? É meio desconfortável a gente debater desse jeito. Meu pescoço vai doer de tanto ficar olhando para cima.

- Estou bem aqui. Não temos porque perder tempo. Se quiser começar, tem que ser agora.

- Ok. - respondeu Diego, tentado parecer despreocupado. - Você quer saber meu argumento, certo? O problema é que nem sei sobre o que estamos falando. Você disse que o que faço é perversão. Presciso que você explique exatamente do que está falando. O que eu faço? E o mais importante... - inclinou o corpo pra frente, ficando na ponta da cadeira, e falou com a voz suave, como se transmitisse um mistério – O que é perversão?

O homem arqueou as sobrancelhas, e Diego quase podia adivinhar seu pensamento o chamando de "ignorante metido a esperto".

- Você quer gastar seu precioso tempo falando de etimologias então, criatura? Ótimo.

Ele deu a volta no sofá, se sentou, cruzou as pernas e continuou falando.

- Perversão vem do latim "perversione", levar ao caminho errado, corromper. Trazendo para atualidade, na terminologia médica, perversão é um tipo de anomalia de comportamento que pode ser, inclusive, sexual. Você deve pensar que é disso que estou falando, não é? - sua voz mudou de tranquila para rude – Mas a perversão a que me refiro é a apresentada no Dicionário de Émile Littré, que eu duvido que você conheça, que define a perversão como a transformação do bem em mal. E é isso que você faz, com seu comportamento sujo. Você é um Midas do inferno.

Diegou engoliu a saliva, atônito. Aquela discussão não seria tão simples como pensava.

Mas tudo bem.

Estava lá justamente para jogar, e não aceitava perder.

Meu Namorado Bilionário - VOLUME 2Where stories live. Discover now