Meu Namorado Bilionário - VOLUME 2

Constatações

- Sua história é comovente; infelizmente não estou aqui para testar emoções, estou para uma discussão racional, e não entendi o que você quis argumentar com tudo isso.

Diego percebeu que o sequestrador tinha ficado mexido com a história, mas estava longe de ser convencido a libertá-lo. Será que percebeu que ele estava mentindo?

- Quis demonstrar tudo é questão de percepção. Eu sou o mesmo Diego para meu pai, para meus ex-vizinhos, para toda a sociedade, mas cada uma me interpreta de uma forma. Me julga conforme seus próprios critérios. Para alguns sou apenas um cara legal, para outros sou um pervertido, para outros sou exemplo de coragem... para a moça da cafeteria sou apenas o cara que todos os dias senta na mesa ao lado da janela e pede o mesmo tipo de café. Então não sou eu que tenho que ser "trabalhado", são vocês que tem que entender porque uma escolha MINHA afeta tanto vocês.

Diego se levantou, caminhou até o sequestrador e sentou-se ao lado dele, encarando-o.

- Eu nunca sequestraria alguém.

Incomodado, o sequestrador se levantou.

- Você está fugindo do assunto. Não estou dizendo que as outras pessoas são perfeitas. Eu não sou perfeito. Mas isso que você faz não é natural!

- E o que é natural? Bois e vacas? As plantas crescendo no jardim? É nesses padrões que você quer me encaixar? Eu, um ser humano racional, repleto de sentimentos, com uma personalidade resultante de meus traços genéticos, das minhas experiências, da influência de todo um ambiente e das pessoas que o compõe... devo ser analisado com a mesma régua de critérios de uma vaca?

- Você está brincando comigo?

- Não estou mesmo! Sabe... eu já percebi que você é um cara muito inteligente. Quando é que você decidiu estreitar tanto sua forma de pensar? Eu entendo que você não precisa concordar comigo; mas deixar de viver a sua vida para interromper a vida de outra pessoa, só por causa de uma crença? O que aconteceu com você para você ficar assim?

O sequestrador permaneceu alguns segundos em silêncio, sem desviar os olhos de Diego.

Então se levantou e caminhou até a porta; antes de sair, disse:

- A nossa conversa já acabou.

E saiu, batendo a porta atrás de si.

Diego estremeceu. O que aquilo significava? Já conseguia imaginar o sequestrador voltando armado e desferindo-lhe um tiro na testa. Sentiu enjoo. Levantou-se e precisou se apoiar no encosto do sofá.

Foi quando seus olhos captaram algo que o paralisou.

- Oh my God...

XXXX

Alexia revirou os olhos.

- Sério mesmo que vocês me consideram uma suspeita? Acham que eu teria capacidade de correr atrás de uma pessoa jovem, derrubá-la e feri-la a ponto de quase matá-la? Eu não gosto de duvidar de minhas próprias capacidades, mas por favor, sejamos realistas.

- Você talvez não, mas você poderia ter ajuda. - disse Johnny, olhando para a neta de Alexia, que na hora arregalou os olhos.

- O que é que você está insinuando? Não pense que porque você é meu chefe que vou deixá-lo entrar na minha casa e acusar minha neta. Ela não tem nada a ver com isso. Pensei que queriam minha ajuda, mas se a intenção é nos acusar, deem o fora daqui.

- Não me interprete dessa forma, Alexia. Nosso objetivo aqui é pensar nas possibilidades, levantar hipóteses. E, sinceramente, eu não havia pensado na possibilidade de que este cara não esteja agindo sozinho, até esse momento. Então, de qualquer forma, ter vindo aqui já ajudou.

Alexia, que havia ficado com a face corada de raiva, respirou fundo e se acalmou.

- O que vocês querem saber de mim, exatamente?

- Queremos sua opinião. Você faz parte da empresa, é uma funcionária experiente. Queremos seu ponto de vista.

- Pois bem. Concluo que, para vocês escolherem falar comigo, entre tantos funcionários, é porque desconfiam que esse bandido fazia parte da equipe Optimus. Faz muito sentido, afinal os crimes foram cometidos dentro da empresa, então precisa conhecer muito bem nosso sistema de segurança para conseguir burlá-lo.

Sezão e Wanda se entreolharam, como se compartilhassem o pensamento de "ela é boa". Johnny continuava com os olhos fixos nela.

- As duas vítimas têm um ponto em comum: fazem parte de "minorias". A moça é homossexual e o Charles, meu colega de equipe, é cadeirante. Logo, a motivação mais óbvia é o preconceito. Se eu fosse vocês, pararia de perder tempo entrevistando funcionários e começaria a pesquisar grupos que pregam racismo, homofobia. Quem sabe até grupos que apoiam o conceito de "raça superior". Eu começaria por aí.

- Ok, concordo que sua ideia faz sentido, mas existem grupos minoritários existem em qualquer lugar. Por que ele está focando nos funcionários da Dollar S.I.? - questionou Sezão.

- A Dollar é referência em inclusão e diversidade. É uma empresa inovadora, na qual os jovens querem trabalhar, e que se adapta rapidamente as mudanças da sociedade. A Dollar S.I. está deixando de ser uma empresa qualquer; está virando um símbolo dessa geração que está surgindo. E é óbvio que esse criminoso, ou grupo, está tentando passar uma mensagem.

- Mensagem? - perguntou Johnny.

- De que vocês serão destruídos.

- Destruir uma empresa como a Dollar? Então esse cara é mais burro do que pensei. - disse Wanda.

- Quando digo "destruir" não me refiro somente a estrutura física, embora não duvide disso também, mas especialmente de uma destruição do que a empresa representa. Quanto tempo levará até que as pessoas comecem a ter medo de trabalhar lá? E pior: as outras empresas ficarão com medo de sofrer retaliações também, e deixarão de contratar minorias também.

- Não tinha pensado nisso. - respondeu Johnny.

- Já faz um tempo que os crimes aconteceram, então isso não está mais tão vivo na memória das pessoas. Mas e se outro crime acontecer? Eu aposto que será uma debandada geral. Vocês não podem deixar isso acontecer.

Johnny baixou a cabeça. Sezão respondeu:

- Já aconteceu. Mais um funcionário, e amigo nosso, foi sequestrado.

Alexia se encostou na poltrona.

- Essa não.

O silêncio tomou conta da sala.

"Onde você está meu amigo?", pensou Johnny, sem imaginar que a situação de Diego estava prestes a mudar.