P E R D O A R.

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UMA VEZ EU LI EM ALGUM SITE SOBRE FILÓSOFOS DO SÉCULO PASSADO, que o que mais fazemos nessa vida, é tentar seduzir alguém. Para muitos, a arte de seduzir é encorajar, estimular, provocar. Para outros, seduzir é sentir-se desejado. Já eu acredito que seduzir pode ser uma junção bem caótica de tudo isso.

Passei grande parte da minha vida seduzindo pessoas, até mesmo quando não tinha intenção para isso. Acho que, de alguma forma ou outra, meu corpo virou um mero método de conseguir o que eu queria e na hora que eu queria.

Quando conversei sobre isso com Charlotte, ela disse que eu não gostava realmente de estar com as pessoas, que eu ia pra cama com tanta gente porquê eu queria esquecer a merda que aconteceu quando eu era criança. Então, de alguma forma, eu estava tentando preencher um vazio fodido dentro de mim.

Passei uma grande parte da minha infância sendo abusada por meu pai - tanto psicologicamente quanto sexualmente - e foi a partir daí que comecei a usar meu corpo pra conseguir o que eu queria. Acho que eu fantasiava tanto sobre estar no controle de tudo, que acabei me obrigando a gostar de sexo. Eu queria pensar que, já que não haveriam muitas opções para mim quando se tratava de sexo, pelo menos eu estaria ganhando alguma coisa em troca.

Foi assim com Nolan também, apesar de eu pensar, por muito tempo, que ele era o cara pra mim.

Escute, eu nunca acreditei muito nessas coisas de alma gêmea e destino, mas meio que me obrigava a ter esperanças no amor. Eu amei Nolan. E pensei que ele também me amava. Só que eu demorei pra perceber que o amor não era assim tão destrutivo.

Antes, quando escutava a palavra amor, automaticamente pensava em Nolan Valley, porquê ele foi o mais perto que alguém já conseguiu chegar para arrancar algum sentimento de mim. Mas agora... Quando olho para trás e relembro de tudo o que vivi nesse relacionamento fadado ao fracasso, eu sei que o amor não é nada daquilo.

É claro que o amor machuca, mas ele não deveria ser visto como algo destrutivo.

Eu olho para o teto do quarto, sentindo meus olhos pesando de pouco em pouco. Estou dormindo pra caramba com esses remédios que passei a tomar, mas eles não são o suficiente para evitar os pesadelos. Não sei quanto tempo faz que estou nessa cama, mas sei que não fui trabalhar hoje. E nem ontem ou antes de ontem.

Hector vem até meu apartamento para checar como estou vez ou outra, só que eu não tenho nenhuma disposição para me levantar e fingir que estou bem. Não consigo me alimentar porquê não sinto fome, e só saio da cama pra tomar banho e escovar os dentes - mesmo que também esteja sendo um esforço para mim. Jimin tem me ligado e mandado mensagens também, só que eu não tenho forças para respondê-lo. Através de Minnie, quem veio aqui quase todos os outros dias, ele tem notícias sobre mim.

Não tenho certeza do que Soyeon fez em questão as minhas fotos com Nolan, mas Hector tentou me dizer que haviam resolvido. Eu não me importo muito mais, porquê a merda agora já havia sido feita.

Não fui atrás de Shuhua e ela também não veio buscar por mim, mas sei que ela não estava indo trabalhar porquê Soyeon ainda me mantém informada sobre isso. As vezes sinto vontade de pegar o celular e ir atrás dela, só que eu sou orgulhosa demais pra isso.

Viro de barriga pra cima, sentindo minha cabeça doer. Acho que tem conexão com a quantidade de remédios que estou tomando sem me alimentar, mas eu não me importo. Só quero dormir e esquecer.

- Soojin? - a voz de Hector ecoa do outro lado da porta. Viro o rosto, abraçando o travesseiro quando vejo meu pai entrar para dentro do quarto. - Eu fiz uma sopa para você, por quê você não-

- Não estou com fome, pai. - eu o corto, sentindo o gosto amargo em minha boca. Ele me olha, suas orbes transmitindo toda dor por me ver daquele jeito. Não quero que ele me olhe assim, mas não consigo fazer muita coisa pra mudar meu estado fodido. - Só quero ficar sozinha, será que posso?

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