C O L L A T E R A L D A M A G E .

2.1K 199 1.1K
                                    

ATENÇÃO: o cap de hoje contém menção a negligência infantil e abuso sexual

5 ANOS ATRÁS - CIDADE DE NOVA YORK

SOOJIN SOUBE QUE SUA INFÂNCIA SERIA DIFERENTE das outras crianças aos quatro anos de idade. Era seu primeiro dia de aula na escolinha e, no intervalo, ficou surpresa quando as outras crianças tiraram de suas mochilas lanches feitos por suas mães. Um tanto quanto confuso, já que em casa a pequena garota se virava como podia para se alimentar, arrastando os banquinhos de madeira até o armário e subindo por cima deles para alcançar o pacote de cereais.

Aprendera que, quando sua mamãe não tinha disposição para sair do quarto, então era quando ela precisava se virar com o que achava na cozinha. Desde sobras da noite passada, a sopa fria e passada que sua avó fazia quando a visitava.

E assim seguira sua vida. Entre trancos e barrancos, precisava suportar além das brigas frequentes dos pais, como as festas rogadas de drogas e desconhecidos em sua casa. Sair aos domingos como uma família normal faria? Esqueça! Soojin, apesar de muito pequena, sempre teve os pés no chão e a sua realidade era fria.

Desconhecia afagos e carinhos, já que seus pais estavam ocupados demais se enchendo de drogas e esquecendo por completo a garotinha que tinham em casa. Quase não era permitida a ver os avós, que mesmo com toda distância, ainda eram o mais perto de uma família normal que Soojin chegara a ter. Mas as coisas começaram a desabar logo após completar seis anos de idade.

Ficar sem comida e não ter o carinho  de seus progenitores não era nada comparado a atenção exagerada que recebia de Tom Waller, ou tio Tom, que era como Soojin era obrigada a chamá-lo. Na época, não entendia muito bem o que acontecia, mas diabos, era apenas uma garotinha de seis anos de idade! Tudo o que Soojin sabia, entretanto, é que não gostava de estar na presença de tio Tom, ou de seus carinhos que, muita das vezes eram dolorosos e incômodos.

As vezes, se deitava na cama e contava as pequenas rachaduras do teto para que aquilo acabasse logo. Ela sabia que quando chegava na oitava rachadura, aquele pesadelo acabaria logo. Era complicado, mesmo não sabendo do que se tratava, e doía como o inferno quando percebia o olhar de desdém que sua mamãe lhe lançava sempre que a encontrava de manhã.

Soojin apenas queria ser amada de verdade.

As visitas de tio Tom pararam de acontecer quando completara nove anos de idade, o que Soojin honestamente ficava feliz. Não sabia o que havia acontecido com o homem, mas sentia-se aliviada por não ter que fingir gostar de suas carícias. O pesadelo, entretanto, estava longe de acabar.

Com dez anos de idade, Soojin já possuía curvas demais para sua idade, era diferente das outras garotas. Em decorrência disso, chamava atenção dos garotos de sua idade, rapazes mais velhos e até mesmo homens. E não foi muito diferente em casa.

Ela sabia que os olhares que seu pai lhe lançava eram diferentes dos olhares carinhosos e recheados de amor vindo de seu avô. Por isso, quando sabia que o homem voltaria bêbado e drogado para casa, trancava-se em seu quarto e apenas saía de lá no dia seguinte. Não sentia-se segura em sua própria casa e não possuía coragem para contar isso para as autoridades, e muito menos para seus amigos.

Até porquê Soojin não tinha amigos.

Seu mal comportamento e atitudes duvidosas acabara por afastar absolutamente todos os colegas de classe que poderia desenvolver algum tipo de amizade, e isso incluía também os professores, que mal a suportavam como aluna dentro de sala. Suas mudanças de humor e atitudes explosivas os deixavam crédulos de que aquela jovem garota não teria nenhuma redenção no futuro.

VERMELHO CEREJA Where stories live. Discover now