L I B E R D A D E.

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SÓ CHORA QUEM SE AFOGA EM LEMBRANÇAS. Uma vez eu li em um livro: chorar é um defeito, uma fraqueza.

Então por que eu choro? Em qual lembranças estou me afogando?

Sinto que choro por lembranças que não lembro, como se tivesse um mundo que alguma vez foi meu mundo. As vezes escuto uma palavra, ou vejo um rosto e tenho uma sensação estranha, como se esse rosto ou essa palavra me levassem a outro lugar, a outro tempo. É como se em minha alma tivesse um grande muro que divide outro mundo, outra Shuhua, outra história para descobrir, e isso me dá medo. Me dá medo abrir essa porta, me dá medo do que posso encontrar do outro lado do muro.

As lembranças não se pode matar, muito menos esconder, só se pode esquecer. Mas como esquecer de algo que nem me lembro?

Eu sinto como se tivesse esquecido de quem sou realmente, como se vivesse uma mentira, como se não fosse quem acredito que sou.

Um fica feliz pela vida, acreditando saber quem é, e de repente uma chave, uma simples chave, te abre a porta de um mundo desconhecido.

Só sabendo quem você foi, se pode se saber quem você é. É possível que um seja alguém diferente sem lembrar? É possível ser alguém diferente de quem pensa ser?

As lembranças são como histórias, são escritas por quem ganha. Que lembranças ganharam a minha história? Quem escreveu a minha história?

É muito importante saber quem você é.

Eu não sei quem sou.

Esses são questionamentos que tenho me feito faz muito, muito tempo, e não tenho certeza de quando comecei a me sentir assim... Ou se eu já era dessa forma bem antes do acidente. É frustrante e eu me irrito com frequência quando paro pra pensar que... Que eu não sei e nunca vou saber se meus pais biológicos passaram pela mesma transição porquê eles nunca fizeram a mínima questão de estar por perto. Em nenhum momento. Nunca mesmo. E não gosto de pensar nisso, mas eu penso.

É complicado e não gosto de pensar neles... Não gosto porquê é doloroso e eu tenho que seguir em frente, já que cada um deles decidiu que eu não faria parte de suas vidas no instante em que me deixaram na porta daquela igreja.

Essa linha de raciocínio é meio patética se olhar do lado de fora, mas estou expondo tudo isso para deixar entreaberto a maneira como Soojin pareceu machucada enquanto chorava na minha frente. Bem, não apenas machucada, mas quebrada.

E eu me lembro de pensar, quando olhei em seus olhos, que já tinha visto aquele tipo de fragilidade antes, aquela dor excruciante que te devora de dentro para fora. Uma dor que é tudo, e ao mesmo tempo nada.

Eu não hesitei quando a vi remexer na cama, soltando alguns resmungos enquanto fazia careta ao provavelmente sentir sua cabeça latejando pelas bebidas de ontem. Então eu esperei um tempo até que ela finalmente estivesse consciente de onde estava e com quem estava.

E quando ela levantou seu corpo parcialmente, checando o local com seus olhos turvos e um bico gigantesco na boca, me fiz ser vista.

- Sophia, - respirei fundo porquê não queria brigar logo cedo. - o que foi que aconteceu? - perguntou, passando o indicador e o polegar por sua tempora. - Parece que um caminhão passou por cima de mim, meu corpo todo dói.

- É claro, - respondi. - você provavelmente bebeu todas as bebidas daquele bar chique.

- Não lembro de nada. - respondeu baixo.

Ah, merda.

- Nada? - tentei.

- Nada. - me olhou. - Hm, okay. Por quê é que estou usando roupão? A gente...-

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