Capítulo 59 - Suja

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Camila Cabello  |  Point of View




Depois de um mês na UTI, as nossas filhas foram liberadas para ir pra casa. Lauren estava radiante, mas muito cansada. Esse mês foi muito complicado, nossa rotina era quase toda no hospital, Cal ficou a maioria do tempo com Normani e ele não aceitou bem isso. Na verdade ele não aceitou nada bem em relação às meninas... nada mesmo e isso nos deixa completamente triste. Quando chegamos a nossa casa, todos nos esperavam. Depois de uma pequena reunião, eles saíram e Lauren foi amamentar as meninas. A acompanhei.

— Pensei que já tinha enjoado disso. – Ela disse, enquanto pegava uma delas e colocava no colo. A ajudei colocando uma do outro lado dela e fiquei com outra no colo.

— Não tem como. É tão lindo ver você amamentando. – Ela sorriu.

— E Caleb?

— Trancado no quarto dele. – Ela ficou séria.

— Não sei o que fazer com ele.

— Vamos dar um tempo a ele. Depois conversamos.

— Não sei. Ele pode se sentir mais excluído ainda. – Fiquei olhando a bonequinha em meu colo e depois sai do quarto. Bati na porta e Caleb jogava sentado no chão. Olhou para mim e voltou à atenção para TV. Sentei ao lado dele.

— E aí, meu filho? Como está?

— Bem.

— Vamos ao quarto das meninas? Fique conosco um pouco.

— Não.

— Pare de birra, Caleb. Elas são suas irmãs, vai ter que se acostumar com isso.

— Elas mal chegaram e já recebem toda a atenção de vocês. Não precisa se preocupar comigo... ou com minha apresentação na escolinha ontem. Só vocês não foram.

— Ouch... filho... foi muita pressão. Elas exigem mais de nós por que... olhe aqui. – Falei mostrando a pequena em meu colo. – Olhe o tamanho dela, ela não pode se defender e não sabe fazer nada. Perdoe-nos por ter esquecido, mas você viu como foi esse mês. Foi super estressante e você viu como sua mama está? Magra e cheia de olheiras. Olha pra mim... estou na capa da gaita também. Perdoe-nos... estamos dando o nosso melhor. – Ele ficou me olhando por um tempo e depois olhou para a irmã. Largou o controle no lado dele e se aproximou. Ele tocou a mão dela com a ponta do dedo e ela apertou... ele sorriu.

— Ela é forte. – Ele tocou o rosto dela. — Será que ela se parecerá com você, assim como eu?

— Não sei. Queria que elas fossem parecidas com sua mãe. Vamos vê-la? – Ele assentiu. Entramos no quarto e Lauren já havia colocado as meninas no berço.

— Falta esta. – Lauren disse pegando a menina dos meus braços e sentando novamente. — Como está, meu pequeno?

— Estou bem, mama. – Ele disse e ficou parado perto do berço. Tocou o rosto das irmãs e depois sentou ao lado de Lauren. Fui até o banheiro e comecei a lavar minhas mãos.

Quanto mais eu esfregava, parecia que havia sangue nelas. Eu me lembrei do que aconteceu e de como matei um homem... independente de ser um cretino ou não... foi uma vida que eu tirei. Peguei uma escova para esfregá-las direito, mas nada era suficiente, a sujeira era interna. Voltei para o quarto delas e Cal segurava uma das irmãs.

— Viu papa? Ela parou de chorar no meu colo.

— Que bom meu amor. Ela deve ter sentido que você é irmão dela.

— Foi o que a mama falou. – Ele sorria e segurava sem jeito a pequena em seus baços, sobre a supervisão da mãe. Depois de devidamente alimentadas, as colocamos no berço e ligamos a babá eletrônica.

Lauren se deitou e eu fui preparar o jantar. Cal me ajudou e depois foi chamar a mãe, Dinah avisou que jantaria fora.

Quando já estávamos deitadas, fiquei repassando aquela cena em minha cabeça... várias vezes e por mais que eu tentasse dormir... esquecer... não dava. Fiquei me virando e procurando uma posição agradável para dormir, até sentir minhas mãos sujas novamente e ir ao banheiro para lavá-las. Fiquei uns dez minutos esfregando... escovando... minhas mãos pareciam estar em carne viva, mas a sensação de estar com elas sujas não cessava. Lauren apareceu na porta e baixei minha cabeça, cada vez que eu a olhava nos olhos, minha culpa dobrava de tamanho.

— Camz... o que você tem? Ficou se mexendo tanto e faz quase uma hora que está no banheiro.

— Estou sem sono.

— Só isso?

— É.

— Porque não olha pra mim?

— Como assim? – Falei forçando um sorriso.

— Você não me olha nos olhos há dias. O que está acontecendo?

— Nada Lauren. Está tudo bem.

— Fale logo, Camila. – Ela fechou a torneira e olhou para minhas mãos. — O que é isso, Camz? Suas mãos estão machucadas de tanto você escová-las.

— Elas estão sujas.

— Não estão, Camila. O que você tem?

— Eu as sinto sujas... sinto-me suja, Lauren. Suja e culpada.

— Oh Deus Camz. – Ela me abraçou. — Você salvou nossas vidas... não pode sentir culpa disso.

— Eu matei alguém, Lauren. Seu pai... você tem noção de como minha cabeça está agora?

— Você está assim porque é boa demais, Camila. Tem um coração enorme... você fez o que eu faria se estivesse no seu lugar. Seu pai faria... até sua mãe faria o mesmo. Você protegeu sua família, você salvou seis vidas.

— Droga, Lo. Porque você é tão perfeita?

— Não sou... não como você. Eu te amo, Camz. Amanhã vou pedir para sua mãe te levar a um psicólogo. Vai te fazer bem. – Assenti. — Agora venha. – Ela pegou minha mão e nos deitou. Foram cinco minutos até as meninas acordarem e começarem a chorar.

ReviravoltaWhere stories live. Discover now