Capítulo 28

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Continuação...

11 anos atrás...

              
               Não parei para pensar o que era aquilo tudo, eu tinha que sair dali, mas não sem antes pegar algumas coisas. Então mesmo estando morta, a senhorita Anastasia poderia me ajudar. Peguei os brincos, o colar, os anéis, a carteira, a bolsa...não me senti mal. Isso significa alguma coisa? Eu não sou mal, sou? Estou fazendo isso para sobreviver, então é uma necessidade e cadáveres não usam essas coisas e nem dinheiro, mas eu uso.

                 Sai pela porta dos fundos e corri, corri o máximo que minhas pernas permitissem. Me escondi em outro beco que julguei ser o mais próximo de seguro, e sentei em um canto me encolhendo para que ninguém me visse. Eu tive esperança, uma última eu acho, porque aquela faísca quente em meu peito já não estava mais aqui e eu não me sentia aquecido. Ela foi embora, a última esperança que eu tinha morreu.

*********

                Mais um ano havia se passado e praticamente nada mudou. Dois dias depois, o massacre da lanchonete (como haviam nomeado) saiu no Jornal, e junto com ele a notícia da morte da última Tremaine viva. Como Anastasia tinha dito, os seus bens foram congelados e tudo o que ela tinha.

                 Segui a minha vida. Vendi tudo o que eu havia pego, comprei comida, algumas roupas de frio, livros para que eu podesse estudar, porque eu não queria acabar como um órfão mendigo e burro, consegui até pagar uma semana em uma pousada. Obviamente que não foi tudo, até porque eu não gastei de uma vez. Confesso que até tentei sair de Nova York, mas não deu muito certo, e acabei ganhando um olho roxo nesse processo.

                  Na verdade as coisas continuam a mesma. Infelizmente eu continuo sozinho e triste.

*********

                 Perdi tudo, já faz três meses que eu não consigo nenhuma carteira, não consigo comer mais com frequência e as coisas estão ficando sérias para o meu lado. Os banhos constantes não vêem tirando a minha cara de menino de rua, porque minhas roupas já não ficam mais limpas. Fui simplesmente reduzido a nada. Minha vida vem com frequência correndo muito risco e já me vi tentado a voltar para o orfanato umas dez vezes, mas não posso, porque prefiro ficar aqui, em um beco sujo e horrendo, do que voltar para aquele lugar.

**********

              Só talvez eu tenha começado a pensar que tudo isso é exclusivamente culpa minha e somente minha. Inventei um amigo imaginário para ter em quem colocar a culpa, mas eu só posso culpar a mim mesmo. Não importa que eu só tenha onze anos e que eu ainda não saiba o significa da vida ou blá, blá, blá. A culpa é minha.

               Fui eu quem abriu a porta e saiu, fui eu quem deixou a mesa para ir no banheiro calar a voz que eu mesmo inventei. Fui eu quem nasceu com pais problemáticos que me abandonaram em um orfanato, tudo eu. E agora estou aqui me lamentando por não ser uma estrela, um menino de ouro, Harry alguma coisa. Eu sou tão inútil que nem um sobrenome eu tenho.

                Andar pelas ruas de Nova York já estava ficando cansativo depois de três anos. Eu conheço praticamente todos os moradores de rua dessa cidade, conheço cada beco, rua, avenida, bueiro. Mais naquele dia em especial, uma coisa nova aconteceu.

                   - Eu estive te observando.

                Me assustei com a voz repentina, mas me virei para trás e vi uma garota deitada encima de uma caçamba de lixo, como se fosse uma super cama dos sonhos. Nunca tinha visto aquela garota até agora. Cabelos castanhos com algumas mexas rosas até a altura da cintura, olhos castanhos escuros, algumas sardas bem claras espalhadas pelo rosto, e suas roupas não estavam tão limpas quanto as minhas, eu até diria que as minhas estão bem mais limpas que a dela.

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