Capítulo 7

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Any Gabrielly 🦋

Livre.

É assim que eu me sinto quando saio da casa do meu pai, para ir aonde quer que for. Na verdade, qualquer lugar fora da casa do meu pai e do apartamento minha mãe me fazem sentir mais livre; sem doença, remédios ou preocupações exageradas. Já perdi a conta de quantas vezes tive que dizer que estou bem, para eles não acharem que estou morrendo.

É isso o que acontece quando você nasce toda fodida.

Pego o caminho mais longe até o apartamento da minha mãe, porque ainda estava um pouco irritada com meu pai e precisava pensar, mas já me sentia bem melhor quando enfim cheguei no centro da cidade onde ela mora. Deixo minha moto no estacionamento de visitantes, como sempre, e então pego o elevador até o quinto andar. Quando abro a porta do apartamento 34E, encontro minha mãe passando aspirador de pó no carpete, enquanto ouve suas músicas antigas e usa um roupão branco.

Essa é Priscilla Soares; uma mulher de 36 anos, enfermeira e louca por máscaras faciais. Não é a toa que seu rosto pareça ser tão jovial, mesmo com a idade que tenha.

- Mãe. - Chamo, mas ela não me escuta, porque o som está muito alto. Tento de novo. - Mãe!

Ela continua remexendo os quadris e cantarolando quando abaixa para passar o aspirador embaixo do sofá. Faço uma careta.

- Mãe! - Grito mais alto e dessa vez ela me escuta, chegando a bater a cabeça na mesinha de centro quando vai se levantar.
- Ai! - Ela resmunga e esfrega o local da batida, enquanto faz careta. Me seguro para não rir, porque sei que levaria bronca por isso. - Any, que bom que você chegou!

Minha mãe corre para desligar o rádio, logo depois me abraça com força o suficiente para esmagar meus ossos. A abraço de volta, tentando demonstrar que senti saudades, já que dizer isso com palavras não é lá minha especialidade.

- Já estava começando a pensar que você não vinha mais. - Ela tira a mochila das minhas costas e fecha a porta, segurando minha mão enquanto caminha comigo até o sofá. - Como foi sua semana?
- Ah, normal, sabe. - Fiz dupla com o gostoso do irmão da minha melhor amiga, em uma matéria que nem deveria existir. Além disso, ele me chamou para uma festa e eu fui, e lá quase nos beijamos e descobri que ele está tentando ser meu amigo desde o oitavo ano, quando nos conhecemos. Normal.
- E não teve nenhum ataque cardíaco por não tomar os remédios?

Minha mãe cruza os braços e levanta uma sobrancelha loira, ficando séria de repente. Resmungo e escorrego no sofá, evitando olhar para ela.

- Howard me ligou ontem a noite. - Ela diz o nome do meu pai como se fosse uma doença, mas tenta fingir que isso não aconteceu ao se sentar do meu lado.
- É, eu sei...
- E você fica aí agindo como se não fosse nada? Any Gabrielly, esses remédio são para o seu bem.

Ela tenta segurar minhas mãos, mas eu me afasto e esfrego o rosto com elas, enquanto bufo de forma longa e dramática.

- Vocês dizem isso o tempo inteiro. - Digo - Mas eu tô bem.
- E eu me importo com você, filha. - Minha mãe senta mais perto e passa a mão no meu cabelo, tentando enxergar meu rosto. - Seu pai e eu podemos não estamos mais juntos, mas ainda é nossa prioridade manter você viva.

As palavras saem de sua boca como se eu fosse um prejuízo na vida deles, ou talvez o motivo do divórcio. Talvez eu também seja o motivo, e não só a Amber. Pensar nisso só me deixa mais irritada.

- Eu tô viva, respirando e meu coração tá batendo muito bem. - Afirmo enquanto balanço a cabeça para minha mãe. - Não tomar os remédios não vai me matar.

𝐴𝑙𝑙 𝐹𝑜𝑟 𝑈𝑠Where stories live. Discover now