CAPÍTULO 41

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O tempo passava e eu definhava no meu cubículo sujo e escuro. Os machucados causados por Hange não cicatrizavam. Alguns infeccionaram e outros simplesmente não saravam. Eu não conseguia cuidar deles sozinha. Me faltava água e panos limpos, além de força, já que não me alimentavam a dois dias. Me sentia muito fraca para andar. Era difícil até mesmo respirar. Às vezes eu sentia que ainda existia água dentro dos meus pulmões.

A minúscula janela me dava uma pequena visão do mundo lá fora. Eu via o sol ir e vir, enquanto a chuva trazia o frio na noite que caia. Eu me sentia cada vez mais esquecida e abandonada. Será que eu morreria aqui? Desse modo? Se eu morresse teria eu algum arrependimento? Eu tinha alguns que vinham à minha mente. Queria poder ter dito ao meu pai um último eu te amo antes de ele sair de casa, queria ter impedido minha mãe de se suicidar, queria ter agradecido ao duque por ter me criado, queria ter me esforçado mais na tropa e queria por ter desvendado o capitão Levi por completo. A memória do moreno baixinho faz meu coração doer. Pensar que eu o deixaria desse mundo me causava dor, mas ela não era física. Será que ele sentiria minha falta? Será que lamentaria minha morte? Eu não tinha como saber. Queria poder olhar em seus olhos novamente, fazer com que acreditasse em mim. Fazer com que acreditasse na minha inocência. Queria tirar aquele olhar de arrependimento e mágoa dos seus olhos. Queria poder sentir sua respiração perto do meu rosto e sentir os seus lábios nos meus.

Talvez esse fosse o meu maior arrependimento. Não poder me redimir com a pessoa que eu passei a amar em algum momento.

Eu ouço a tranca da porta principal se abrir enquanto eu estava escorada na parede sentada no chão. Acredito que quem me olhasse de fora veria a semelhança com um mendigo. Os passos serenos fazem eu me atentar a saída da minha cela. Uma figura com uma bolsa e uma bandeja aparece com vestimentas casuais.

- Olá S/N! - Aquela voz acalma o meu coração e me enche de esperança.

- Levi! - minha voz sai como em um sussurro.

Eu o vejo entrar na cela e colocar as coisas que carregava em cima da cama que eu tentei alcançar algumas vezes.

O capitão anda em minha direção e se abaixa na minha frente. Ele se aproxima de mim de uma forma estranha.

- Se agarre em mim! - ele ordena, mas eu não tinha força o suficiente para isso.

Com isso, ele cuidadosamente pega o meu braço que não estava com o ombro queimado e passa-o pelo seu pescoço. Ele me levanta e o meu corpo todo dói. Eu solto um gemido o que o faz olhar para mim. Rapidamente, o seu braço livre agarra minhas pernas me tirando do chão fazendo com que eu ficasse confortável em seu colo.

Depois que ele me senta na cama, pega de sua bolsa alguns utensílios para cuidar dos meus ferimentos. No início ele limpa meu corpo com um pano molhado e depois segue para o meu rosto tirando toda a sujeira mais carinhosamente possível. Seus olhos percorriam cada canto meu desde a testa até o pescoço. Queria poder tocar o seu rosto, mas estava receosa. Por que estava cuidando de mim? Na visão dele eu era o monstro da história. Não fazia sentido o porquê desse ato de bondade.

- Por que está fazendo isso? - Nesse momento ele finalmente me olha nos olhos e para o que estava fazendo, mas não se afasta totalmente.

- A pista que você nos deu estava certa, encontramos Historia e o duque foi preso. A rainha está de volta ao trono trabalhando para restabelecer a ordem.

- Então você ainda acredita que eu sou uma traidora... - Eu desvio o olhar para baixo não conseguindo suportar a crítica e a falta de credibilidade.

- O duque Thomas revelou o verdadeiro espião que vai ser julgado junto com ele de acordo com os seus crimes. Ele fez isso porque não suportaria ver você ser julgada por algo que não tinha relação.

- Ele contou a verdade para me ajudar? - Volto o meu olhar para Levi surpresa.

- Sim... - Dessa vez foi a vez dele abaixar a cabeça - E eu não acreditei em você e deixei você ser torturada. -

Eu o vejo cerrar os punhos, então noto o seu arrependimento.

- Levi... - Eu me inclino em sua direção, mas uma dor corre rapidamente meu corpo me fazendo parar.

- Por favor, S/N. Fique quieta por enquanto - Sua mão me recosta de volta a cabeceira da cama - Deixa eu cuidar de você.

Eu apenas assinto e deixo ele trabalhar. Ele termina de me limpar e começa a cuidar das queimaduras que doem a cada pele morta que ele tira. Depois desse sofrimento que passei calada, Levi me oferece comida e água. No entanto, por causa das mãos queimadas é ele quem me alimenta devagar e em silêncio.

Quando acaba ele se levanta.

- Tente descansar por agora eu volto mais tarde - Ele pega as suas coisas e faz menção de sair.

- Levi... - o sussurro sai quase inaudível, mas ele ouve e para no mesmo instante - Não me deixe só.

Ele arqueou levemente as sobrancelhas e considerou a hipótese. Felizmente, ele se senta novamente na cama.

- Eu fico até você dormir - Ele fala isso e me ajuda a deitar na cama.

Ele acaricia o meu cabelo levemente. Se eu morresse hoje, pelo menos não estaria sozinha. A pessoa que eu mais admirava estava ao meu lado. A pessoa com quem eu mais me importava se importava comigo. A pessoa que eu amava não me deixaria morrer. Eu agradecia por Levi ter entrado na minha vida, pois foi a melhor coisa que me aconteceu em anos. Por isso, eu não podia morrer. Não suportaria mais perdas. Eu apenas queria ele ao meu lado e queria que ele nunca fosse embora.

- Eu te amo Levi... - eu sussurro no momento em que o cansaço de todos as noites mal dormidas me domina e eu caio em sono profundo.

Levi Ackerman - Determinação Inabalável Onde as histórias ganham vida. Descobre agora