CAPÍTULO 36

1.9K 179 6
                                    

    Todo aquele alvoroço em que me encontrava transbordava minha mente. Sentia que se não me concentrasse todo o meu corpo começaria a tremer de forma descontrolada. Além disso, eu sentia que o ar que eu respirava não entrava em meus pulmões. Nada fazia sentido, era totalmente ilógico. O nervosismo misturado com ansiedade apertava o meu peito. Não queria aquilo, mas eu não podia fugir agora. Eu teria que resolver depois com calma e sabedoria, pois o público na frente estava louco com o pronunciamento do meu tutelar ao meu lado.

    - Agradeço a todos pela atenção! Que o nosso reino prospere e sejamos livres. – O duque finaliza o seu discurso e me oferece o braço para demonstrar cordialidade. Eu o aceito parecendo de bom grado, não queria demonstrar qualquer emoção sequer na frente dele ou do povo que permanecia extasiado com as divulgações de Thomas. Eles nem pareciam lembrar do motivo principal daquele espetáculo, estavam apenas focados naquilo que receberiam com a suposta coroação do novo rei.

    Nós dois descemos do palco mal feito com nobreza, entrando na carruagem que nos levaria de volta ao palácio. Ao sentar, o duque afrouxa o lenço que trazia no pescoço e assume uma postura muito mais despojada do que eu estava acostumada. Ele parecia confiante e realizado.

    - Senhor, com todo o respeito, mas o que foi aquilo? – Eu pergunto assim que a carruagem começa a se mover.

    - Aquilo o que, minha pequena? – Sua fala é acompanhada com as suas mãos soltando os botões das mangas que pareciam extremamente irritantes.

    - Por favor senhor, seja sincero! Eu não aceitei ser sua sucessora no cargo de duquesa, muito menos no de rainha.

    - Eu não podia fazer você desperdiçar uma oportunidade dessa depois que o seu pai me fez prometer que eu cuidaria de você. – A cada fala sua ele remexia mais em suas roupas, tirando por sua vez o casaco azul marinho elegante que escondia uma camisa abotoada branca.

    - Mas e se a minha vontade for continuar o exército?

    Ele para de se remexer e finalmente olha para mim. Realmente olha com aqueles olhos castanhos e levemente puxados na lateral. Raramente me lançava esse olhar durante a minha infância e adolescência. Me recordo de uma vez em que eu virei uma adolescente rebelde e desobedecia as regras do meu responsável. Matava as aulas e não fazia nenhuma questão de usar as roupas que várias criadas faziam para mim. Uma vez fugi de seus criados e parei dentro de um bar onde diversos homens e mulheres faziam uma festa que eu ainda não havia conhecido. Copos de bebida eram carregados para lá e pra cá. Homens tocavam em lugares considerados indecentes nas mulheres que discretamente passavam as mãos em seus bolsos procurando pequenas moedas. A música irradiava cada centímetro do estabelecimento provocando uma alegria contagiante que quando pode perceber já estava rodopiando em círculos e sendo observada por muitos. Subia em balcões mexendo cada parte do seu corpo e rodava em cima das mesas até a música acabar. Sempre que acabava recebia aplausos e assobios que a satisfaziam irracionalmente. No entanto, a minha festa não durou o suficiente. No momento em que a minha última música tocou o último acorde, o rosto severo do duque invadiu os meus olhos e me olhou com o mesmo olhar que sustentava agora.

    - Você acredita que a Tropa de Exploração vai durar quanto tempo? Os dias dessa divisão estão contados, não precisamos deles. Nós já possuímos o essencial. Apenas quero te proteger e poder te dar um bom futuro para quando essa tropa for deletada do nosso sistema social - Eu fico pasma com o seu comentrário. Por um segundo minha mente havia parado, desligado.

    - Ultimamente a Tropa de Exploração fez avanços significativos para a humanidade. Não aceitariam simplesmente excluir toda uma divisão por um motivo ilegítimo.

    - Esses avanços não significam nada a longo prazo.
Então, me permita dizer que não quero tomar o lugar de Historia - O meu sangue começou a ferfilhar levemente. Eu sentia que ele não me ouvia e que qualquer coisa que eu dissese não valeria de nada.

    - Você não irá tomar. Se não a encontrarmos logo o povo entrará em desespero sem uma liderança de forma determinada, então eu tomarei o lugar de Historia e você será a minha sucessora.

    - Eu não quero isso, senhor! Não pode tomar as decisões por mim - Minha fala havia saído mais agressiva do que o esperado, por isso recebi um olhar fulminante do duque.

    - Eu posso e vou, minha protegida. Era isso que seu pai iria querer. -

    A menção de meu pai me cala completamente. Os dois eram próximos, acredito que ele sabia mais dos desejos do meu pai do que eu. Talvez eu devesse acatar, poderia mudar muita coisa sendo rainha, apoiar ainda mais o Reconhecimento e continuar as vontades de Historia.

    A memória de Historia voltando a minha mente pesa meu corpo inteiro. Era extremamente leve estar perto dela, o seu sorrisso acalmava muitas brigas que ocorreram tempos atrás quando ainda éramos cadetes. Será que ela conseguia sorrir agora, mesmo aprisionada em algum porão escuro cheio de poeira? Será que estava viva? A possibilidade da um soco em meu coração que me faz soltar o ar repentinamente fazendo com que o duque a minha frente se recolhesse em seu assento e observasse a janela ao seu lado. Agora sua atenção não estava mais sobre mim, o que me causava grande alívio, mas permitia que diversos pensamentos dominassem minha mente, transformando-se em inquietação.

    Seguimos o resto do pequeno percurso em silêncio até o nosso meio de locumoção parar. O duque desce primeiro e me oferece a mão educadamente para demonstrar cortesia. Eu a aceito e a luz do dia me irradia quando saio da carruagem. Muitas pessoas das três diferentes divisões estavam em volta, inclusive o capitão Levi que me encarava de forma estranha. O seu olhar parecia que iria me devorar, gerando calafrios e ainda mais aflição. Provavelmente eu teria que dar uma explicação, não somente a ele, mas a todos da tropa.

Levi Ackerman - Determinação Inabalável Onde as histórias ganham vida. Descobre agora