S O O J I N A G N O L E T T O.

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No começo, era um verdadeiro constrangimento me sentar de frente para uma completa desconhecida e falar sobre meus sentimentos. Becca, minha terapeuta, não desistiu. Ela era persistente, mas bonita e legal, e seu sorriso era tão suave e confortável, que me fazia sentir em casa.

Depois de alguns meses, consegui me abrir com elas sobre alguns medos. Não completamente, mas já era algo.

Aos treze, fui diagnosticada com TOC. Não foi fácil, no começo, e a todo momento eu tinha a sensação de que tudo iria desmoronar. Eu via nos olhos de minhas mães que era uma situação completamente difícil, mas, pelo menos, eu estava aberta a ser ajudada, e elas me apoiaram e ficaram ao meu lado do começo ao fim. Nunca me deixaram.

Nesse meio tempo, enquanto mãe Louise e eu voltávamos do aeroporto - mamãe Kathleen havia acabado de embarcar em uma viagem - sofremos um acidente de carro. Eu não sei bem o que aconteceu, não me lembro, mas foi uma pancada bem forte. A próxima coisa que sei, quando acordo, é que eu tinha acabado de fazer quatorze anos e que eu havia perdido um ano inteiro de minha vida.

Nos primeiros meses, era um cuidado em excesso comigo, mamãe Louise se culpava demais porquê era ela quem estava dirigindo o carro. Por sorte, Lino - que ainda era um serzinho minúsculo - havia ficado com nossos avós em casa, então nada realmente aconteceu a ele. Mãe Louise quebrou a perna e veio a ter alguns arranhões pelo rosto, acho que era isso que a fazia sentir imensamente culpada, na realidade. Eu fiquei em coma, perdi um ano inteiro da minha vida, e aquilo a destruía.

Os primeiros dois meses foram os mais difíceis. Tive que me acostumar com minhas limitações, além do TOC. Com a pancada que tive na cabeça por conta do acidente, acabou acertando meu hipocampo, no córtex pré-frontal, o que afetou minha memória a longo prazo.

A memória a longo prazo, para os desinformados, basicamente é a capacidade de manter a informação recente de poucos dias atrás até décadas. E foi o que perdi. Me lembrava, sim, de quem são minhas mães, meu irmãozinho, e até minhas amigas mais próximas. Mas eu não me lembrava sobre o acidente, ou sobre a adoção e metade das coisas que aconteceram comigo há cinco anos atrás.

Foi a partir desse acidente, que algumas coisas começaram a desandar.

Eu achei que as coisas ficariam bem com o tempo e que eu poderia viver tranquilamente depois do acidente, obviamente pensei errado. Eu havia acabado de completar quatorze anos, meus desejos sexuais estavam borbulhando como vulcão escaldante. De começo, pensei que era algo normal porquê estava entrando na pré-adolescência. Foi o meu primeiro contato com pornô. Eu me lembro de pensar, que era completamente esquisito assistir um homem e uma mulher juntos numa tela, me deixava desconfortável, apesar de excitada.

Então eu troquei. Sexo entre mulheres. Apesar de achar algo totalmente forçado, eu gostava. Me masturbava com frequência, e por vezes até mesmo achava tão errado, que eu chorava após fazer. Depois de um tempo, eu não conseguia mais parar.

Voltei para a escola depois de seis meses, minhas amigas me ajudaram com as matérias que perdi, o que era ótimo, mas o acidente ainda me atrapalhava, em partes. E eu não contava para ninguém. Nem sobre as fortes dores de cabeça que sofria frequentemente, e nem sobre como eu deixava meu professor de história me tocar lá, mesmo sabendo que era errado. Eu deixava porquê gostava.

As vezes, era insuportável e me afetava nas mínimas coisas. Tinha momentos que eu precisava pedir para ir ao banheiro na escola porquê doía, eu sentia que precisava de um alívio. Perdi a conta das vezes em que me masturbei no banheiro do colégio. E, uma vez, na sala de aula. Ninguém percebeu, e isso eu agradeço até hoje.

Quando completei quinze anos, foi quando perdi minha virgindade no banco do carro da irmã mais velha da minha amiga. Eu tinha quinze e ela vinte e quatro. Pareceu errado no momento, mas depois dela, tiveram várias.

VERMELHO CEREJA Where stories live. Discover now