Você não vale nada

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Lena:

Troco de roupa pela centésima vez em quinze minutos. Apesar de eu estar tão nervosa, não é pra nenhum baile de gala que estou indo, e sim para a Noite de Jogos no apartamento de Kara. É que já faz tanto tempo que não tenho algo assim e depois de minha conversa com ela na manhã de ontem, é como se voltássemos a ser adolescentes, trocando mensagens o tempo todo e sorrindo igual idiota.
- Por que eu não posso ir junto? - Kat pergunta emburrada por ter que ficar com a babá novamente. 
- Porque só vai ter adultos lá, meu amor - Tento explicar - A mamãe promete que não vai demorar, tá bem?
Beijo sua testa e volto a me olhar no espelho. Decido por fim colocar uma camisa branca de botões, folgada, e por dentro da calça jeans preta, e saltos da mesma cor. Deixo o cabelo liso e solto, e passo apenas um batom discreto na cor nude.
Me despeço de minha filha e desço para pedir um táxi. Preciso urgente comprar um carro. O taxista é simpático, puxa alguns assuntos durante o caminho e me faz dar algumas risadas. Na hora de pagar, tento ser generosa na gorjeta.
Subo até o andar de Kara e toco a campainha. James é quem abre.
- Oi - Digo simpática e entrando.
- Oi Lena, é bom ver você - Ele me dá um leve abraço, que retribuo.
- Oi - Kara diz surgindo na cozinha e sorri ao me ver. Ela se aproxima de mim e me dá um selinho, fazendo todo mundo soltar um "Hmm".
Sorrio envergonhada com a reação de todos e ela me leva até a sala. Sentamos lado a lado, um pouquinho afastadas do pessoal. Kara volta e meia fala algo em meu ouvido ou me beija. 
- Oh Kara! Será que você consegue parar de paparicar tua namoradinha um pouco pra me ajudar? - Alex grita trazendo algumas bandejas de comida da cozinha.
- Não liga, Lena! Ela tá com inveja - Kara brinca e me dá mais um beijo antes de ir ajudar a irmã.
Assim que termina, ela volta pra perto de mim. Me aconchego junto dela e deito minha cabeça em seu ombro. 
- Você tá linda, sabia? - Ela diz baixinho, pra apenas eu escutar.
- Você também está linda - Digo dando um selinho nela.
A campainha toca e eu levanto a cabeça.
- Deve ser a Sam - Digo.
- O que? Você convidou ela? - Kara me olha irritada.
- Kara, ela é minha amiga. Eu quero que ela conheça o pessoal - Explico e beijo brevemente seus lábios - Seja boazinha com ela.
- Eu abro! - Alex grita da cozinha.
Vejo ela e Sam se encararem por breves segundos e então Alex da espaço pra ela entrar. Levanto do sofá e vou recepcionar minha amiga.
- Oi! Que bom que você veio! - Digo dando um abraço rápido.
- Oi, a sumida apareceu - Ela brinca.
- É, eu tive alguns imprevistos pra resolver - Desconverso - Vem, vou te apresentar o pessoal. Esse é James, esse é o Winn e esse é o J'onn - Mostro cada um dos meninos - Essa é a Alex, a outra amiga que te falei.
- Prazer, Samantha Arias - Sam estende sua mão pra Alex, que faz o mesmo movimento.
- Prazer, Alex Danvers - Ela diz firme.
- E essa é a Kara, que você já conhece - Digo sorrindo.
- Oi - Kara diz levemente seca.
- Olá, Kara - Sam é simpática - Obrigada por me receber em sua casa.
- Não há de que - Kara tenta sorrir.
- Fica a vontade, ok? - Digo e volto para o lado de Kara.
Ela passa a mão ao redor de minha cintura e eu coloco a minha em sua perna. 
- Vamos começar? - J'onn diz animado e todos respondemos no mesmo tom.

Apesar das leves indiretas de Kara para Sam, a noite passa de forma tranquila e amigável. Várias e várias rodadas de diferentes jogos são feitas até todos estarmos cansados. Alex e Sam foram as vencedoras da noite.
- Você é boa nisso, hein? - Alex ergue sua mão para que Sam bata nela em um high five.
- Sorte de principiante - Kara diz e eu a encaro.
- Por que não me ajuda a lavar a louça? - Digo para levá-la até a cozinha.
- Nem vem brigar comigo - Kara cruza os braços quando nos afastamos.
- Não estou brigando - Explico - Mas você passou a noite toda pegando no pé dela.
- E você achou o que? - Ela me olha - Que eu iria receber de braços abertos a mulher que transou com a minha há um mês atrás?
- Tudo bem - Digo rendida - Tam razão. Eu me precipitei. Ainda é cedo pra tentar fazer você se dar bem com ela. Me desculpa. Vou pedir pra ela ir embora.
- Não - Kara segura minha mão - Agora deixa ela ficar. Eu vou tentar mais. E além disso, ela e Alex se deram bem.
- Certeza? - Pergunto.
- Sim! - Ela afirma e me puxa pra ela - Mas vai ter que me recompensar depois.
Sorrio com sua fala e passo mais braços ao redor de sua cintura. Kara inicia um beijo lento que arrepia até minha alma. Será que seria falta de educação mandar todos embora pra poder ficar sozinha com ela?
- Caramba, vocês duas parecem duas adolescentes na puberdade - Alex grita - Eu não tô afim de ver pornografia alien-humano não, viu.
- Cala a boca, Alex - Kara atira uma almofada nela ao voltarmos para a sala.
- Preocupada com a Ruby? - Pergunto ao ver Sam olhar para o celular.
- Sempre! Depois que a gente vira mãe, a preocupação nunca vai em embora - Ela diz sorrindo.
- Entendo - Afirmo - Também me sinto assim com Kat. E olha que passei o dia todo com ela.
- Você tem filhos? - Alex pergunta interessada.
- Uma filha. Ruby - Sam explica - Ela tem 11 anos.
- Nossa, deve ser incrível - Os olhos de Alex brilham.
- É, na maior parte do tempo é sim - Samantha olha pra nós - Mas esperem chegar a adolescência. Vocês vão sentir saudades de agora.
Kara e eu sorrimos com o que Sam diz. Ela volta a conversar com Alex e eu volto a dar atenção para a mãe da minha filha. Percebo seu pensamento distante enquanto ela passa os dedos em meus cabelos.
- Tá pensando no que? - Pergunto.
- Ah, nada demais - Ela diz.
- Me diz - Peço.
- Só algumas coisas que fico imaginando as vezes - Ela responde - coisas pequenas, mas que eu gostaria de ter visto.
- Como o que? - Questiono curiosa.
- Como você grávida, como sentir Kat mexendo na sua barriga. Como ver você amamentando ela - Kara explica - Momentos que eu gostaria de ter vivido.
- A primeira vez que ela mexeu na minha barriga, foi o momento que mais me senti sozinha - Conto - eu estava em casa. A barriga ainda não era muito grande. Eu senti aquele movimento e minha primeira reação foi ter medo. Pensei em ligar para a obstetra, mas aí senti de novo. E de novo. E então percebi o que era. Eu fiquei tão feliz em sentir aquilo. Tão feliz. Que eu só queria compartilhar com alguém. Mas quando olhei ao meu redor, não havia ninguém que eu pudesse compartilhar esse momento. A gente é acostumado a pensar em todos os momentos tristes que passamos sozinhos. Mas não poder compartilhar a felicidade é ainda pior. Ainda mais solitário.
- Eu queria estar lá - Kara diz com os olhos cheios de lágrimas - Eu estaria se...
- Eu sei - Sorrio - Eu sei que você estaria se soubesse e se pudesse. Foi esse pensamento que me fez ficar melhor. Saber que você estaria lá se as coisas fossem diferentes.
- Eu quero tanto compensar toda essa dor e solidão que você sentiu - Ela passa os dedos em minha bochecha.
- Você já está - digo sorrindo.

O que resta de nós? - SuperCorp(G!P)Where stories live. Discover now