cap 34 - Pamela e Daniel

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Fui no quarto da minha mãe chamá-la para brincar de boneca e quando cheguei, tomei um susto. Ela estava sentada na cama e chorando baixinho.

-O que aconteceu, mamãe? -segurei na sua mão na tentativa de amenizar a situação-

-Eu acho que você vai ganhar um irmãozinho, minha abelinha -notei que o seu choro era de felicidade, porém ela parecia temer algo-

Meu pai entrou no quarto e viu o teste de gravidez na mão dele. Ele parecia nervoso e pediu para que eu saísse do quarto para não escutar a conversa, mas eu consegui ouvir pela brechinha da porta:

-Vamos ver se aquele filho da puta vai querer criar o seu filho! -me assustei pelo tom de voz-

-Fala baixo, Ricardo! Nossa filha tá em casa -ele se acalmou um pouco- Eu quero criar esse filho com você, nós podemos ser uma família normal.

-Normal, Cristina? Normal é o caralho! Eu ia trabalhar e você ficava dando pra ele? Esse bebê não é minha obrigação -meu pai voltou a gritar- Você deveria ter pensado nisso antes de se tornar um puta que dorme com qualquer um, você destruiu a nossa família! -escutei passos se aproximando e então corri para o meu quarto, como de costume-

*Dia do nascimento do Daniel*

-Oii Daniel, eu sou a sua irmã. Você pode me chamar de Pampam, já que a gente vai ser amigo -olhei para a minha mãe e ela parecia exausta-

Botei meu irmão no bercinho do hospital e fiz questão de acompanhá-lo todas as noites na UTI. Eu havia acabado de conhecer um dos amores da minha vida.

*Primeiro dia na escola*

-Eu não quero ir! Ninguém vai gostar de mim, Pampam. Eu vou ficar sozinho o tempo todo -meu irmão começou a fazer birra-

-Primeiro lugar: você precisa aprender coisas novas e ir para escola. Segundo lugar: você é o melhor jogador de futebol da rua, todo mundo vai querer jogar com você! -dei um abraço forte- E se alguém mexer com o meu príncipe, pode me avisar e eu vou na escola, tá bom assim?

-Tá -ele respondeu manhoso e me deu um beijo-

*Último dia de Cristina*

-Você se tornou a responsável legal do seu irmão? Como assim, Pamela? Mas e o seu padrasto? Você disse que ele iria vir! -a médica da mãe brigou comigo-

-Lucy, eu menti para conseguir a guarda dele. Meu padrasto não vai voltar de viagem porque ele nunca foi -ela me olhou confusa- Ele nos deixou quando a minha mãe ficou doente...

-Você mentiu para mim?! -Lucy estava com muita raiva-

-Eu fiz o que precisava para proteger a minha família -chequei se o meu irmão não estava por perto- Desculpe se eu te usei, mas faria tudo de novo.

Aquela médica havia sido a única pessoa que realmente nos ajudou, fazer aquilo nela me machucou, mas o que seria um corte para quem já está ferido?

-Tem certeza disso? -a enfermeira checou pela última vez-

-Sim, prossiga por favor -uma lágrima fria caiu do meu olho-

*bipe*

-Vocês terão um tempo antes que ela seja levada para a doação de órgãos -ela disse com delicadeza mesmo sabendo que havia pouca coisa para se salvar-

Eu havia acabado de desligar os aparelhos da minha mãe quando a assistente social entrou no quarto:

-O que aconteceu com a mamãe, Pampam? -meu irmão me olhou com cara de choro- Por que aquela máquina está desligada? 

𝑵𝒐𝒔𝒔𝒐 𝒍𝒆𝒈𝒂𝒅𝒐 - Bruno RezendeWhere stories live. Discover now