cap 15

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  Minha mãe morreu na véspera do meu aniversário e eu me lembro do meu irmão criança comprando um cupcake na padaria e acendendo uma vela, teve até música de parabéns. Ele não entendia sobre perdas ainda, por mais que fosse algo "corriqueiro" na nossa família. Meu pai nos abandonou quando eu ainda era criança e foi viver com a sua nova esposa.

  Minha mãe se viu perdida e acabou se casando com o primeiro cara que a ofereceu estabilidade. Ele não era um bom marido ou um bom pai, bebia muito, gritava muito e vivia fora de casa. Quando minha mãe ficou doente, ele também foi embora. Quem nos ajudou por um tempo foi o meu tio, Carlos, ele sim era um amor.

  Dada todas as nossas brinquedos, arranquei seus dentinhos, o levei para os treinos de futebol, o pacote inteiro. Vê-lo crescer e se tornar um grande homem foi a minha maior realização, eu fiz algo que deu certo. Consegui resumir toda essa história em "uma infância complicada" e as meninas entenderam o meu lado, nunca foi boa em me abrir, sentimentos é para fracos.

  Chegou a hora do almoço e eu não tinha a mínima vontade de comer, mesmo sabendo que precisava. Então, enganei (pelo menos tentei) as minhas colegas de quarto dizendo que eu iria depois, pelo visto elas não acreditaram, pois voltaram minutos depois com pratos e acompanhadas de várias outras pessoas.

-Chegamos! -disse Lucarelli acompanhado de Júlia batendo na porta-

-O que é isso? -fui pega de surpresa-

-Eu sabia que você não iria comer, então eu sugeri que nós viéssemos almoçar aqui, fiz até seu prato -ela me entregou uma bandeja com as minha comidas favoritas-

-Eu estou bem, galera. Não precisa de tudo isso -tentei acalmá-los-

-A gente sabe que você é forte, porém merece um abraço -eu odiava abraços sentimentais, mas aquele abraço em grupo me fez bem-

  Conversamos mais um pouco e foi super relaxante, aquele pessoal realmente gostava de mim e eu nem era "uma deles" (pelo menos pensava). Nosso papo foi interrompido por uma ligação do Bob, logo gelei e dessa vez era chamada de vídeo.

-Oii maninha, sentiu minha falta? -meu irmão estava com uma foz baixinha e fraca-

-Claro que sim, seu idiota. No fim de semana a gente vai se ver e eu vou te abraçar muito, não importa quantos ossos estejam quebrados -todos ali riram- Eu posso falar com a médica?

-Bom dia, eu sou a Dra. Anna Lopez. A cirurgia era simples e correu bem, ele está com alguns ossos quebrados e vários pontos ao redor do corpo, mas nada que bastante repouso e fisioterapia não ajude. Como eu disse a ele, ficaram algumas cicatrizes -Daniel interrompeu a médica e tentou me aliviar-

-Já estamos acostumados com acidentes de carros e cicatrizes, eu vou ficar bem Pampam -o humor do meu irmão era bem mórbido e peculiar, acho que foi herança minha-

-Você não leva nada a sério, né? -ele riu-

-Promete que vai fazer vários pontos de bloqueio e encarar as russas? -o pessoal não se aguentou e houveram muitas gargalhadas- Você se prepara para essa fase da sua vida há anos, você merece estar aí e é uma das melhores levantadoras. Vou assistir seu jogo e torcer muito! -ele festejou-

Nesse momento Bruninho entrou no quarto e disse que o seu pai precisava falar comigo.

-Obrigada maninho, te amo muito! Vou precisar sair mas vou querer aquele beijo antes do jogo -ele se despediu e eu fui de encontro a porta-

-Você parece feliz, ele está melhor? -Bruno perguntou quando saímos do quarto-

-Sim! Só algumas fraturas e arranhões, vai precisar de um tempo para se recuperar, mas nada muito grave. Obrigada por perguntar -sorri olhando para ele- O que o seu pai quer comigo?

-Eu não sei, porém acho que não seja nada sério, só combinar jogada ou algo do tipo -assenti e entramos na sala-

-Pamela, eu preciso que você passe as jogadas para Juma, -como assim?- Macris está com muitas dores e você está fragilizada demais para entrar em quadra -Bruninho o olhou com cara de surpresa-

-Com todo o respeito, de onde o senhor tirou isso? Eu não deixo as coisas que acontecem na minha vida pessoal afetarem a minha vida profissional -falei com calma mas pegando fogo por dentro- O senhor quer me cortar de um jogo sem nem saber a minha situação. Já passei por muita coisa pior que isso, pode ficar tranquilo que eu consigo jogar e muito bem por sinal -ele parou por um tempo para pensar e logo se corrigiu-

-Tudo bem, eu me precipitei. Vamos assim: você entra em quadra como combinado e caso seu rendimento caia, eu te substituo, pode ser assim? -apertei a mão dele e saí da sala-

  Fui em direção a sala da psicóloga, poid também havia prometido ao Bernardinho uma consulta com ela. Conversamos por algum tempo mas em momento nenhum eu contei sobre a minha vida. Acho que ela percebeu e perguntou:

-Pamela, por que que você não me fala sobre o seu passado? Assim fica mais fácil para eu te ajudar -ela falou com um certa calmaria-

-Doutora, eu não quero parecer desrespeitosa, mas não há nada de errado comigo. Eu sei que o seu trabalho é ajudar os atletas, só que eu não preciso de ajuda. Eu só preciso que a senhora me libere para jogar, eu batalhei muito por isso. Caso a senhora não tenha nada de errado contra mim, eu tenho que ser liberada -fui um pouco grossa com ela, infelizmente foi preciso-

-Tudo bem, eu não posso te forçar a nada, mas saiba que isso pode te causar problemas -peguei o papel educadamente e respondi-

-Estou ciente disso, Doutora. Obrigada pelo seu tempo e serviço, tenha um bom dia!

Quando saí, me deparei com o Bruninho na porta:

-E aí? Você está liberada? -ele perguntou com entusiasmo- 

-100% e pronta para acabar com as russas -ri levemente para que ele se tranquilizasse-

-Nada de desmaiar no banheiro e chorar? -ele perguntou se aproximando de mim e botando as mãos na minha cintura-

-Sem desmaios ou choro -ele riu e logo pedi a sua atenção- Olha, não foi certo o que eu te falei e muito menos verdade -ele me interrompeu-

-Mas você faz isso para afastar as pessoas  porque sabe que mais cedo ou mais tarde você será deixada e é melhor cortar o mal pela raiz -me espantei- Estou certo?

-Sim... eu geralmente sou calma e paciente, mas quando se fala do meu irmão eu fico -ele me completou-

-Super protetora? -assenti e ele continuou- Minha mãe também era assim, acho que era o seu charme -ri e ele colocou a sua mão no meu pescoço, dando início a uma caminhada-

-Aonde a gente vai? -perguntei olhando para ele-

-Você vai para o quarto descansar -bufei expressando tédio- e eu vou para a fisioterapia. Nada de tentar fugir, as meninas já estão lá e vocês todas precisam relaxar para o jogo -tive que concordar, não tinha outra escolha-

Ao chegar na porta do meu quarto, ele me puxou para um abraço e antes de me dar um beijinho na testa, disse baixinho no meu ouvido:

-A gente se vê antes do jogo -por fora dei um olhar calmo, mas por dentro sorri animada-

𝘖𝘪𝘪𝘪 𝘨𝘦𝘯𝘵𝘦, 𝘰𝘲 𝘷𝘤𝘴 𝘢𝘤𝘩𝘢𝘳𝘢𝘮 𝘯𝘰 𝘉𝘳𝘶𝘯𝘪𝘯𝘩𝘰 𝘯𝘦𝘴𝘴𝘦 𝘤𝘢𝘱? 𝘜𝘮 𝘱𝘳𝘪𝘯𝘤𝘦𝘴𝘰 𝘯𝘦? 𝘗𝘳𝘰𝘹 𝘤𝘢𝘱 𝘷𝘢𝘪 𝘴𝘦𝘳 𝘤𝘰𝘮 𝘶𝘮𝘢 𝘭𝘪𝘯𝘨𝘶𝘢𝘨𝘦𝘮 𝘮𝘢𝘪𝘴 𝘵𝘦𝘤𝘯𝘪𝘤𝘢 (𝘱𝘢𝘳𝘢 𝘮𝘢𝘵𝘢𝘳 𝘢 𝘴𝘢𝘶𝘥𝘢𝘥𝘦) 𝘮𝘢𝘴 𝘦𝘶 𝘷𝘰𝘶 𝘵𝘦𝘯𝘵𝘢𝘳 𝘥𝘦𝘪𝘹𝘢𝘳 𝘰 𝘮𝘢𝘪𝘴 𝘴𝘪𝘮𝘱𝘭𝘦𝘴 𝘱𝘰𝘴𝘴𝘪𝘷𝘦𝘭. 𝘝𝘰𝘵𝘦𝘮 𝘦 𝘤𝘰𝘮𝘦𝘯𝘵𝘦𝘮 𝘮𝘶𝘪𝘵𝘰, 𝘹𝘰𝘹𝘰❤︎

𝑵𝒐𝒔𝒔𝒐 𝒍𝒆𝒈𝒂𝒅𝒐 - Bruno RezendeWhere stories live. Discover now