- Vilma tem sido o meu braço direito por aqui. Sem ela, não sei como eu daria conta.

- Ah, Laura! E nós? - Heloísa cruzou os braços e fez beiço – Agora fiquei com ciúmes.

Todos riram, inclusive Letícia que começava a se descontrair com eles.

- Vocês todos são meu braço direito, Heloísa. Como eu disse, sem vocês o trabalho da ONG não seria possível.

- Hum...

- Não faz beicinho não, amor – Lucas arrancou mais risos. Em seguida, voltou-se para Letícia – Muito bom te rever, Letícia. Não sabe como todos aqui sentimos sua falta.

- Sim – anuiu Heloísa – Rezamos muito por você... chegamos até ir ao hospital enquanto você estava em estado de coma, mas... seu marido achou melhor restringir as visitas.

- Desculpe por isso. - ela engoliu em seco

- Não, nós entendemos. Ele... achou melhor porque se preocupava com você. E de qualquer jeito, acabou liberando para Laura que nos representa. Ela nos disse que tem te visitado em sua casa. Não fomos ainda porque ficamos sem saber se deveríamos.

- Claro que podem. Vamos combinar depois.

- Como você está? - indagou Alexandre – É verdade mesmo que... bom... Laura nos disse...

- Estou com amnésia – assentiu – E não me lembro de nenhum de vocês – apertou os olhos – Desculpe.

- Sem problema, Lety – Fred se aproximou com mais familiaridade – Não vai ser nada difícil você se lembrar da gente. De mim então, nem se fala.

Todos fizeram um som de "Uh!", riram mais um pouco e, por fim, entraram. No prédio central onde ficava a administração, eles se despediram e cada qual voltou ao seu departamento, mas pediram para que Letícia aparecesse para um bate-papo e quem sabe recuperar suas lembranças, o que ela prometeu. Laura e Vilma ficaram com ela e mostraram-lhe todas as dependências daquele prédio; em seguida, foram para as edificações anexas.

Letícia ficou impressionada não apenas com a estrutura física do local, como também do trabalho que era realizado, com assistência às crianças abandonadas e adolescentes em situação de risco. Não podia acreditar que foi capaz de ter conseguido a proeza de movimentar um projeto daquela magnitude que havia se tornado até referência pelo Brasil. Claro, não o fez sozinha, Laura sempre esteve ao seu lado, havia a equipe e mais pessoas, algumas das quais lhe foram apresentadas à medida que circulava por ali. Ainda assim, somente Laura e ela tiveram a iniciativa e eram tão jovens!

Ficaram a manhã toda naquele tour até que, por fim, na hora do almoço se reuniram novamente com o grupo e mais outros no refeitório central da ONG. Foi uma conversa bastante animada e, em nenhum momento Letícia se sentiu excluída, mesmo com amnésia; ao contrário, todos procuraram incluí-la em suas conversas e brincadeiras. Eram como uma verdadeira família. E embora pôde perceber que não pertencessem ao seu círculo social, eram pessoas com quem Letícia se sentia à vontade, ao contrário, das quem eram "de sua classe". Às vezes duvidava que fosse daquele mundo de luxo e riqueza.

Depois do almoço, Laura finalmente mostrou a sala que lhe pertencia. Ficava ao lado da sala da amiga que a compartilhava com Vilma.

- Seja bem-vinda – a amiga esperou que ela entrasse enquanto segurava a porta. O recinto possuía um tom verde-folha nas paredes; o teto, por sua vez, era branco. Os móveis eram de madeira clara e amarelada – Você mesma fez questão de decorar.

Letícia olhou ao redor. Ao centro, uma mesa de vidro com um computador de tela plasma e o gabinete horizontal embaixo do monitor. Havia porta-retratos: uma foto com seus pais, seu irmão e ela; outra com Laura e ela juntas. Porém, não havia nenhuma foto com Ricardo. Estranho. Havia também um livro com gravuras da ONG com algumas informações presentes, além de outros papéis.

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