q u i n z e : parte três

684 42 74
                                    

Londres; 26 de julho; talvez 10:00 da noite.

As lágrimas secaram e o tremor converteu-se em um corpo petrificado no instante em que o porque de Styles não fora complementado por nenhuma outra palavra. Com certeza havia alguma coisa a mais que isso. Tinha que ter. Empurrei Malik, que se desequilibrou, e com minhas duas mãos, fiz um movimento de compressão em minha cabeça. Era uma fusão de pânico, furor e revolta. Pânico por não tolerar um porque sem final. Furor pela presença de pânico. E revolta pelos dois anteriores. Dei passos circulares e o cenário da serena estrada tornou-se embaçado diante da interpretação de meus olhos. As minhas passadas à grama eram marcas abstratas, divergentes, como um desmaio prestes a acontecer, porém, Zayn reagiu, e visivelmente hesitante para que não me machucasse com seus toques, tentou amenizar meu descontrole, mas eu, como uma suicida, usei o resto de força que tinha para tentar afastar suas palmas e correr em vertente oposta, entretanto, ele me agarrou pela cintura e me abraçou com mais rigidez, para que, de repente, eu não escapasse de novo.

E em seus braços, apaguei.

(--)

Eu deitada, o abajur da mesa de cabeceira ligado e Malik sentado em cima de minha cômoda vizinha à cama, fumando e me mirando.

- O que aconteceu? – o perguntei com um tom anêmico.

- Você desmaiou naquela maldita estrada, então eu te carreguei e te trouxe de volta à sua casa. Só isso. – desceu ao chão, apagou o cigarro e fechou a janela que devia estar aberta para que a fumaça não atrapalhasse meu sono. – Está segura agora.

Pisquei e as horas anteriores se remontaram. Parei de mirá-lo reciprocamente e resmunguei baixo algumas vezes. Eu me sentia mal por diversas coisas, e entre elas, por envolver demais Zayn aos meus problemas. Ele só devia ser um coadjuvante, e não um dos personagens principais desta catástrofe.

- Foi muito ruim te ver desamparada sem ter a ideia do que se passava aí dentro de você. – ele se sentou à colcha e botou minhas pernas na superfície de suas coxas.

- Foi degradante. – levei minha mão à sua, buscando uma espécie de estabilidade nela. – Lembrei de vários fatos que eu jurava que nunca tinham acontecido.

- Me diga um deles. – pediu. – Compartilhe isso comigo?

Assenti e iniciei a explicá-lo as recordações do hospital, privando-o dos detalhes da mensagem de Styles a mim anterior ao baque. Disse o peso que eu carregava daquela sentença de Harry há tanto tempo, e sobre o bendito porque, agora agregado à ela, e que fora o estopim de meu total descontrole. Porém, Malik quis saber minha justificativa. Ele não entendia o sentido de seis letras agirem de maneira tão destrutiva a alguém:

- Não acho que você tenha que ficar grilada com esse porque. Deve ter sido banal, Angie. Tipo um porque eu tenho que trabalhar ou porque tenho que voltar para Londres.

- Não, Zayn. Não acho que tenha sido banal, e sabe, isso até me alivia, meio que saber que não foi por uma bobeira momentânea. Pode ecoar como outra insanidade minha, mas eu nunca fui tão insistente em cobrar uma resposta direta dele ou jogá-lo contra a parede, pois sempre alimentei um pânico de que talvez ele pudesse ter me largado por tão pouco. Por exemplo, eu não ia aguentar escutar ele dizer que me abandonou porque precisava de foco na carreira, uma vez que nós estávamos distantes, no entanto, eu podia ter dado total apoio a ele. – soltei um suspiro. – Enfim, eu já criei intermináveis porques e nenhum deles foi tão forte quanto ao que Harry articulou a mim naquele dia.

- Então agora que você tem certeza de que não foi à toa, vai querer cobrá-lo a razão do sumiço? – elevou uma de suas sobrancelhas.

- Não. – fui convicta e séria. – Ter ido até lá no acidente, me fez construir a ideia de que prefiro manter minha cotidiana dúvida interna do que saber o resto dessa frase. No segundo que recordei, quis saber, só que estando aqui, e pensando bem, vejo que não vale a pena. Só vai prejudicar uma ferida que, argh, esquece.

Em Meio à Escuridão (BTD) || H.S. || K.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora