Capítulo 31

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Mais que mil palavras

Passaram-se dias desde que nós nos abrimos um com o outro. De certa forma, serviu para nos unir ainda mais. Continuamos com os passeios nos mesmos dias de antes.

A diferença é que Maizom interage comigo e sempre trocamos beijinhos ao longo do percurso. Um arrepio me traz de volta a realidade. A felicidade volta a me dominar.

Acabou! Finalmente terminou o círculo de levantar cedo todos os dias da semana. Agora não sei se dou graças ou se fico triste. Foram longos anos, bons momentos e ruins.

E mesmo estando aliviado por ter finalmente concluído o ensino médio, há aquela voz avisando que nunca mais vivenciarei essa experiência.

Encerrei mais um ciclo na minha jornada para dar início a outro. O de fazer uma faculdade e posteriormente arrumar um emprego. Como eu queria dizer que sei o que quero exercer pelo resto da minha vida.

A sociedade impõe a ideia de que é preciso saber cada passo que vamos dar, eu discordo. Talvez por fazer parte dos que não fazem a mínima ideia do que escolher.

Ou talvez porquê realmente não é necessário estar com um mapa da vida em mãos, sabendo quais passos dar, quais erros cometer, qual carreira seguir e por aí vai.

Tudo bem que é preciso pôr a vida nos trilhos, mas porque não deixar os vagões vagarem sem direção, sem medo de descarrilar, sem medo de testar, sem medo de tentar e errar?

Porquê o corpo social exige que saibamos de tudo a nosso respeito, quando, na verdade, as descobertas vêm através do tempo, das tentativas e dos fracassos.

A minha turma não quis fazer nada de especial. Apenas tomamos sorvete no fim das últimas aulas e marcamos um dia para irmos à escola buscar nossos certificados. Caminhando imerso em pensamentos, paro ao ouvir a voz da diretora Emma.

Esta, conversa com Maizom. A surpresa triplica logo que ouço os dois sorrirem de algo dito por ela. Sei que não devo ficar à espreita ouvindo a conversa alheia, mas eu realmente não consigo sair do lugar. Emma para de sorrir e diz:

— No fim das contas, você fez o que eu não consegui. — A tristeza é vívida na voz. — Achei que conseguiria ajudar ele superar o orgulho e quando ficasse mal, conseguisse pedir ajuda. Mas fiz o contrário. Tentei afastar o que mais lhe fez bem. — Emma sorri. — Você!

Ela conserta os óculos. Eu permaneço estático sem reação alguma.

— Ele é um garoto muito especial.

Não consigo ver a reação de Maizom, pois está de costas, sentado no banco de frente para ela.

— Jamais o machuque. Eric já sofreu muito.

— O meu mundo nunca foi igual o de agora. A chegada dele, me fez perceber o quanto medíocre eu era. Me tranquei com os baques da vida. E ele, mesmo quebrado, não deixava de sorrir. Não deixou que a sua alegria espontânea fosse afetada. Eric é um exemplo para eu aprender a lidar com os problemas. Você me conhece muito bem Emma, por quem amo, sou capaz de dar a vida.

A visão embaça e um nó se forma na minha garganta. Seguro as lágrimas e o peso da mochila nas costas, parece triplicar. Ambos se levantam enquanto ela segura as mãos dele, evitando também que as lágrimas escapem dos olhos.

Te Guiando No SubúrbioDonde viven las historias. Descúbrelo ahora