Capítulo 23

961 217 502
                                    

ALERTA DE GATILHO: há uma parte no cap, propensa a incomodar leitores sensíveis.
___________


Usado

— Por que me desenhou? — A felicidade dele é drasticamente substituída pela profunda tristeza e meu coração aperta.

Pelo tom de voz, este demonstra não ser digno de tal arte.

— Porquê você me ajudou a quebrar a minha visão preconceituosa a respeito dos ricos. — A vergonha surge.

Eu sei, a frase soou idiota. Entretanto, eu realmente não fazia a mínima ideia de como poderia deixá-la menos tola.  

— É, a pessoa com grana menos mesquinha que conheço. — Levou tempo para eu perceber.

Lanço-lhe uma piscadela divertida. Maizom sorri fraco. E, isso é o suficiente para notar que ele não se considera um ser humano íntegro.

— Maizom eu não sei como é a forma que você alto se julga. Mas tenho plena certeza, de que não é nada parecido com a personalidade desprezível do homem que inventou de si próprio.

A surpresa retorna a seu rosto. E, eu sorrio novamente por está vendo ele levemente corado, pela primeira vez.

— Talvez você tenha razão. — Pisca de volta desviando o rosto para o desenho.

Esse é o Maizom que conheço. Nunca dá o braço a torcer. Acabo rindo alto da sua tentativa fracassada de esconder o rubor nas bochechas.

— Obrigado! — Agradece.

Sorrio e mordo os lábios enquanto o observo também sorrindo, ainda que sutilmente.

Mostro e explico cada desenho feito nas paredes. E, notar a sua atenção nas palavras ditas por mim, me faz pronunciar tudo com maior entusiasmo. No começo quando quis trazê-lo, fiquei com receio da sua reação ser negativa. De não dar importância.

Cada desenho representa um momento da minha vida. Desde os mais difíceis aos mais alegres. Ver o seu cuidado ao tocar os traços com medo de desmanchá-los, deixa claro que fiz o certo em mostrar o meu Canto de Paz a ele.

Sempre que não estava bem, costumava caminhar pelos bairros abandonados. Foi assim que encontrei este prédio.

De algum modo estranho, sinto que Maizom me entende e a necessidade de mantê-lo sempre perto, cresce a cada dia, segundos e horas. E isso, me desperta o medo. Porém, ainda assim, a dependência desenvolvida pela sua presença é maior.

Ainda não consigo acreditar que fiquei vários dias longe dele.

Passamos um bom tempo conversando sobre desenhos. Até ensinei Maizom a fazer um. Eu gostei do resultado. Já ele, fez graça dizendo que se fosse para viver de arte, passaria necessidades, pois não tem talento.

Ri e expliquei-lhe que nascendo com dom ou não, qualquer um pode se tornar excelente no que faz. Basta se dedicar que o resultado será notório. Entramos novamente no elevador e aperto o botão para descermos.

— Como descobriu este lugar?

— Ah, — Escoro na parede metálica ficando de frente para Maizom. — é uma longa histó...

Corto a frase no instante em que as luzes começam a piscar. Olho para Maizom que me encara de volta. Subitamente, o barulho de metal chocando-se contra o outro, toma o espaço e o elevador freia bruscamente quase nos arremessando ao chão. Retomo o equilíbrio e colo as costas na parede fria.

Te Guiando No SubúrbioWhere stories live. Discover now