Capítulo 55

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Sento em minha cama e solto um suspiro alto, Anne está perdendo o controle. Primeiro chega alcoolizada em casa, segundo me acusa de querer roubar o Henry dela, ela acha que eu sou quem? Amanhã eu vou tentar falar com ela, porque se eu tiver que falar com minha mãe a coisa vai tomar outras proporções, e aí que isso tudo vai chegar nos ouvidos dos pais dela. Passo a mão no rosto, estou tentando não deixar o que ela falou me afetar, até porque ela não estava lúcida, mas está difícil. Será que ela pensa mesmo isso de mim? Me deito na cama e caio no sono, estou me sentindo exausta.

Desperto e pego meu celular que está embaixo do meu travesseiro, são 06:10 am, acordei antes do despertador. Penso em voltar a dormir, mas é melhor não, levanto e arrumo minha cama, hoje estou mais disposta. Vou para o banho e decido não lavar o cabelo, já que estava com febre ontem, coloco o chuveiro no morno e aproveito a sensação maravilhosa da água morna batendo em minha pele. Como não lavei o cabelo, resolvo desembaraçá-lo e fazer dois coques (Double Buns) nele. Estou com preguiça de me maquiar hoje, passo somente um rímel para que eu não chegue totalmente crua na escola. Saio do banheiro e vou até meu guarda roupas, pego um conjunto de Lingerie, uma blusa azul claro escrito " live your dreams" ( viva seus sonhos) e uma legging preta, visto tudo e calço uma sapatilha preta. Pego meu celular, minha mochila, meu óculos e vou para a cozinha. Olho as horas e vejo que ainda são 06:32 am, preparo café e encho o pote de biscoitos com rosquinhas. Coloco uma mexerica na mochila, como duas rosquinhas e tomo meu café rapidamente, me xingando internamente por ter queimado a boca com café quente. Anne e minha mãe entram na cozinha assim que começo a lavar o copo que sujei.

- Bom dia, filha.- diz minha mãe sorridente e me dá um beijo na bochecha.
- Bom dia, mãe.- sorrio.- Quanta alegria, dona Margô? Viu um passarinho verde logo cedo?- começo a rir quando ela revira os olhos.
- Engraçadinha.- me dá língua como uma criança mimada.
- Eu já vou.- digo pegando minha mochila.
- Eu levo você e Anne hoje, deixa eu só tomar um cafézinho.- diz enchendo sua xícara favorita, que dei a ela no dia das mulheres que tem escrito " para a mulher mais maravilhosa do mundo".
- Não precisa, estou com pressa.- arrumo uma desculpa.
- Mas filha...- interrompi antes que ela termine a frase.
- É sério mãe, não precisa.
- Tudo bem. Tem algo acontecendo e que você não queira me contar?
- Tchau mãe.- aceno e saio rápido da cozinha ignorando completamente a pergunta dela. Era só o que me faltava ter que ficar presa dentro de um carro com a Anne como se nada tivesse acontecido.

Chego ofegante na escola, acho que estou mais sedentária que nunca, nem caminhei tanto assim. Vejo no portão da escola um aviso, penso em ignorar, mas algo me diz que é melhor ler, o aviso diz:

" informamos que as turmas dos 3°anos A, B e D não terão aula hoje. Motivo: as salas dessas turmas estão em reforma, foi descoberta infiltrações sérias nos tetos e eles correm risco de desabar.

A direção."

Bom, eu não sei se fico furiosa com isso ou se eu pulo de alegria. O que vou fazer o dia inteiro? Christopher, Charlie, Britany e Bryan vão estar em aula, Anne vai estar em casa, mas não estou falando com ela, minha mãe vai trabalhar... O jeito vai ser eu ser criativa e arrumar o que fazer. Vou até uma lanchonete que tem perto da escola e peço um café, me sento em uma das cadeiras que tem no balcão e fico pensando pra onde vou já que não tem aula pra mim hoje. Alguém tampa meus olhos com a mão, só pelo perfume já sei quem é.
- Christopher, eu sei que é você.- digo com uma felicidade maior do que gostaria de expressar.
- Você me conhece mesmo.- se senta ao meu lado.- O que faz aqui?
- Não tenho aula hoje.- ele me olha confuso.- Você não viu o aviso no portão da escola?
- Não, quando te vi aqui passei direto.- pega meu café e dá um gole. Não protesto pois pedi o café só para ter uma desculpa de poder estar dentro da lanchonete.- O que diz o aviso?
- Que os 3°anos A,B e D não terão aula.- brinco com o anel de melhores amigos que Henry me deu.
- Olha que coisa boa, sou do 3° A.- olho confusa.
- Você não era do 3°H?
- Sim, mas eu me desentendi feio com meus antigos amigos e pedi transferência. - dá de ombros e eu só aceno com a cabeça em concordância.- O que acha de irmos para a cachoeira?- sugere.
- Não sei não...- hesito.- Não estou com roupa de banho e não quero tropeçar em Anne se eu passar em casa.
- Ela também não tem aula hoje?
- Exato.
- Então a gente entra de roupa mesmo.- sorri como se tivesse acabado de sugerir algo incrível. Olho atrás dele e vejo o carro de minha mãe se aproximando da escola.
- Pensando bem... Vamos.- vou até o caixa, pago meu café e arrasto Christopher para fora da lanchonete antes que minha mãe ou Anne nos vejam.

- Calma, pra que essa correria toda? - pergunta um Christopher ofegante e vermelho.
- Eu vi minha mãe trazendo a Anne.- respondo como se fosse óbvio, mas acabo lembrando que só eu vi.
- E?- arqueia a sobrancelha.
- E que minha mãe ia querer me levar de volta pra casa.- paro de correr e começo a andar.
- Afinal, por que está fugindo tanto da Anne?- pergunta confuso e eu respiro fundo.
- Anne chegou bêbada em casa e teve a audácia de praticamente dizer que eu me joguei pra cima de Henry, porque ontem eu estava com febre e quem estava cuidando de mim era Henry. E pro meu azar na hora que ela chegou Henry e eu estávamos assistindo um filme e eu estava deitada com a cabeça no colo dele.
- A Anne bebe?- pergunta incrédulo.
- É o que parece né.
- E eu achando que você que era a má influência.- começa a rir e eu dou um murro no braço dele. Por algum motivo isso me trouxe lembranças da primeira vez em que dormi na casa dele e automáticamente coro.
- O que você está pensando para estar vermelha desse jeito, pimentinha?- fala com um tom de malícia.
- Nada.- coro mais ainda e viro o rosto para o lado oposto que ele está.
- Fala.- me segura pelos ombros e me vira para si.
- Tá, eu tava lembrando da primeira vez que eu dormi na sua casa.
- Agora faz sentido essa vergonha toda, você queria me ver pelado né?- começa a rir alto.
- Nada a ver.
- Sei.- diz e continuamos nosso caminho até a cachoeira em silêncio. Me sento na grama e fico concentrada na paisagem e no som da água batendo contra as pedras.
- Você não vem pra água?- grita Christopher em minha direção, quando olho ele está boiando.
- Melhor não. Estou bem assim.
- Tem certeza? A água está muito boa.- joga um pouco de água em minha direção, mas a água não me atinge.
- Tenho.- e depois disso não ouço mais nada, me perco em vários pensamentos aleatórios que surgem em minha mente.

Acho que acabei dormindo porque abro os olhos e estou sendo carregada. Espera aí, carregada? Olho em volta e quem está me carregando é Christopher, mas pra onde? É aí que me toco, ele vai me jogar na água.
- Me põe no chão!- começo a gritar e me espernear, e ele só ri alto.- Me solta, Chris!- me joga na água de sapato e tudo.
- Eu disse que a água estava boa, não disse?- diz como se eu tivesse entrado por conta própria na água.
- Você não podia ter tirado pelo menos meus sapatos?- digo saindo da água com certa dificuldade, já que minhas roupas estão molhadas e pesadas.- Como eu vou explicar pra minha mãe o fato de eu estar toda encharcada?
-É só colocar pra secar.- olho para ele com a cara mais feia do mundo. Caminho batendo o pé até chegar perto de uma pequena árvore que tinha por perto e estendo minhas roupas nela ficando apenas de lingerie.
- Não foi tão ruim assim, pimentinha.- se aproxima e eu cruzo os braços, se aproxima mais e eu viro o rosto.- Oti modeuso, não precisa ficar bravinha.- me abraça.- iti modeuso, minha pimentinha é tão bravinha.- eu não resisto, começo a rir e retribuo o abraço.- Viu como é fácil arrancar um riso seu.
- Bobo.- começo a ficar vermelha e escondo o rosto no peito dele que permanece abraçado a mim.
- O que está acontecendo aqui?- ouço uma voz grava e congelo na hora, é Charlie.
- Charlie? O que faz aqui?- me solto do abraço de Christopher.
-Nada, só vim ver minha namorada que estava abraçada a outro cara, ambos de roupa íntima.- sinto sarcasmo em sua voz.
- Ele é só meu amigo, Charlie.
- Mas não vamos esquecer que também é seu ex namorado.- olho confusa para ele.
- Você está insinuando que estamos tendo algo pelas suas costas? Ah me poupe, Charlie. Você me conhece muito bem para saber que não sou esse tipo de pessoa.- vou em direção a árvore que minhas roupas estão estendidas visto elas molhadas mesmo, calço meu sapato, pego minha mochila.- Desculpa, por isso Chris, tchau.- saio andando rápido com Charlie me gritando, ainda dá tempo de ouvir Christopher dizer " cara, você é um verdadeiro idiota..."
- Harley, me espera.- grita e eu permaneço ignorando ele.- Harley, por favor me desculpa tá?- permaneço ignorando. Um carro passa ao meu lado, começa a andar devagar e abaixa o vidro.
- Haly? O que faz aqui toda molhada? Entra eu te levo pra casa.- sem dizer nada dou a volta no carro e abro a porta do passageiro.
-Harley Castro, nem ouse entrar neste carro.- Charlie grita autoritário e eu permaneço ignorando ele e entro.
- Me desculpe molhar seu carro todo, Bryan.- digo e suspiro.
- Não tem problema, o que houve entre você e seu namorado?- pergunta, olha brevemente para mim e volta sua atenção para a estrada.
- Ele é um completo idiota, mas não quero falar sobre isso agora. Só me leva pra casa, por favor.- ele concorda com um aceno de cabeça e eu encosto a cabeça na janela tentando controlar a raiva e decepção que estão travando uma batalha dentro de mim.

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