ㅡ Sim, ele com certeza já deve estar na reunião, ao lado do seu pai ㅡ respondeu se referindo enquanto apertava o botão do alarme de segurança. ㅡ De qualquer forma, é melhor não esperarmos a boa vontade de alguém notar que estamos presos.

Após apertar o botão vermelho, ele retirou seu paletó e o estendeu no chão. Encarei a cena com estranheza e perguntei: ㅡ O que você está fazendo?

ㅡ Estou me sentando, ué, vai esperar em pé? ㅡ E falou assim, como se fosse super óbvio sujar sua roupa no chão do elevador para se sentar. Eu que não iria fazer isso.

Não que eu fosse soberbo nem nada, mas eu tinha uma apresentação para realizar e não podia me sujar de forma alguma, ou o "senhor perfeito" usaria como desculpa para afirmar que eu não estava preparado para assumir responsabilidades de liderança. Afinal, grandes líderes estão sempre impecáveis e perfeitos.

Às vezes cansava. Por isso, eu preferia estar com Jae em seu apartamento, quando ele não estava com o noivo, ou passando um tempo na Imagine com o Yoongi que nunca julgava minhas roupas, até porque nem podia, já que era o mais estranho de nós dois em questão de vestimentas. Sempre se arrumava parecendo um "rapper punk" que tinha coragem de negar um copo de água a uma mulher grávida, porém, com sua cara de filhote de gato, ou "felis catus", como eu o chamava.

Peguei meu celular e, como imaginei, estava sem sinal também. Olhei a hora, sem conseguir acreditar que já estava no tempo de a reunião iniciar. Meu pai foi bem claro, caso eu me atrasasse perderia minha oportunidade.

Bem, a culpa não era minha então pensei em explicar o que aconteceu depois de sair dessa situação, e fazê-lo entender. Ele poderia dar continuidade às outras pautas da reunião e deixar o fim para mim. Assim eu mostraria meu projeto e ficaria tudo bem.

ㅡ Você pode tentar falar com alguém no interfone? ㅡ Jimin sugeriu e a cara de abobalhado que fiz quando o olhei foi vergonhosa.

Acontece que ele estava sentado, com o rosto fino, inclinado em minha direção, e a boca avermelhada, provavelmente por causa do calor. Passava a mão na testa, para enxugá-la do suor que estava se formando ali e, não sei o porquê, mas me vi detido naquela imagem antes de ouvir sua voz novamente.

ㅡ Jungkook? O interfone… atrás de você, pode chamar? ㅡ Gesticulou com a mão em minha direção, tirando-me do pequeno transe.

ㅡ Claro ㅡ respondi com um pigarro, ficando de costas para ele, e apertando o botão para ver se conseguia entrar em contato com alguém.

Já sentiu a sensação de estar sendo observado enquanto faz alguma coisa? Era exatamente assim que eu estava me sentindo naquela hora, mas eu não era corajoso o suficiente para me virar e conferir se estava certo.

O interfone não emitia ruído algum, nem acendia os botões como de costume, mas mesmo assim tentei alguma comunicação.

ㅡ Oi, alguém aí? Estou preso com outra pessoa, no octogésimo oitavo andar já fazem uns 20 minutos. ㅡ Esperei pela voz de qualquer pessoa, mas nada ouvi. Logo um medo começou a tomar conta de mim.

Tudo que estava acontecendo era atípico demais para ter sido apenas uma queda de energia ou uma falha qualquer. Tudo bem nossos celulares estarem sem sinal, mas as luzes de emergência funcionavam por horas mesmo sem energia, o botão de alarme deveria ter acendido e levado alguém a vir falar conosco no interfone, mas nem este estava funcionando.

Era muito estranho e minha intuição, que funcionava mais como um sexto sentido, estava gritando para mim que estávamos em perigo.

Comecei a tensionar de forma tão violenta que meus músculos doíam, um tremor percorreu meu corpo e, quando me virei para encarar Jimin, que aguardava uma resposta minha, a instabilidade nas pernas me fez deslizar as costas sobre a placa metálica atrás de mim.

88° ANDAR (Jikook)Where stories live. Discover now