Capítulo 59

257 18 0
                                    

O meu cobertor era quente, pulsava sobre o meu nariz e remexia-se uma vez ou outra durante o meu sono. Demorei longos segundos para me dar conta de que o meu cobertor humano e incrivelmente confortável, era ele.

Eu estava aninhada ao corpo dele, com tão pouca roupa que o meu camisola estava acima das coxas. Eu temia que se o quarto não estivesse aquecido, estaríamos congelando. Pisquei os meus olhos com o feiche de luz que entrava pelas cortinas, e quis ficar ali para sempre. Entretanto, quando levantei a cabeça ele estava acordado, olhando para o teto.

— É bonita dormindo — ele me disse, morosamente.

Me remexi entre a coberta. A idéia de Sean me observar dormindo era inquietante. Eu sei que não deveria me importar, mas e se eu tivesse roncado ? E se eu estivesse suando ou com baba ? Passei a mão pela boca.

— A quanto tempo está acordado ?

— A pouco tempo — ele virou a cabeça, e me analisou. Então, sorriu. — O seu cabelo está brilhando.

Passei a mão entre os cabelos. Eu podia sentir o volume entre os fios desgrenhados. Me encolhi.

— Pare...De me olhar assim — pedi. Todas as poucas vezes em que dormimos juntos, ele era sempre o último a acordar.

— Isso é um pouco injusto — sua testa franziu, e ele voltou novamente o olhar para o teto. — Você também me olha, Gray.

Gray.

O que foi que disse ? — eu abri um sorriso tão largo que meus olhos quase sumiram.

— Disse, bom dia — Sean levou a mão até a minha, e a entrelaçou. — Com certeza.

Sempre fui chamada assim pelo meu pai, mas a sensação de ouvir por outra pessoa era como trazer a tona todas as lembranças da minha vó. Do seu sorriso fraco e cabelos grisalhos. Cheiro de maçã. Mas o cheiro dele era...Indescritível. E naquele momento, ele estava bem cheiroso.

— Sean — puxei os seus olhos para mim, me recordando da última coisa que eu não devia tocar sobre a sua família. — Nunca mais viu ele ? — inqueri, baixinho. — Wade .

Ele então apertou a minha mão, um pouco mais forte, e a acariciou com o seu polegar.

— Não — seu tom de voz era sério, cuidadoso. Era difícil. Eu conseguia ver. — Ele nunca mais apareceu.

Era verdade que não éramos normais. Não tínhamos uma vida completamente normal, com todas as peças. Eu nunca conheceria seu pai e ele nunca conheceria a minha mãe. Pensar sobre isso fazia minha garganta apertar.

— Eu queria conhecê-los — eu disse. — Queria...Ter um momento nervoso, como o que teve com o meu pai. E como vamos ter quando decermos para o café.

— Você seria a presa entre eles.

— Eu não me importo.

— Me desculpe por não te dar isso — ele fechou os olhos, com uma raiz de culpa. Ficamos em silêncio por longos segundos . Eu me dei conta de que o sol estava iluminando o quarto, mesmo entre as cortinas . Sorri tristemente.

— Á essa altura, a Emília já teria batido na porta. Ela me chamou de senhora, uma vez , ela...Colocava um sorriso educado no rosto e ia até janela — eu disse, como se ainda pudesse ver o traje preto em torno do corpo magro. Os olhos negros. Penetrantes e cuidadosos. — Eu sinto falta dela.

Sean virou o seu corpo de bruços e me analisou, me permitindo passar os dedos entre o seu cabelo. Havia um brilho em seus olhos.

— Você quer vê-la ?

Doce Greta Onde as histórias ganham vida. Descobre agora