Sorria

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Michael Jackson
Recanto Lancaster, Inglaterra
29 de dezembro de 1990 | 23:23

 Meu coração está acelerado... Minhas mãos tremem... Lagrimas doloridas de impotência me atingem... Deus. Jéssica estava certa. Mas eu não posso nem ajudar, uma mulher nessa situação precisa tomar coragem de sair disso sozinha ou, não vai valer a pena porque vai acabar voltando com ele e eu sinto que ela o ama. Se não o amasse por que aguentaria toda essa humilhação?

 Cubro meus olhos com às duas mãos. Esse momento horrível me leva para quando eu tinha meus 8 anos e meus pais brigavam porque minha mãe entrava na frente quando meu pai me batia sem parar. Eu estou assustado, tão assustado

 Meu pai nunca tentou de fato bater em minha mãe, mas, ele quase fazia isso. Só a ideia de ele tentar bater na minha mãe me apavorava. Eu costumava me esconder em baixo da mesa e torcia para que tudo aquilo acabasse logo. Ele ficava tão furioso, tão furioso

– Está vendo o que você me faz fazer! Isso é culpa sua! VAGABUNDA! É CULPA SUA! VOCÊ ME PROVOCA! Se fosse uma boa esposa, se fosse descente e não uma piranha eu não precisaria fazer isso – ele esbraveja – Não! Fica aí no chão porque é o lugar de piranha que não respeita o marido! Eu te dou uma vida de rainha sua vadia! – mas, que droga de homem eu sou porque eu não consigo descer daqui e acabar com ele? Por quê? Eu sou um baita covarde.

30 de janeiro de 1990
01:59

 Toda a gritaria acabou. Respiro fundo e desço bem devagar da árvore. Assim que coloco meus pés no chão, sinto minhas pernas pesar... Eu devia ter feito algo. Eu devia ter feito. Se eu não fosse um covarde. Cerro meus punhos e mordo o lábio com força

– Michael? – Marien chama por mim enquanto se aproxima – Vai dormir aqui não é? Não vou te deixar ficar duas semanas em um hotel! Vamos! Tenho um quarto preparado especialmente para você! – ela diz e começa a andar na frente. A sigo

 Pergunto-me se Marien tem ideia do que acontece com a filha dela. Será que ela é como eu? Por que, eu poderia ter feito algo e não fiz. Vou me condenar por isso para sempre. Eu devia ter feito algo! Eu devia!

 Não adianta se lamentar agora Michael, você devia ter feito algo na hora, mas não fez então, pare de se lamentar. Você foi um covarde e já passou. Na verdade, essa situação só me encorajou mais ainda. Eu vou ter essa mulher para mim!

02:21

– Este vai ser o seu quarto! E ao lado do da minha filha, aliás, ela dorme sozinha. Miguel e ela dormem em quartos separados. Ah! Michael querido! Muito obrigada por ficar e apoiar nossa causa, as criancinhas agradecem! – dou um falso sorriso a ela que se afasta e vai até à porta – Não se esqueça que o quarto da Mariangel fica ao lado direito do seu – murmura enquanto fecha a porta

 Eu vou ficar na Inglaterra por mais algum tempo. Tenho visitas aos orfanatos da família Lancaster e também tenho que visitar o Hospital Mari'Angel que cuida de crianças carentes. Eu não iria dormir aqui, mas, a Marien insistiu um pouco e para mim, foi perfeito! Assim fico mais perto de Mariangel

 Tiro meu paletó e o deixo em cima da cama. Vou até a minha mala e pego meu pijama. Escuto um choramingo... É no quarto de Angel... Será que devo ir até lá? Como vou olhar na cara dela depois do que eu deixei acontecer? Eu não posso

– É minha culpa, minha culpa – ela diz entre suas lagrimas doloridas. Não, não é sua culpa Angel. Nada disso foi sua culpa você não fez nada, minha rainha tão linda. Não tem culpa de ter esse maldito em sua vida, não tem

 Quer saber? Eu vou lá! Ando em direção a porta do meu quarto. Abro. Saio e fecho devagar. Ando até a porta de Mariangel. Posiciono-me na frente. Respiro profundamente. Bato devagar na porta. O choro para. Um silêncio se instala

– Por favor Miguel, me perdoa eu não queria te deixar bravo. A culpa é minha eu não devia ter olhado para nenhum lado  – ela chora – Não me bate mais eu já aprendi, não vou fazer mais, não me bate mais hoje por favor. O meu nariz não para de sangrar e eu não consigo enxergar do olho direito, ta inchado e doendo, por favor não me bate mais hoje você vai me matar – ela chora mais alto

 Sinto um nó na garganta. Meu peito se aperta... Bato novamente e ela chora mais alto. Seu choro me atinge no peito como uma faca bem afiada. Vamos lá Michael você precisa se acalmar não vai conseguir ajudar ninguém desse jeito

Se você sorrir com o seu medo e tristeza... Sorria e talvez amanhã você verá que a vida ainda vale a pena. Se você apenas acender o seu rosto com alegria, ocultar todos os vestígios de tristeza – fecho meus olhos e canto com todo o meu coração – Embora uma lágrima possa estar sempre tão perto, esse é o momento que você deve continuar tentando. Sorria para que serve o choro? – abro meus olhos e olho para o chão – Você verá que a vida ainda vale a pena. Se você apenas... Sorria... Ainda que seu coração esteja doendo... Sorria mesmo que ele esteja partido, quando há nuvens no céu... – olho para cima para conter as lagrimas – Você sobreviverá se você sorrir. Através do seu medo e tristeza. Sorria e talvez amanhã você verá que a vida ainda vale a pena... M a r i a n g e l... Sorria – finalizo com o máximo de perfeição que consigo nesse momento

 A porta se abre bem devagar. Ela coloca metade do rosto a vista. Ela parece bem... Ela aparece por completo... Deus... O olho dela esta roxo e tão inchado. Abro um sorriso para ela que abre aos poucos um sorriso também. Um sorriso lindo... Fazendo com que meu coração se parta em mil pedaços. Ela realmente finge um sorriso perto dele e diante de todos.

Latente | Michael JacksonOnde as histórias ganham vida. Descobre agora