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Shawn foi chamado para atender dois pacientes, vítimas de um acidente de carro, e até eu dormir, ainda não tinha chegado.
Abro os olhos de manhã e o encontro dormindo profundamente ao meu lado. Faltam quarenta minutos para o despertador tocar. Tudo o que eu mais queria era aproveitá-los dando alguns amassos com o som dos pingos de chuva batendo contra a janela como música de fundo, mas, por seu ronco baixinho, imagino que esteja cansado. Então, ao invés de acordá-lo, passo alguns minutos apenas admirando sua beleza, antes de me levantar e sair da cama de fino.
Recebi meu primeiro pagamento há uma semana. Me sento à mesa de mogno, com uma agenda que comprei especialmente para isso, planejando somar o valor das compras que fiz com o cartão de crédito dele nos últimos meses. Depois de repetir o processo algumas vezes, escancaro a primeira gaveta à procura de uma caneta e o que encontro me inquieta. Há duas noites percebi que o príncipe tinha enfiado o livro que estava lendo na gaveta assim que entrei no escritório, mas eu estava tão nervosa naquele momento que não parei para pensar demais no assunto.
— Camila? — Escuto seus passos no corredor e pego o que eu queria, mantendo a gaveta aberta.
— No escritório. — respondo, preenchendo o cheque com um aperto estranho no peito.
Por que o guardaria em vez de simplesmente colocá-lo sobre a mesa? Será que não queria que eu visse?
Shawn passa pela porta vestindo um jeans claro e uma blusa branca e simples de mangas compridas e decote V, que vai completar com a jaqueta com estampa do exército que está segurando. Tão bonito que quero prendê-lo em cárcere privado.
— Bom dia. — Me beija sentando-se à ponta da mesa.
Os olhos recaem quase que imediatamente para a gaveta e me dou conta de que, no dia em que eu perguntei, Shawn não me respondeu se havia lido.
— Finalmente se rendeu à curiosidade?
Ele se levanta com o livro e o coloca de volta na estante sem responder, mas eu insisto.
— Gostou da história da modelo? — pergunto para as suas costas.
— Não, eu não gostei. — responde fechando a porta de correr e, sabendo que biografias não fazem seu gênero, nem discuto.
— Também não despertou meu interesse o suficiente para que eu terminasse no dia em que o folheei, mas acho a Milena muito bonita.
— Ela não é mais bonita que você.
Reviro os olhos.
— Especialmente por dentro.
— Como você pode saber? — Não resisto em erguer a sobrancelha, mesmo sabendo que não tenho motivos nenhum para ter ciúmes de uma celebridade, mas em minha defesa, a magnitude da beleza dela é daquelas que desconcerta qualquer reles mortal como eu, que está namorando com um homem que tem uma beleza igualmente desconcertante. Fica nítido que estou incomodada e me sentindo inferior.
— Ninguém consegue ser mais bonito que você por dentro. — frisa abrindo um meio sorriso, voltando a sentar-se à mesa. — Essa é a única beleza que realmente importa, Camila, a interior.— fala com propriedade, como se estivesse pensando em alguém em específico que não a tem.