Shawn

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Estou sentado na bancada da cozinha do apartamento número oito, levanto uma garrafa de cerveja pela metade até os lábios, pensando em um romance e folheando a esmo outro, no qual não consigo mais me concentrar, quando de repente a porta se abre.

— Estou te ligando há quase quinze minutos, caralho!

Ralho soltando o livro na bancada. O mais irônico? A protagonista dele fez escolhas ruins bem parecidas com as da Camila. Ela também se apaixonou por alguém que teria que viver muitas vidas para se tornar digno dos seus sentimentos. Estou torcendo para que fique com o melhor amigo no final, é o único que presta nessa merda de história.

— Estava em uma reunião com nosso contador — conta Gael, me arrancando daquelas páginas brancas e dos meus pensamentos. Odeio páginas brancas, a propósito. — Puta que pariu, que homem chato! 

Ele tira o paletó e o pendura nas costas da cadeira, erguendo as sobrancelhas de modo questionador quando repara o que tenho na mão, algo que inclusive era o que eu tinha ido procurar no nono andar. 

Por que não parei de folga e passei no mercado no caminho de casa? Se tivesse feito isso, não estaria me sentindo culpado, ansioso e incomodado depois de assistir como o relacionamento daqueles dois funciona. Quem bate em alguém para a namorada assistir como se fosse um maldito espetáculo? 

Odeio ter ficado com a impressão de que o cara é abusivo com a Camila.

— Roubando cerveja, Shawn? Por acaso, está pegando a mania feia da Bruna? — pergunta. Inferno! Ainda tem mais essa. Quando ele souber aonde eu larguei a namorada dele, vou levar uma surra.— Por que está com essa cara de quem fez merda, bambino

— Porque eu fiz. Na realidade, o papai fez. História longa que eu não tenho tempo para contar. 

Se tivesse, também não contaria.

— Leo se meteu em problemas.

— E desde quando isso é novidade? — Revira os olhos, mas o tom é preocupado. — O que foi agora? — Gah abre os punhos da camisa e dobra as mangas escutando meu resumo rápido do que acabou de acontecer no andar de cima e, como não parece surpreso, suponho que minha cunhada não tenha perdido tempo em fazer fofoca sobre o que anda rolando entre mim e a vizinha de porta. 

— Sobe lá, Gael.

— Largou minha ragazza para apartar a briga, seu idiota? — Gael me dá as costas e abre a porta com um puxão raivoso, tomando um baita susto quando é atropelado por um ursinho. Só não é um dos carinhosos. — Você está bem, Bruna?

— Eu? Eu estou ótima, amor — responde empurrando a porta com a lateral do corpo. — Mas não posso dizer o mesmo do Leonardo. — Um sorrisinho espreita seus lábios enquanto arrasta nosso irmão para dentro pela manga da camisa ensanguentada. 

— Que porra é essa? — exijo saber, encarando de maneira horrorizada seu olho esquerdo completamente fechado e o sangue escorrendo em um filete dos lábios cortados. 

— Um recado para você — responde, se jogando na banqueta ao meu lado.

— Ele ainda está no prédio? 

Leo me senta de volta na banqueta, soltando um gemido.

— Essa história já está resolvida.

THE PRINCEWhere stories live. Discover now