Capítulo XXII

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ANNABETH

Percy anda agindo genuinamente estranho, mas hoje, ele havia conseguido se superar. O treino está sendo ótimo e ele está com uma concentração monstruosa, mas fala muito pouco enquanto treinamos, não que Percy seja um tagarela, mas ele gosta de fazer piadas e provocações.

Hoje estamos sem piadas e as provocações simplesmente não existem e eu reluto em admitir mas estou sentindo falta do seu humor e flertes, me acostumei a rir muito mais do que costumava rir durante os treinos e também a me sentir muito mais leve também, parecia que tudo era fácil com Percy, fácil e divertido, ele conseguiu persuadir aquela nuvem negra que eu sinto sobre minha cabeça sempre que penso em meu antigo relacionamento a sair de perto de mim, pelo menos quando estamos juntos. Quando estamos juntos, não existe nuvem negra alguma, mas hoje, eu consigo senti-la por perto, rondando, apenas esperando a oportunidade de ganhar espaço.

Estou deduzindo que sua quietude é devido a proximidade do jogo, mas continua sendo estranho, ele não ficou assim durante o último jogo. Será que esse oponente é mais difícil que o outro? Percy é tão apaixonado por hóquei quanto eu sou por patinação artística, é fofo a forma como ele se empolga falando sobre o assunto. As vezes falo sobre apenas para observar sua empolgação.

Olho em direção a treina Ártemis e noto que ela está conversando com um outro treinador da universidade, aproveito o momento como uma brecha.

- Ei, Percy? - o chamo segurando em sua camisa e ele para no meio do giro que estávamos fazendo, me olhando sem entender.

- Fiz algo errado? - Quase sorrio, Percy estava melhorando muito rápido e não faltava muito para que ele se equipare ao nível de Luke, era assustadora sua evolução, mas creio que grande parte dela advém dessa pergunta, "Fiz algo errado?". Luke nunca me pedia ajuda.

- Não, não fez. Está tudo bem? - pergunto logo, com medo de perder a disposição para aquela pergunta e ele me observa por um tempo antes de me responder, como se debatesse consigo mesmo a resposta para aquela pergunta.

- Sim, está tudo bem, por quê?

- Você está quieto hoje, é algo com o jogo? - Na mesma hora ele responde agora.

- Sim, é algo com o jogo, quero terminar essa temporada com o time invicto, sabe? - ele diz passando os dedos pela nuca e eu assinto, admirada com sua ambição.

- Isso é bastante coisa, achei que o título era suficiente.

- O que você acharia de ganhar o nacional depois de ter ficado em primeiro lugar em todas as fases?

- Eu... - Tento me colocar nesse cenário e percebo que me encho de uma vontade surpreendente de fazer isso, algo que eu nem sabia que queria, mas agora quero. Quero ganhar o nacional de lavada e... - Nossa. - Pisco um pouco atordoada agora e olho para ele em seguida. - É isso que você sente o tempo inteiro? - seus olhos pousam sobre o meu e eu já não preciso que ele me responda, mas mesmo assim ele o faz.

- Vinte quatro horas por dia, sete dias por semana. - Ele responde um sorriso pequeno, do tipo que não mostrava suas covinhas e eu assinto devagar, absorvendo aquela minha nova ambição particular.

- Queria poder fazer isso. - Admito mordendo minha bochecha por dentro e ele assente devagar, soltando o ar.

- Vamos nos esforçar para isso. - ele diz simplesmente e eu sorrio um pouco agora, passando minhas mãos uma na outra e, em seguida, bato uma palma na outra.

- Bem, vamos continuar então. Levantamento, depois me solta girando no ar. - digo começando a patinar e o ouço resmungar atrás de mim, mas suas reclamações nunca eram sérias, ele nunca ficava emburrado como Luke costumava ficar, e nem tentava impor sua opinião, sempre era, de fato, uma opinião. Não uma imposição.

Não sei porque comparo tanto os dois.

Olho por cima do ombro rapidamente e diminui um pouco a velocidade, ainda estamos com dificuldade nisso, sinto que Percy havia tem medo de deixar cair de cara no chão, não posso culpa-lo por isso, mas talvez sua concentração diferenciada do dia ajude.

Sinto suas mãos em minha cintura e ignoro a forma como o toque dele era firme, mas ao mesmo tempo, muito delicado. Damos um giro de meia lua juntos e em seguida, ele me ergue no ar, desde o momento que ele me tira do chão, até o momento que o sinto exercendo força para que eu gire no ar, eu sabia que ele havia conseguido, eu giro no ar e pouso no gelo em um movimento praticamente perfeito e, como sempre caio virada para ele, eu consigo ver o sorriso em seu rosto, o sorriso que mostrava as duas covinhas em suas bochechas e enchia seus olhos verdes de brilho. Acho que eu estava com aquela mesma felicidade estampa no rosto, tanto que a próxima coisa que faço, não é continuar o movimento, é correr até ele e abraça-lo, rindo, rindo muito mesmo.

Sinto ele deslizar um pouco no gelo, mas retribui o abraço da mesma forma, eu estava praticamente soltando gritinhos de alegria e euforia enquanto ele dava risada da minha situação, eu adorava isso em Percy, quando eu ficava feliz com algo ou algum desenvolvimento, ele parecia ficar feliz de verdade por mim, não era por educação, eu sentia que ele realmente se sentia feliz por mim, isso me deixava quase surtando de felicidade.

- Você conseguiu! Não acredito nisso, foi tipo, perfeito, você conseguiu! - digo praticamente atropelando minhas próprias palavras e ele faz uma careta.

- Não acredita? Gata, quanta fé você coloca em mim? - ele pergunta zombando da situação e se possível, o sorriso em meu rosto alarga. Ele fica confuso. - O que foi?

- Você fez uma piada.

- Eu sempre faço piadas. - constata.

- Não tinha feito nenhuma hoje. - Ele parece surpreso por eu ter percebido e eu noto.

Eu realmente noto o exato momento que seu olhar cai diretamente sobre minha boca, noto quando seu pomo de adão oscila em sua garganta e quando sua mão aperta minha cintura, me tornando consciente de novo do toque que eu havia tentado ignorar pouquíssimo tempo atrás. Porém, não é isso que me surpreende, me surpreende quando eu percebo que também estava olhando para sua boca e me perguntando como seria beijar ele agora, eu ia gostar? Ele ia gostar? Eu havia acabado de terminar um relacionamento, isso é tão importante assim? Já beijei outra pessoa, seria apenas mais uma outra pessoa que eu beijaria, afinal, estou solteira. As perguntas me deixam zonza por um segundo, mas a ideia do que aquela boca faria na minha continuava muito ativa em meu cérebro. Quando percebo ele se aproximar mais um pouco, percebo que aquele nervosismo que eu senti quando beijei um garoto na balada não existia, se eu pudesse comparar, eu diria que aquele garoto era algo que eu experimentei cheia de hesitação, já Percy... Percy eu ia experimentar como quem está com fome. Só um beijo, ia ser só um beijo...

- Ei, vocês dois! - Ouço a voz de Ártemis a alguns metros de distância e me afasto tão rápido de Percy que, se ele não tivesse me segurado pelo braço, eu ia cair direto no gelo. - Parem de flertar e voltem para o treino.

- Não estamos... - Começo, mas Percy me interrompe.

- Já estamos voltando.

Se possível, ele ficou ainda mais quieto durante o restante do treino.

Wonder | PercabethTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon