Vinte e um

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Na segunda-feira, na aula de português, me sentei ao lado dos meus amigos. Lucca no meio e eu e a Isabella aos lados.

Agora, pelo resto do nosso último ano do ensino médio seriamos nós três. E eu faria o máximo possível para não precisar lembrar do Aslan. Mas droga, sempre alguma coisa me fazia lembrar dele, mesmo que não fosse minha vontade.

Como a mesa do auditório que o Lucca havia convidado ele para nossa dupla sem sequer meu concedimento. Ou a sala de aula na qual dividimos o mesmo espaço fazendo a prova de matemática, ou a quase interminável prova de sociologia que colamos. Como também de um dia que o Aslan e o Lucca fizeram uma aposta para saber quem conseguiria andar de bananeira.

Eu poderia fazer qualquer coisa no meu mundo, mas sempre lembrava do contato que tive com o mundo dele. E isso era o que péssima. Eu não queria em hipótese alguma precisar lembrar dele. Se ele queria ir para longe e dessa forma não precisar lembrar de mim, tudo bem, era a escolha dele.

Até o momento havia se passado apenas duas luas, e ainda faltavam noventa e uma. E eu nem mesmo sei por qual motivo ainda ficava pensando naquelas malditas luas, mas, elas estavam presas em minha mente.

Na última aula do dia, eu precisava tirar umas dúvidas com o professor de filosofia, mas, estava um barulho infernal na sala. Cada um falava uma coisa diferente. Era como se ninguém ligasse para a presença do professor na sala – infelizmente era algo que acontecia sempre na última aula do dia.

— Vocês podem fazer silêncio, por um segundo? – Pedi quase gritando para a sala inteira.

Algumas pessoas ficaram caladas olhando para mim. Muitos não sabiam o que dizer. Ficaram surpresos por ter me visto tomando uma atitude como aquela pela primeira vez na vida. Se fosse a uns sete meses atrás eu nunca faria aquilo.

— Gente, silêncio, apreciem a voz maravilhosa dela. – Disse Camila, do final da sala. — Todos pensamos que o Paulo havia arrancado sua língua fora, porque depois que vocês terminaram, você parou de falar.

Poderia ter sido qualquer pessoa a falar naquele momento, mas pelos raios, tinha que ser justamente a Camila. Ela me odiava. E eu nunca entendi o motivo por ela me odiar. Tudo bem que atualmente ela era a nova namorada do meu ex namorado, mas eu não ligava para o que eles faziam ou deixavam de fazer.

— Sem tempo para você, Camila.

Ela fez uma afeição de surpresa quando eu a retruquei. Pelo que pude perceber, ela não esperava mesmo que eu falasse algo naquele momento.

Sempre todos falaram qualquer coisa sobre mim ou para mim e eu quase nunca revidava o que falavam, mas eu não aguentava mais aquilo. Se eu precisava surtar uma única vez na vida e dar uns tapas na cara de alguém o momento era aquele.

— Não sabia que você sabia falar, pelo menos mais que duas palavras ou três. – Disse Camila bocando uma bola de chiclete em sua boca. — Vai cantar para o bebê da grávida quando nascer? Quer dizer, soube que o pai dela não vai nem querer ver o neto pintado de ouro.

Eu olhei para a Isabella, que havia redobrado sua atenção olhando para a Camila. Tentei fazer contato visual com ela, mas sem absoluto sucesso.

Eu não queria mais dar corda para a Camila, mas sentia que precisava defender meus amigos. Defender a Isabella. Eu tinha que fazer aquilo.

— Que tipo de ser humano é você garota? - Perguntou Isabella levantando-se da cadeira. — Se contenta tando em sr a porra burguesa idiota, e aumentar sua fama de merda no colégio, por que tudo mundo sabe que você é como um lixo radioativo.

Alguns risos frouxos começaram a brotar de todas as direções da sala. Camila parecia estar furiosa. Eu sentia que ela não havia resposta para aquele argumento da Isabella. Talvez no fundo ela soubesse que realmente era tóxica. Tinha quase certeza que ela sabia daquilo.

Prazer, AslanWhere stories live. Discover now