Dez

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Conceitos sobre Aslan Grasso:

Tinha 17 anos.

Tinha nome do leão Aslan, do livro As Crônicas de Nárnia.

Filho único.

Não trabalhava.

Tinha pais maravilhosos.

Era portador do vírus do HIV.

Eu não podia contar para ninguém. Por que eu sabia que era um segredo de família. Um segredo dele. Do Aslan. E eu não tinha o direito de contar para alguém.

No jantar, eu estava calada. Apenas brincava com a comida. Passava de um lado para o outro do prato. Meus pais haviam percebido minha face ainda espantada, mas eles não perguntaram o motivo. Eles sabiam que havia acontecido algo, mas quiseram dá um tempo para mim. E mesmo sem dizer nada, eu agradeci a eles.

Quando terminamos o jantar, me dirigi ao meu quarto. Meus pais ficaram na sala assistindo a um filme. Me sentei na cama olhando fixamente para a porta, a qual nem fechei direito. Eu ainda estava um pouco aérea.

Tudo bem que sempre imaginamos o HIV como uma doença terminal se é que posso mesmo chamar de doença. E, ser soropositivo não é mais uma sentença de morte como nos anos 80. A pessoa portadora, seria uma completa invalida para o resto da vida. Mas, eu não queria acreditar nisso, eu sabia que o Aslan não iria conseguir ser esse tipo de pessoa, que se deixa levar por uma doença ou limitação.

Cinco minutos depois de concluir meu pensamento sobre as possíveis limitações que o Aslan poderia ter, peguei meu notebook, abri o site de pesquisa que sabe de tudo, e comecei a pesquisar tudo que eu precisava para entender mais sobre aquilo que ele tinha.

Antes de tudo, entendi que, HIV é vírus, AIDS é a complicação do vírus. E mesmo não tendo cura, os portadores do vírus costumam a tomar remédios que retardam o avanço do vírus para que enfim não vire a temível AIDS.

AIDS ataca o sistema imunológico do portador – isso explicava o motivo da mãe do Aslan ser tão paranoica. Se o sistema imunológico dele estiver baixo o suficiente, ele poderia acabar morrendo, por que vulgarmente dizendo, a AIDS faz isso.

Não queria pensar como o Aslan acabou contraindo o vírus, isso não seria da minha conta, mas o que não saia da minha mente era meu ato imbecil de não ter sido ombro para ele quando ele precisava de mim.

Naquele sábado, horas mais tarde, eu adormeci rapidamente.

Meu corpo adormeceu, mas minha mente não. Acabei acordando três vezes durante a noite, e em toda vez que dormia novamente acaba sonhando com o Aslan, e isso me deixava confusa.

No primeiro sonho, eu estava no velório dele.

No segundo sonho, eu estava segurando a mão dele numa cama de hospital.

Pelo último sonho, eu estava em casa, e o Aslan usava terno preto, e dizia: "Eu prometi que iria está com você em todos os momentos". Não, não era nosso casamento, mas era alguma comemoração. A gente não precisa casar para poder prometer algo como isso, você só precisa de importar com alguém.

Quando enfim despertei dos meus desatinos noturnos, fui contagiada por uma alegria estranha. Aquilo me convidou a viver aquele dia. E eu amei aquela inspiração. Amei todos os detalhes daquela manhã. Pedi para o papai me ensinar como fazer coop-cake de cenoura com chocolate. E ajudei mamãe com a bordar uma toalhinha para meu futuro irmão ou irmã.

Prazer, AslanWhere stories live. Discover now