Dois

218 98 160
                                    

Acordei exatamente às nove horas da manhã de domingo. Levantei da cama, rodei um pouco dentro do quarto, e depois deitei novamente e voltei a dormir. Horas depois minha mãe bateu na porta do meu quarto para me acordar.

— Helena, o almoço está pronto. Acorde e venha comer.

Levantei-me, escovei os dentes, tomei um banho e fui almoçar.

 Meu pai tinha feito alguma coisa com molho branco, mas eu não conseguia identificar o que estava por baixo do molho. Eu nunca consigo saber nada que meu pai faz na cozinha. Era quase sempre uma coisa mirabolante e diferente. E, minha única tarefa era comer e dizer que estava bom mesmo às vezes não estando.

Meus pais sorriam, e sorriam também com os olhos, eu achava estranho, por que desde sábado eles estavam agindo daquela forma. Já estava ficando enjoada com aquilo. Era uma inundação de amor para uma casa pequena. Foi quando mamãe olhou para mim e sorriu. Eu pensei que raio está acontecendo aqui?

— O que aconteceu? – Perguntei enquanto ela olhava para mim. — Eu juro que não aguento mais essa coisa estranha que vocês dois estão fazendo desde ontem.

— Adivinha. – Respondeu ela.

— Ganhamos na loteria? – Ela acenou que não. — Vamos viajar para Montreal? – De novo acenou que não. — Está gravida? – Perguntei e dei uma risadinha sem graça. E ela não respondeu mais nada. — ESTÁ GRÁVIDA?

— Nossa família vai aumentar querida.

Eu não esbanjei reação alguma. Fiquei intacta e pasma. Meus pais sorriam, e eu estava inerte. Tudo bem se eu ganhar um irmão ou irmã. Mas eu achava tudo bem estranho. Mamãe já tinha uma idade avançada e ter um filho tardiamente talvez fosse complicado.

Depois de uns vinte segundos, dei um sorriso muito grande e levantei para abraçá-los. Pude perceber que eu ter um irmão seria bastante legal. Todas as minhas possíveis preocupações sumiram.

— Vocês sabiam que existe preservativo? – Falei dando um riso sem graça. Eles deram de ombro.

Lá no fundo, eles sabiam que eu havia gostado da notícia.

Depois do almoço, ajudei meu pai a lavar os pratos, enquanto mãe estava sentada mexendo no seu celular. Ouvimos três batidas na porta, e para minha não surpresa, era o Lucca. Ele tinha chegado mais cedo do que o previsto. Ele ficou conversando com minha mãe, enquanto eu e papai estávamos ocupados na cozinha.

Domingo era nosso dia especial de assistirmos comedia. Qualquer tipo de comédia. Americana, nacional, comedia romântica, comedia dramática, mas tinha que ser comédia. Era lei.

Depois de terminar minhas obrigações, chamei o Lucca para o meu quarto e começarmos nossa maratona. Primeiro debatemos qual seria o filme que iriamos assistir, estávamos entre De Volta Pro Futuro ou Aristogatas. Acabamos assistindo Quem Vê Cara Não Vê Coração.

Em plenos quinze minutos de filme, Lucca respira fundo, e eu já conhecia aquele típico sinais dele. Quando ele respirava fundo sabia que ele queria conversar sobre algo.

— O que foi? - Perguntei mesmo sem olhar para ele.

— Nada.

— Tem certeza?

— ...

— ...

— É que, como te falei ontem, eu tive que ir com aquele garoto novo até o colégio para mostrar o espaço a ele. – E então, Lucca começou. — Perguntei o nome dele três vezes, por que ele fala baixo e eu não sou obrigado a ficar descobrindo códigos sonoros. – Respirou e continuou. — No início pensei que ele tinha algum problema, mas depois percebi que ele é apenas tímido. Nada contra os tímidos, mas ele me dava nos nervosos, acho que pelo simples fato dele não falar nada, tudo estava bom e perfeito para ele. Ele deveria estar odiando o incrivelmente entediante passeio pelo nosso chato colégio. – Ele arqueou as sobrancelhas, isso significava que se lembrou de algo. — E quando terminou a visita, até conseguimos rir um pouco e descontrair, mas tudo bem normal.

Prazer, AslanWhere stories live. Discover now