Dezesseis

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Cinco minutos depois, senti vontade de ir no banheiro.

Onze minutos depois senti fome.

Eu realmente não estava entendendo sistema naquele momento.

Era aproximadamente onze e cinquenta e cinco da noite. A alguns poucos minutos viraríamos o dia e a estação.

Poderíamos ver tudo diferente quando amanhecesse. Poderíamos ver dois sois. Um arco-íris reluzindo na relva da manhã. Provavelmente não veríamos nada de diferente. A Isabella havia dormido agarrada ao sinto de segurança. Eu a observava, e de fato, ela era um anjinho que todo mundo diz ser. O Lucca talvez estivesse dormindo também. Conseguia ouvir o seu ressonar.

A cada minuto ficava mais silenciosa a viagem.

O Aslan permanecia concentrado na estrada sombria. E, às vezes, de relance, via ele espiando para mim pelo retrovisor do carro. A frase que ele havia me dito ainda rodava em minha cabeça, o que me deixava inerte. De fato, o Aslan mexia comigo, mesmo não querendo.

Como no dia que ele apareceu na minha casa no sábado, em desespero. Ou como na primeira vez que o vi. Como na vez que sentamos no mirante da cidade, e o vento parecia obedecer a ele.

Mas, o que ele pensava? O que ele quis dizer com aquela frase? O que ele quis dizer que essa viagem era o último item de sua lista? Por que ele não falava o que queria de uma vez por todas?

E eu, o que eu sentia por ele? Eu tenho guardado tanta coisa sobre tudo. Sobre tudo que tenha haver com ele. E quem liga? Possa ser que eu só esteja confusa. Possa ser que eu esteja gostando mesmo dele. De tanto aprender sobre o mundo, eu acabo esquecendo como funciona isso. Como funciona todas essas nuances de sentimentos.

Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo. Ele estava muito bagunçado com o vento da janela.

— Você fica bonita de cabelo prezo.

— Você deveria estar prestando mais atenção na estrada.

— E estou, pelo menos estou tentando.

— Está com sono? – Perguntei.

— Precisamos chegar em Pedra Rasa pela manhã.

— Se você chegar cansado, não vai conseguir realizar seu último item da lista.

— Odeio quando seus argumentos estão certos.

Percebi que ele estava olhando mais atentamente a estrada. Até ao longe, ver uma placa imensa de um posto de gasolina vinte e quatro horas. Ele entrou no território do posto, e estacionou o carro ao lado de uma loja de conveniência.

Era um lugar bem simples por fim de contas. O estacionamento cravejado de calcário e britas fazia um som nostálgico quando o pneu do carro passava por cima.

Uma grande construção ficava ao norte, onde se dizia humildemente conveniências. Era um prédio vermelho e cinza com uma grande porta de vidro e uma imensa vidraça tomando a frente aos lados da porta. Aquele sem dúvida era a loja de conveniência mais linda que eu já havia visto.

Aos lados do carro, estávamos cercados por imensos caminhões. Carretas longas que eu podia jurar que tinham quase três quilômetros de extensão cada um.

O carro foi desligado, e um suspiro profundo foi expelido pelo Aslan. Ele apoiou o rosto no volante ativando e produzindo um barulho quase estridente da buzina e enfim pode dizer disse:

— Saímos cedo amanhã, tudo bem? Assim conseguiremos chegar cedo em Pedra Rasa.

Eu não o respondi, apenas fiquei o olhando. Ele estava cansado. E com sono, com certeza. Me aconcheguei no banco e ele fez o mesmo. Fechei os olhos, mas não dormi. Pela primeira vez fiquei imaginando a loucura que estávamos fazendo. Eu nunca havia feito nada daquilo, e por um momento me senti viva.

Se sentir vivo realmente é uma das melhores coisas da vida.

— Boa noite, Helena. - Disse o Aslan baixo para não acordar Lucca e Isabella.

"Boa noite, Aslan. Dorme bem, e, se tiver um pesadelo, grita, que iremos tentar te ajudar. E, antes que eu esqueça, essa está sendo a melhor viagem de toda a minha vida, e realmente você estava certo. E mesmo que tudo dê errado depois, valeu a pena. E com certeza no meu calendário das minhas melhores memorias estaria cada momento daqui. Me sinto bem com vocês aqui. Com você".

Era isso que eu queria dizer a ele, era isso que eu imaginei em dizer a ele. Mas mesmo assim, não falei.

— Boa noite, Aslan. – Falei por fim.

Não lembro se demorei muito tempo para conseguir pegar no sono. Só consigo lembrar de sentir a Isabella se apoiar um pouco em mim para se sentir mais confortável. O que na verdade iria tirar o meu conforto, daria um ótimo jeito para ela conseguir dormi aquela noite.

Mas, de uma única coisa eu sabia, minha coluna não seria mais a mesma depois daquela noite.

Prazer, AslanWhere stories live. Discover now