Nove

95 52 7
                                    

Fui acordada no outro dia pelo meu telefone como de costume, mas não era o alarme e muito menos era a hora que eu deveria acordar. Alguém me ligava as quatro e quarenta e sete da manhã, e quando consegui enfim achar meu celular no quarto escuro, a ligação havia encerrado.

Olhei a notificação da chamada pela tela de bloqueio do celular, era uma ligação do Aslan. O mesmo garoto que eu havia beijado a menos de quinze horas atrás.

Mas, quem em sã consciência ligaria para outra pessoa pela madrugada? Eu esperava que ele tivesse um motivo muito importante mesmo. Todas as vezes que eu acordava de madrugada ficava com um mal humor infernal.

Comecei a digitar uma mensagem de texto no mesmo momento, mas, antes mesmo que eu conseguisse digitar a terceira palavra, ele me ligou novamente.

– Se você não tiver um bom motivo eu vou ficar com um incrível e catastrófico mal humor durante o dia todo.

Eu juro que pensei em não fazer isso, mas não consegui dormir. - A ligação falhava um pouco, e algumas palavras eu não conseguia entender direito. – Eu estou na porta da sua casa, e eu preciso gentilmente te sequestrar.

Sequestrar?

– Se arruma, temos um ônibus para pegar daqui a pouco mais de quinze minutos.

Ele desligou a ligação.

Primeiro, ele só poderia está blefando.

Segundo, que raio de pensamentos meus pais poderiam dizer caso eu chegasse a eles e falasse: preciso sair agora de madrugada com um garoto, não me achem irresponsável, mas eu precisaria ir.

Terceiro: Como e por qual motivo eu seria contagiada por aquele sequestro.

Eu tinha certeza que minha mãe estaria no seu décimo terceiro sono. Mas mesmo que eu fosse sair escondida, seria flagrada pelo meu pai. Ele todos os dias acorda cedo para ir para o restaurante. Então provavelmente ele estaria naquele exato momento se preparando para sair cuidadosamente da cama sem ter que precisar acordar a madame sono.

Minha coluna estava doendo. Como se milhares de manadas elefantes tivessem feito um espetáculo de dança por cima de mim. Mas na verdade eu apenas dormi de uma maneira completamente errada – o que quase sempre acontecia comigo. Fiz um pequeno e curto alongamento e então comecei a arrumar minha mochila.

Peguei algumas coisas que poderiam ser importares para um gentil sequestro. Abri a porta do quarto lentamente e entrei no banheiro. Que por sorte um era de frente para o outro. Tomei um banho rápido, amarrei meu cabelo com um forte rabo de cavalo.

Quando terminei de me arrumar, peguei meu celular em cima da pia e haviam duas mensagens.

Aslan [05:00]: Agora faltam dez minutos.

Aslan [05:00]: Ps. Aqui fora está muito frio, então, trás um casaco.

Eu não o respondi, se eu quisesse mesmo ir, não poderia perder tempo nenhum.

Caminhei em direção a sala de estar aos poucos, como uma formiga, sem apresentar barulho algum. Uma mochila nas costas, os sapatos nas mãos e vinte reais no bolso da calça jeans.

Quando consegui enfim avistar a porta, pensei que pela primeira vez meu plano deu certo e que eu estava preparada para fugir de qualquer lugar. Me sentia como uma espiã quando tenta invadir um museu de artefatos antigos e valiosos que a segurança fosse em nível internacional.

Mas a única coisa que eu não contava era com a presença inesperada do meu pai sentado na banqueta da cozinha tomando café e me olhando.

Olhei para ele e dei um sorriso tosco e desconcertado. Não sabia o que passava pela mente dele naquele momento, mas, de uma coisa eu estava certa, precisava inventar uma desculpa ótima. O Lucca sempre dizia que minhas desculpas eram na verdade, mentiras, e que um dia iria virar uma gigantesca bola de neve e eu morreria sufocada nela.

Prazer, AslanWhere stories live. Discover now